27/11/2010

Jerry Spring - L'intégrale en noir et blanc - Tome 2 – 1955/1958

Jijé (argumento e desenho)
René Goscinny (argumento)
Acquaviva (argumento)
Dupuis (Bélgica, Outubro de 2010)
218 x 230 mm, 240 p., cor, cartonado

Resumo
Segundo tomo da edição integral das aventuras de Jerry Spring a preto e branco, agrupa os álbuns “La Passe des Indiens”, “La piste du Grand Nord”, “Le Ranch de la Malchance” e “Les 3 Barbus de Sonoyta”, com a curiosidade de o segundo e o terceiro agruparem várias histórias de tamanho diverso, incluindo uma com argumento de René Goscinny.

Desenvolvimento
Se é (relativamente) difícil, num intervalo de tempo tão curto, voltar a escrever sobre a reedição integral de Jerry Spring, o prazer que a sua leitura me proporcionou, a par da qualidade da obra-prima de Jijé, obrigam-me a fazê-lo.
E aproveito a “repetição”, para destacar um aspecto distintivo deste western: o seu carácter humanista, o que o leva por caminhos diversos de outros expoentes do género, como Blueberry, que prima pela aventura trepidante em ritmo acelerado, Comanche, em que impera o confronto entre o oeste selvagem e as mudanças trazidas pelo ”progresso”, ou Tex e o seu peculiar sentido de justiça a qualquer custo. Ou ainda Buddy Longway, talvez o que mais se aproxima de J. Spring, embora o tom e os contornos sejam diferentes, pois onde aquele avança, apesar de tudo, pela temática tradicional, o segundo tem o núcleo familiar e o seu quotidiano como base. Embora se perceba perfeitamente porque reclama Derib a herança temática e de valores de Jijé (e não a sua herança gráfica, bem mais evidente nos primeiros trabalhos de Jean Giraud, que foi seu assistente).
Este carácter humanista de Jerry Spring, revela-se em pormenores como o facto de o protagonista nunca atirar a matar, o humor sempre patente nos relatos (talvez demasiado caricatural na última história deste tomo) ou os “tempos mortos” das histórias em que Spring se limita a desfrutar da amizade de Pancho ou do contacto com a natureza selvagem. E cujo prazer que Jijé experimentou no seu desenho é bem evidente, pela naturalidade e o realismo das paisagens e, principalmente, dos belos cavalos. Daí também, o facto de a maior parte das narrativas decorrer fora dos locais habitados.
Para tudo isto contribuíram, sem dúvida, a temporada que Jijé e a sua família passaram nos Estados Unidos, e também a sua educação católica, que o levariam a exercitar a sua mestria noutras temáticas como a biografia de Don Bosco aos quadradinhos.
O que não impede que o seu traço, leve, delicado, vivo e dinâmico, bem trabalhado no contraste entre o branco e as manchas de negro, revele uma insuspeita sensualidade, revelada, por exemplo, nos surpreendentes nus mostrados neste tomo ou na graça da bela co-protagonista da última narrativa.
E não retira, também, longe disso, o tom aventuroso a Jerry Spring, envolvido na investigação de disputas fraudulentas de terrenos, roubos violentos, assaltos a minas de ouro ou bandidos mexicanos. Para nosso deleite e prazer.

Curiosidade
O primeiro tomo desta reedição integral, faz parte da selecção do Festival de Angoulême, na lista de candidatos ao Prémio do Património. Justamente.

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