26/06/2009

Armazém Central












1. Marie
2. Serge
Régis Loisel e Jean-Louis Tripp (argumento e desenho) Edições ASA (Portugal, Janeiro e Outubro de 2007)
227 x 302 mm, 80 e 72 p., cor, capa cartonada

Resumo Histórias do quotidiano rural do Quebeque dos anos 20, contadas a partir do (grande) armazém central da pequena povoação de Notre-Dame-des-Lacs.

Desenvolvimento Ambientada no Canadá, num Canadá profundo, "Armazém Central" é uma crónica do quotidiano rural de uma pequena aldeia, entre as duas Guerras Mundiais, que tem um estranho começo: a morte de Félix, dono da única loja - o tal armazém central - do lugar, que vai ficar como testemunha (quase) silenciosa, do que se vai passando em Notre-Dame-des-Lacs. Esta crónica quotidiana onde (aparentemente) nada acontece, mas cheia de vida, de vidas, vai-se fazendo de pequenos nadas desligados, que no seu todo retratam a vivência naquele lugar, naquela época, e que nós, leitores, vamos apanhando aqui e ali enquanto acompanhamos as deambulações dos diversos habitantes pela povoação. Isto porque, se Marie, a viúva de Félix, a eterna estrangeira, tímida mas prestável, de uma enorme coragem, surge com algum destaque - é ela que se emancipa e se torna gerente do armazém, que conduz o seu camião, que acolhe e sonha acordada com Serge - a verdade é que é a comunidade no seu todo que protagoniza a obra. Comunidade inquieta pela morte do único comerciante - indispensável mas pouco estimado -, pela chegada de um novo pároco (um pouco) progressista (demais para o gosto local), pelo pateta do sítio, pelas beatas coscuvilheiras, pelo cego que viu o mundo, pelo herético e utópico Noel e por uns quantos mais, caracterizados e retratados pelos pequenos gestos habituais, que o isolamento transfigura: a troca de receitas, os mexericos e desconfianças, a cooperação para o bem comum, as traquinices das crianças, os ritos iniciáticos que marcam o crescimento - os primeiros amores, o acompanhamento dos homens no trabalho - a matança do porco, as festas tradicionais comunitárias… E, no segundo tomo, pela chegada de um estranho - Serge - culto e viajado, para mais cozinheiro, que acrescenta à narrativa uma aura poética, fruto de sonhos vividos, de utopias concretizadas, e que leva pela primeira vez o brilho aos olhos de Marie… Uma comunidade retratada com ternura mas autenticidade, de forma viva e intensa, pelo traço semi-realista de Loisel e Tripp, generoso nos volumes, expressivo e dinâmico, rico de pormenores, servido pelas cores quentes e afáveis de François Lapierre, traço que se revela no seu todo especialmente nas sequências mudas - mas extremamente eloquentes - onde o mais ínfimo pormenor ganha vida, mostrando-nos o passar do tempo - através da forma como as estações transfiguram a Natureza - a morte de um recém-nascido, a solidão de Marie, as desconfianças, as músicas e danças, de uma forma notável.

A reter - A riqueza e profundidade dos diferentes retratos que a obra traça. - A consistência das cenas mudas.

Menos conseguido - Dois anos depois, já com o quarto título a caminho em França, pela Casterman, continuamos à espera que a ASA edite o terceiro tomo (“Les hommes”). Curiosidade - Autores completos, normalmente responsáveis por argumento, planificação, desenho a lápis, desenho a tinta e aplicação da cor nas suas obras, embora na BD franco-belga a diversificação de funções seja cada vez mais frequente, Régis Loisel - conhecido em Portugal por "Em Busca do Pássaro do Tempo" (Meribérica/Líber) e por uma versão extremamente pessoal do Peter Pan, de Barrie, (na Bertrand e na Booktree) - e Jean-Louis Tripp, até há pouco inédito entre nós, franceses, então a viver em Montreal, no Canadá, partilhando um atelier, descobriram gostos complementares: enquanto Loisel vibra com a planificação e o traço a lápis, Tripp prefere a passagem a tinta, nascendo, assim, uma improvável colaboração, consubstanciada nesta série.

(Versão revista e actualizada do texto publicado no Jornal de Notícias de 23 de Setembro de 2007)

4 comentários:

  1. Olá, desculpe-me estar a usar este form de comentário para lhe contactar mas não encontro o seu email no blog.

    Essencialmente estou a contactá-lo porque ao fim de 5 anos terminei finalmente as 200 paginas completas da minha BD "As Aventuras do Príncipe Ziph" e portanto encontro-me a divulgar o trabalho.
    Espreite o meu blog http;//luisperes.wordpress.com e leia a minha banda desenhada. Espero que goste. ;)

    Em breve irei ter o meu antigo site www.ziphcomics.com no ar com mais detalhes sobre o trabalho, mas por agora pode ler tudo no blog.

    Obrigado e desculpe a intromissão.

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  2. Boa tarde Pedro, encontrei a sua mensagem no meu blog.
    Pode encontrar-me no email alcaminhante@gmail.com pois o meu email antigo por agora está desactivado. :)

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  3. Ora cá está o que precisava saber! Se há alguém que eu admiro é o Pedro e o trabalho que nos presta! Um abraço

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    1. Obrigado!
      A ASA ainda editou um terceiro tomo: Os homens.
      Boas leituras!

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