Enki Bilal (argumento e desenho)
ASA (Portugal, Novembro de 2009)
240 x 320, 104 p., cor, cartonado
Nesta obra, que marcou o seu regresso à banda desenhada no ano passado, Bilal retorna a alguns dos temas políticos que desenvolveu nos seus trabalhos mais recentes: os totalitarismos, (a falta de) futuro da humanidade ou a ecologia. Fá-lo, num registo mais neutro do que tem sido habitual, afastando-se um pouco do pessimismo de álbuns anteriores mas mesmo assim tendo como ponto de partida um planeta devastado por um fenómeno natural designado como “Golpe de Sangue”, que provocou brutais alterações climáticas e funcionais na Terra, reduzindo drasticamente as fontes de água potável e limitando a uns quantos (e ilusórios?) “eldorados” as zonas habitáveis do planeta. Devido a esse acontecimento, a par da redução da população mundial e do desmoronamento da economia mundial, o dia a dia tornou-se uma luta constante pela sobrevivência na qual todos os expedientes são válidos.
Mas Bilal opta por deixar estes contornos (estimulantes) apenas como pano de fundo e desencadeadores das acções da meia dúzia de protagonistas com que dotou este relato de antecipação científica num futuro não muito distante, marcado por progressos científicos que permitiram uma maior proximidade entre homem e animal, traduzida na possibilidade de fusão temporária entre ser humano e golfinho ou em mutações genéticas. A sua opção foi antes para um relato humano, aprofundando o lado psicológico, as motivações e a forma como cada um se relaciona com os restantes seres e se adequa (ou não) à nova situação e ao meio.
A opção por enquadramentos cinematográficos e vinhetas grandes – geralmente apenas duas ou três por prancha – destaca o magnífico traço a carvão sobre papel de tom cinza, que acentua o tom a um tempo sombrio e orgânico da narrativa, apenas tingido aqui e ali por raios de vermelho vivo, o que desvaloriza a sensação que a leitura deixa de que temos na nossa posse apenas um fragmento isolado de um todo maior e mais abrangente.
A reter
- O livro/objecto em si; as co-edições também têm vantagens…
(Versão revista e aumentada do texto publicado originalmente a 8 de Maio de 2010, na página de Livros do suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)
ASA (Portugal, Novembro de 2009)
240 x 320, 104 p., cor, cartonado
Nesta obra, que marcou o seu regresso à banda desenhada no ano passado, Bilal retorna a alguns dos temas políticos que desenvolveu nos seus trabalhos mais recentes: os totalitarismos, (a falta de) futuro da humanidade ou a ecologia. Fá-lo, num registo mais neutro do que tem sido habitual, afastando-se um pouco do pessimismo de álbuns anteriores mas mesmo assim tendo como ponto de partida um planeta devastado por um fenómeno natural designado como “Golpe de Sangue”, que provocou brutais alterações climáticas e funcionais na Terra, reduzindo drasticamente as fontes de água potável e limitando a uns quantos (e ilusórios?) “eldorados” as zonas habitáveis do planeta. Devido a esse acontecimento, a par da redução da população mundial e do desmoronamento da economia mundial, o dia a dia tornou-se uma luta constante pela sobrevivência na qual todos os expedientes são válidos.
Mas Bilal opta por deixar estes contornos (estimulantes) apenas como pano de fundo e desencadeadores das acções da meia dúzia de protagonistas com que dotou este relato de antecipação científica num futuro não muito distante, marcado por progressos científicos que permitiram uma maior proximidade entre homem e animal, traduzida na possibilidade de fusão temporária entre ser humano e golfinho ou em mutações genéticas. A sua opção foi antes para um relato humano, aprofundando o lado psicológico, as motivações e a forma como cada um se relaciona com os restantes seres e se adequa (ou não) à nova situação e ao meio.
A opção por enquadramentos cinematográficos e vinhetas grandes – geralmente apenas duas ou três por prancha – destaca o magnífico traço a carvão sobre papel de tom cinza, que acentua o tom a um tempo sombrio e orgânico da narrativa, apenas tingido aqui e ali por raios de vermelho vivo, o que desvaloriza a sensação que a leitura deixa de que temos na nossa posse apenas um fragmento isolado de um todo maior e mais abrangente.
A reter
- O livro/objecto em si; as co-edições também têm vantagens…
(Versão revista e aumentada do texto publicado originalmente a 8 de Maio de 2010, na página de Livros do suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)
" as co-edições também têm vantagens…"
ResponderEliminarMas ainda tem mais desvantagens.
Caro Canuel Frederico,
ResponderEliminarAgradeço mais uma visita mas permito-me discordar de si. Acho que para um mercado pequeno como o nosso as co-edições têm mais vantagens do que desvantagens e sem elas não chgariam às nossas livrarias muitos dos títulos que ainda vai sendo possível encontrar...
Abraço!
O mal das co-ediçoes é que acaba com a indepencia das editoras e tem que estar sempre depende de outras,já para não falar nas más impressoes que andam no mercado,as traduçoes horriblis, e as coleçoes inacabadas.
ResponderEliminarComo em tudo, é preciso encontrar o ponto de equílibrio.
ResponderEliminarQuanto aos defeitos que aponta, não são exclusivo das co-edições - embora também existam nalgumas delas...
Abraço