04/09/2009

Zits #13 - Pierced

Jerry Scott (argumento) e Jim Borgman (desenho)
Gradiva (Portugal, Junho de 2009)
210 x 220 mmm, 128 p., pb e cor, capa brochada


Menosprezados por alguns que as consideram “leitura menor”, as tiras humorísticas contam entre elas verdadeiras obras-primas como “The Peanuts”, “Calvin e Hobbes” e “Mutts”… Ou “Zits” (que o Jornal de Notícias publica diariamente, bem como outros 1600 jornais em todo o mundo) literalmente “borbulhas”, ou não seja ela sobre a adolescência e a sempre complicada convivência com o acne e com (as) outras gerações, no caso Jeremy, o adolescente que a protagoniza, e os seus pais, pertencentes a um outro (e mui distante) tempo, sem computadores nem telemóveis, mas com músicas estranhas e rituais (levantar cedo, arrumar o quarto, chegar cedo a casa…) incompreensíveis.
Mas é com eles – e com os seus amigos, com destaque para Sara, Hector e Pierce – que Jeremy tem que (con)viver, embora no caso destes últimos, namorada e companheiros inseparáveis de escola, de banda e dos maravilhosos sonhos (quase sempre inatingíveis…) da juventude, tudo funcione bem melhor. O que não impede que também originem razões para o leitor sorrir ou mesmo gargalhar abertamente, recordando (ou esquecendo…) as situações idênticas por que passou/está a passar…
Para isso contribui a forma como Scott explana as situações quotidianas – aparentemente banais - por vezes em diálogos brilhantes, bem como o traço de Borgman, solto e bem trabalhado, pormenorizado quanto baste, com corpos e rostos hiper-expressivos e capaz de traduzir graficamente (e de forma literal) as emoções e experiências das personagens, seja uma cabeça que explode ou alguém que trepa pelas paredes, a invisibilidade dos progenitores, a deformação voluntária das medidas anatómicas ou a incompreensibilidade de algumas conversas. Se tudo isto está em “Pierced”, 13º álbum da série, este distingue-se por ser uma colectânea dedicada a Pierce, tão valioso como amigo… quanto se vendido a peso no ferro-velho, devido aos inúmeros piercings, brincos e acessórios metálicos que ostenta! Idealista convicto de causas nem sempre defensáveis, nesta compilação de tiras, vê-se a coerência e consistência da personagem, dando razão a Maurice Tillieux (1921-1978), um dos grandes nomes da BD franco-belga, que um dia afirmou: “o herói é uma personagem que dificilmente animamos. São as personagens secundárias que fazem uma série”.

Curiosidade
“Zits” tem uma versão semi-animada, os "Zits Motion Comics", disponíveis gratuitamente em
http://www.comicskingdom.com/index.php/zits-motion-comics.

(Versão revista do texto publicado a 8 de Agosto de 2009 no suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderEliminar
  2. Eu não os considero como leitura menor, mesmo nada. São os meus maiores escapes na BD. Desde Zits até Calvin e Hobbes, passando por Foxtrot, Sherman's Lagoon, La Vie en Rose, à eterna Mafalda e os Peanuts (que são tudo menos simples), Hägar the Horribel, Hi and Lois, Beetle Bailey, Dagwood, Blondie, Sam Strip, etc, etc...
    São refrescantes, divertidos, um desanuvio da mente, sem nunca deixarem de nos fazer pensar, e também, porque não, incomodar.
    Eu considero o "Zits" das melhores séries dos últimos anos, para não dizer décadas, a par do "Baby Blues".
    Este "Pierce" foi uma roubalheira, pois foi editado sem informação que seria uma colectânea dos melhores momentos (segundo os autores) em que o personagem aparece. Está anunciado como um "sketchbook" e é um "treasury", ou talvez uma "retrospective". A Andrew McMeel anda a pregar-nos partidas atrás de partidas com este e outros títulos. Felizmente a editora Portuguesa teve o cuidado e boa educação de anunciar na capa dos livros que eram retrospectivas de tiras já publicadas em edições anteriores.

    ResponderEliminar
  3. Bom dia Refemdabd!
    Obrigado pela visita!
    Concordo plenamente contigo quanto ao facto de as tiras diárias não serem género menor, embora, como em tudo o mais, haja coisas (muito) boas e coisas (muito) más...
    À tua lista, que subscrevo quase por completo, acrescento o Mutts, o Pérolas a Porcos (que acho fantástico) e o (ternurento) James, que tem dois álbuns editados pela Gradiva.
    E também estou de acordo contigo quanto às duas edições do Pierced. Infelizmente, o leitor tem que estar atento...
    Abraço!

    ResponderEliminar