28/05/2009

Rocher Rouge

Rocher RougeEric Borg (argumento)
Michaël Sanlaville (desenho)
Casterman/KSTR (França, Janeiro de 2009)
191 x 278 mm, 120 páginas, cor, capa cartonada
Resumo
Seis jovens ocidentais – Erwin, Eva, Steph e Marion, JP e Pauline – chegam a uma ilha paradisíaca tropical – aparentemente – deserta, para passarem três dias de “sea, sun & sex”, entregues a si próprios e à natureza virgem. O que eles não sabem é que o folclore local a indica como moradia do Maboukou, uma espécie de símio lendário, com mais de três metros de altura, conhecido por decapitar e comer a cabeça das suas presas…

Desenvolvimento

E é exactamente isso que nos é mostrado, nas páginas iniciais do livro, num flashback de poucas páginas, datado de 250 anos atrás, quando um marinheiro, perseguido por piratas (?) desembarca na ilha…


Depois, começa o relato propriamente dito, passado na actualidade. Relato, que, à partida, parece construir-se como uma (interessante) história sobre relacionamentos de jovens (abastados, o que não é indiferente para o caso…) naquela fase nebulosa (cada vez mais tardia…) entre a saída da adolescência e a entrada na idade adulta. Relato que, no entanto, acaba por se transformar num conto de puro terror (género sem grande tradição na BD franco-belga, diga-se de passagem), com desfecho surpreendente que, pela segunda vez na história, altera, reinterpretando, os dados em jogo.

Entre os seis jovens, há dois casais, mais ou menos estabelecidos, e boas relações de amizade (não só, como se verá…). Mas a aparente harmonia entre todos, esconde tensões, relacionamentos mal resolvidos e paixões secretas, mais ou menos (mal) disfarçadas, que parecem poder (que vão) explodir a qualquer momento.
Por isso, passados os primeiros momentos de euforia (e de desejo), provocada pela chegada ao paraíso, as coisas começam a descambar (para a normalidade…) com as primeiras desavenças e confrontos a surgirem, os problemas a demonstrarem que também vieram de férias e as situações dúbias a multiplicarem-se, num crescendo de tensão que acaba por culminar no aparecimento (?) do tal Maboukou…

Muda então definitivamente o tom do relato, até aí quente – escaldante mesmo, por vezes, em cenas de sexo e sedução -, com o terror a instalar-se, o sangue a correr e as mortes a sucederem-se a um ritmo que só tem comparação com a aceleração do relato, que arrasta consigo o leitor, surpreendido com a mudança operada, mas também curioso por conhecer o desfecho do novo rumo que os acontecimentos tomaram.
Isto até ao inesperado final, que mostra como por vezes o que vêem os (nossos) olhos – um piscar de olhos (pág. 102) – pode ser profundamente enganador.

Borg, constrói uma história apaixonante, forte, credível no retrato completo que traça dos seis jovens, prendendo o leitor mesmo quando muda o tom do registo, graças à forma como explora as suas/nossas angústias. Para isso contribui também, sobremaneira, o traço de Sanlaville, semi-realista, ultra-expressivo, dinâmico e movimentado, quer se trate de simples conversas, quentes cenas de sexo ou demonstrações de pura crueldade, bem tratado com cores fortes e quentes e que mostra toda a bagagem adquirida na ilustração de story-boards para o audiovisual.
E como é habitual no género no cinema, apesar de a história ficar fechada, como parece indiciar a última vinheta trata-se de um relato (à suivre), como já confirmou Eric Borg numa entrevista ao site ToutenBD
, em que confirmou estar já a escrever a segunda parte deste thriller em circuito fechado.
A reter- Os excelentes contra-picados que Sanlanville nos vai servindo ao longo do relato, alguns dos quais de encher o olho, em especial nas páginas de vinheta única (págs. 10, 29, …).
- A forma como com eles e também noutras situações, o desenhador nos coloca na posição das personagens, mostrando-nos a acção como elas a vêem.
Menos conseguido- A cena de tentativa de suicídio de Erwin, embora funcione no momento como motor para a mudança de orientação do relato, é depois pouco credível quando explicada como tal.

Curiosidade
Logo na cena inicial (págs. 3-5), a posição dos dois remadores do bote pirata, de frente um para o outro, não sendo de todo impossível, é muito improvável. Assim sentados, o mais certo é que o barco não saísse do sítio, impelido em direcções opostas por cada um deles!

3 comentários:

  1. então boa sorte nessas divulgações bedéfilas, como sabes produz-se muito , até aqui em portugal ,mas se calhar os que fazem bd já são mais do que os que lêm

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  2. Olá Pedro
    Bem vindo às "escritas na net"!
    Esse livro tem uma arte apelativa e a estória parece-me ser do meu tipo. Tenho um problema que só vou resolver quando tiver reformado, aprender francês!

    Abraço
    Nuno Amado

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  3. Grande iniciativa, Pedro. Passarei sempre por aqui pra saber o que anda acontecendo na banda desenhada.

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