09/09/2010

Pérolas a Porcos #8 – Pérolas de sábado à noite

Stephen Pastis (argumento e desenho)
Bizâncio (Portugal, Março de 2010)
210 x 220 mm, 130 p., pb, brochado com badanas


Não hesito em afirmar que Pérolas a Porcos (Pearls before Swine, no original) é uma das mais geniais tiras diárias em publicação. É verdade que um dos seus epítetos poderia ser “Feios, um porco e maus”, pois este é um retrato cínico e cruel mas irresistível do ser humano (todos nós), mostrando o seu pior lado, quer fale do racismo, da violência, da reciclagem, da religião, do desporto, dos programas televisivos, dos grupos de auto-ajuda, das novas tecnologias ou do comércio enganoso. Porque Pastis, o seu autor, traça-o com diálogos inteligen-tes, mordazes, certeiros, finamente irónicos, absurdamente deliciosos ou deliciosamente absurdos, com um notável e irresistível non-sense, baseando-se nos piores defeitos da humanidade– o egoísmo, a maldade, a ganância, a inveja, o oportunismo, a estupidez, a falta de educação – transpostos para uma série de animais antropomorfizados e sem nada que os permita classificar como “fofinhos”: um rato egoísta, impertinente e oportunista; um porco a quem chamar estúpido é um grande elogio; uma zebra simplista e ingénua mas com uma grande vontade de viver; um bode sensato e lúcido, mas pouco interveniente.
A esta base – sólida, consistente e cujos diálogos têm sempre algo de inesperado – há que acrescentar uma série de personagens ocasionais ou recorrentes, com tanto de surpreendente quanto de insólito: Chuckie, o carneiro (não antropomorfizado!) que por isso só faz “béééé” (há tante gente assim!), Herb, o maquinista (miniatura!) dos comboios (em miniatura!), os pictogramas que bem conhecemos da sinalização de portas de WC, uma anémona-do-mar, um par de nozes, bonequinhos vickings efeminados, Barbara Bush, os cérebros “autóno-mos” dos anti-heróis que protagoni-zam a série, o bélico pato-de-guarda, Andy o cão acorrentado com vontade de correr mundo (e com mala feita), Steve e Orville os hamsters de gaiola, o próprio Pastis, descoberto ou acossado pelas suas criações, etc., etc.! Como último achado, surgem os “peixes do tecto” que, sentados no topo da tira, tentam pescar os seus protagonistas!
Neste oitavo tomo, a relação de ódio/von-tade de comer entre a zebra e os (muito, mas mesmo muito) estúpidos crocodilos assume um maior protagonismo, semelhante mesmo ao desfrutado pelo rato e o porco, e é ainda condimentada (passe o termo), pelos novos vizinhos, uns leões fêmea-dependentes.
No entanto, o grande destaque vai para novo cruzamento com uma tira “rival”, desta vez a sossegada e ingénua “Family Circus”, cujo espírito próprio e singularidades gráficas, são vítimas do humor de Pastis e das (más) acções do rato e companhia.

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