30/11/2010

O Escorpião #6 – O Tesouro do Templo

Desberg (argumento)
Marini (desenho)
Edições ASA (Portugal, Outubro de 2010)
230 x 297 mm, cor, 48 p., cartonado

Resumo

As conspirações no seio da Igreja Católica e as (muitas) dúvidas sobre a veracidade de alguns dogmas sobre os quais assenta, não sendo um tema novo, está na moda, embora a BD já o explorasse antes do fenómeno Dan Brown (e subsequentes sequelas).
Esta é também a temática base da série "O Escorpião", ambientada no século XVIII, que narra a procura da verdadeira cruz onde o apóstolo Pedro supostamente teria sido crucificado de cabeça para baixo, para desmascarar o Cardeal Trebaldi, auto-assumido ateu, recém-eleito Papa com o objectivo de se servir da muito poderosa organização católica, refundando-a à imagem dos seus interesses.
Para além dos seus sequazes, a busca pelo médio oriente envolve um aventureiro conhecido como Escorpião, filho ilegítimo do anterior Papa e que vive na fronteira da lei, as belas - mas perigosas - Ansea e Méjai, e o impiedoso Rochnan, mercenário ao serviço de Trebaldi.

Desenvolvimento
Série de (justo) sucesso, pelos ingredientes que combina em proporções adequadas -equilíbrio entre ficção, veracidade histórica e tradição religiosa, cenas de acção bem conseguidas, um toque de romance e de sexo, armadilhas, traições, surpresas, intriga e mistério – O Escorpião ilustra bem o melhor da banda desenhada de aventuras franco-belga. O que já não é pouco.
Para isso, contribui em grande parte o traço realista ágil, fluído e expressivo, as cores, geralmente quentes, e a planificação cinematográfica de Marini que servem na perfeição o guião de Desberg que demonstra toda a sua mestria num relato de ritmo intenso, com diversos volte-faces e cuja leitura prende e entusiasma, mesmo que muitas vezes quase nada se passe, como acontecia, por exemplo, no tomo anterior, O Vale Sagrado…
O que não é o caso desta vez, pois a narrativa que, de forma interessante e bem conseguida, alterna entre o grupo onde está o Escorpião e a marcha solitária de Rochnan – cujo terrível segredo por detrás da máscara é finalmente desvendado – até à sua junção e confronto final (mas possivelmente não definitivo…) progride bastante, encerrando mesmo aquilo que pode ser designado como um ciclo.
Nele, a busca pela cruz de Pedro – durante a qual as alianças e traições se sucedem a um ritmo impressionante, mostrando a volatilidade do ser humano quando guiado pela ganância e a cupidez - chega ao seu fim, embora de forma infrutífera para aqueles que procuravam riquezas e/ou poder. E com o Escorpião a antever numa declaração do seu inimigo um novo sentido para a sua procura. E no qual Desberg, habilmente – sem os excessos (serão?) de Jodorowsky e Manara, em Borgia – a continuar a pôr a nu os podres de uma Igreja Católica, cujas cúpulas sempre estiveram mais interessadas nos bens terrenos e na satisfação imediata dos prazeres carnais – fraca e enganadoramente desmentidos regularmente por pouco sentidos pedidos de desculpas - do que em seguir os ensinamentos de amor e compaixão daquele que (teoricamente) apresentam como seu Senhor.
E, como nos álbuns anteriores, terminado a leitura, fechado o livro, fica o desejo de prosseguir de imediato com a leitura do seguinte. Cabe à ASA satisfazê-lo, aproximando-se rapidamente da edição francófona que já vai no nono volume.

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