Emmanuel Guibert (argumento)
Joann Sfar (desenho)
Walter (cores)
Dargaud (França, Junho de 2007)
Entre outros aspectos, um dos pontos salientes da geração de autores nascidos em (ou com) l'Association, é a sua capacidade de saltitarem de temática para temática, mantendo sempre uma assinalável fasquia de qualidade e originalidade. É o caso presente de Guibert e Sfar, tão capazes de se embrenharem no documentário, na reportagem, no humor, na ilustração ou, no caso presente, na BD infantil.
"Sardine de l'Espace 1" recolhe os primeiros doze episódios de uma série publicada mensalmente na revista "DLire" e é protagonizada pelo Capitão Epaule Jaune, o pequeno P'tit Lulu e a heroína Sardine. Juntos, a bordo da estranhíssima nave Hectormalo, cruzam os confins do universo em todas as direcções, encontrando os mais improváveis seres, nos mais recônditos planetas, num universo improvável, fantasioso e divertido que os autores vão desenvolvendo e enriquecendo ao longo das histórias.
E se teoricamente na base da trama parecem estar os confrontos perenes entre o bem e o mal, aquele protagonizado pelos heróis citados, e este pelo pérfido Supermuscleman, um pouco inteligente vilão, e o seu ajudante Doutor Krok, um sábio louco, com muito de louco e pouco de sábio, a verdade é que a moral a retirar destas aventuras divertidas e movimentadas é bem mais simples: deixem as crianças brincar.
O traço de Sfar é espontâneo e desenvolto como ele nos habituou nos seus trabalhos mais recentes, mas expressivo e recheado de pormenores divertidos. Os argumentos de Guibert, embora leves, têm inúmeras referências, da animação à BD, da literatura à actualidade, merecendo uma leitura mais atenta do que aquela que serão capazes os leitores mais novos a quem as histórias se dirigem.
Lendo "Sardine de l'espace", se senti uma lufada de boa disposição, não pude deixar de ver nela um retrato (pela positiva) daquilo que não tem a BD em Portugal: desde logo banda desenhada infantil que possa formar os leitores de BD de amanhã, depois, publicações infanto-juvenis com banda desenhada e onde os autores nacionais a possam publicar; finalmente, a opção pela edição de recolhas, mesmo que em formato um pouco menor (no caso presente próximo do dos mangas, em mais uma clara tentativa de os combater), o que reduz custos e permite oferecer aos leitores mais BD por menos dinheiro, como se vê, por exemplo, no Brasil ou em Espanha, para lá do próprio mercado franco-belga, claro está.
(Texto publicado originalmente no BDJornal #19, de Junho/Julho de 2007)
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