15/11/2010

Batman & The Spirit #1

Jeph Loeb (argumento)
Darwyn Cooke (desenho)
J. Bone (arte-final)
Dave Stewrat (cores)
Panini Brasil (Brasil, Fevereiro de 2008)
170 x 260 mm, 48 p., cor, comic-book


Resumo
Enquanto os comissários Gordon e Dolan vão a uma convenção para polícias, Batman e The Spirit têm que unir esforços para derrotar um plano urdido pelos mais notórios adversários dos dois combatentes do crime.

Desenvolvimento
(Também) por culpa da minha formação aos quadradinhos, feita especialmente no “Mundo de Aventuras” (no início, e depois continuada de forma diversificada por títulos como “(À Suivre)” ou “Cimoc”, entre vários outros), geralmente vejo os heróis como pertença dos seus criadores, ficando reticente quando outros autores os assumem. Sei que há (boas) excepções a esta regra, mas normalmente as “sequelas” deste tipo ficam aquém das expectativas. Digo eu. (Também) por isso, possivelmente, o género de super-heróis nunca esteve nas minhas preferências, embora confesse um fraquinho (controlado!) pelo Demolidor, Homem-Aranha ou Batman (possivelmente por serem dos super-heróis menos “super-heróicos”).
Ainda no âmbito daquele primeiro pressuposto, para mim, alguns heróis são praticamente intocáveis. O genial The Spirit, do genial Will Eisner, é um deles.
Confesso, por tudo o que atrás fica escrito, que a notícia (de há alguns anos) de um crossover entre ele e Batman me deixou mais recesoso que curioso, embora o bichinho lá estivesse.
E agora, anos passados sobre a edição, que mereceu tantas críticas positivas quanto negativas, muito insultuosas e do mais elogioso, reconheço que Jeph Loeb e Darwyn Cooke se saíram bem da empreitada.
Graficamente próximo do estilo de Spirit – o de Batman é indefinido, em função de cada autor que o assume –, uma espécie de linha clara estilizada, nostálgica q.b., de traço largo e com bom uso de sombras, a obra é chamativa – cabendo uma boa quota-parte ao excelente trabalho de cor de Dave Stewart -, merecendo destaque a forma como Cooke uniformizou o estilo dos dois protagonistas, conseguindo inserir credivelmente Batman no “universo gráfico” do Spirit. A par disto, a planificação clássica mas diversificada marca o ritmo da narrativa, proporcionando uma leitura dinâmica e fluida e revelando mesmo alguns momentos memoráveis como a (falsa) splash page que “apresenta” o Spirit (preparada ao longo de duas pranchas) ou as belas e sensuais heroínas e, principalmente, vilãs.
Em termos de argumento, no entanto, a história também brilha, seguindo de perto o clima misto de mistério e ironia tradicional em Eisner. E é aqui que a maior parte das opiniões divergem, com muitos a defender que, mais do que a bela homenagem - que é -, esta foi uma oportunidade perdida para de alguma forma (re)definir as personagens em função de um espaço comum. Pessoalmente, acho que este foi o caminho correcto, pois outra via corria o risco de os descaracterizar, em especial ao Spirit.
A história começa com um encontro entre os comissários de Gotham e Central City, Gordon e Dolan, que recordam e se dispõem a contar um (desconhecido porque omitido) encontro entre os dois heróis mascarados. Com um belo achado: Spirit achar que Batman não passa de uma lenda urbana, duvidando a té final (e depois dele) da sua verdadeira identidade! Os diálogos que suportam a história, são bem escritos e contidos e servem de suporte ao bom humor que perpassa pelo relato.
O segredo mantido pelos dois comissários revelar-se-á fruto também das culpas no cartório dos dois veteranos, pois então ambos foram vítimas dos encantos de duas sedutoras, belas mas pouco recomendáveis, as estonteantes P’Gell e Cat Woman (que também farão das suas junto de Batman e Spirit).
Aliados a elas, envolvidos num plano maior que pretende eliminar os dois combatentes do crime, surgirão outros vilões como Cossaco, Mister Carrion e o seu inseparável abutre Julia, Pinguim, Enigma, Joker ou Arlequina, que assim ampliam e dão mais sentido ao tom de homenagem inerente a esta banda desenhada.
A partida dos dois polícias para o Havai, local da convenção, obriga Batman e Spirit a seguir no seu encalço – perdendo aqui a narrativa pela retirada dos heróis do seu habitat natural, os mais negros e sombrios becos urbanos -, pois descobrem que ela afinal não passa de uma artimanha dos vilões para os atrair. Multiplicam-se então as surpresas, os encontros, os recontros e as cenas de acção, até ao esperado mas surpreendente desenlace final, bem conseguido e à altura do restante relato, que conta com uma breve aparição do Superman e do qual os “bons” sairão vencedores - mas também ninguém esperava o contrário…
Chegado aqui, resta uma pergunta, em jeito de colagem a um popular anúncio: conseguíamos passar sem esta história? Sim, sem dúvida, mas não era a mesma coisa: tínhamos perdido uma bela homenagem e uma BD divertida e bem feita!

Sem comentários:

Enviar um comentário