André-Paul Duchateu (argumento)
Tibet (desenho)
Éditions du Lombard (Bélgica, Março de 2010)
222 x 295 mm, 48 p., cor, cartonado
Nota Introdutória
Apesar de ter sido leitor fiel do Mundo de Aventuras – o que diversificou e tornou mais heterogénea a minha formação aos quadradinhos – li também o Tintin quase todo, em revistas emprestadas. E entre os seus heróis, um houve que marcou a minha infância e adolescência, Ric Hochet, o jornalista/detective, que inspirou muitas das minhas brincadeiras.
Anos mais tarde, o reencontro com ele, quando a minha exigência em relação à BD já era outra, foi algo doloroso. Porque a imagem idealizada que tinha ficado dos meus “verdes anos” desmoronou-se face à leveza e ingenuidade dos argumentos, ao estereótipo de “bom herói” que ele encarnava, à facilidade com que resolvia as investigações em que teimava em imiscuir-se.
O tempo passou e acabei por fazer as pazes com Ric, compreendendo o que podia obter da leitura das suas aventuras: um belo regresso a uma parte do meu passado, a evocação de tempos em que tudo era simples e linear em universos em que os “bons” são “bons” e os”maus” são “maus” sem os complicados “meios-termos” com que nos deparamos no dia-a-dia…
Resumo
“Ici 77!” tem como ponto de partida uma série policial televisiva em declínio, de que alguém se quer tornar argumentista a todo o custo, contando com Ric Hochet como protagonista. E para o conseguir não hesita em ameaçar matar inocentes a torto e a direito para obrigar o jornalista a cumprir os seus propósitos, enquanto dá livre curso aos seus planos de vingança.
Desenvolvimento
Último álbum desenhado por Tibet, antes de falecer em Janeiro deste ano, “Ici 77!” acaba por ser, de alguma forma, um passeio pelo próprio passado da série, pois as pistas que o assassino envia a Ric são títulos de algumas das suas aventuras anteriores – sim, na banda desenhada, Ric lê as suas próprias aventuras em banda desenhada… -, o que a certo ponto da história o leva mesmo a questionar se não está perante um eventual regresso de algum dos adversários que enfrentou ao longo de mais de meio século.
Este é o ponto de maior interesse da narrativa, desta vez desenrolada no meio televisivo (o que não é uma estreia), que, globalmente, assenta nos moldes a que os autores há muito habituaram os seus leitores fiéis: uma série de assassinatos, um inquérito protagonizado por Ric, auxiliado por Nadine (mais) e o comissário Bourdon (menos), diversos suspeitos potenciais, com motivo e oportunidade, pistas que vão surgindo e formando (ou não) um puzzle e um pormenor que permite chegar à identidade do criminoso, finalmente capturado. Tudo condensado num registo policial que equilibra momentos de acção, suspense, mistério e dedução, de leitura simples e agradável, desde que sejam tomados em conta os parâmetros referidos no início deste texto.
A reter
- A ideia base do argumento.
Menos conseguido
- Há alguns anos sem ler novos álbuns de Ric Hochet, fiquei desiludido por alguns momentos mais caricaturais que o herói protagoniza, que pessoalmente desconhecia na série e me parecem francamente dispensáveis.
Curiosidade
- Ao contrário do que aqui já escrevi, em declarações recentes Duchateau revelou que o 78º álbum de Ric Hochet, não será terminado por outro desenhador mas sim com um texto romanceado que concluirá as 28 pranchas que Tibet deixou desenhadas antes de falecer. Uma eventual continuação da série está ainda a ser objecto de estudo.
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