10/11/2010

Off Road

Sean Murphy (argumento e desenho)
Kingpin Books (Portugal, Outubro de 2010)
155 x 225 mm, 124 p., pb, brochado com badanas


Resumo
Greg, Trent e Brad, três amigos de sempre, decidem ir experimentar o jipe novinho em folha do primeiro, num percurso todo-o-terreno.
Contrastando com a boa disposição de Greg, cujo pai acabou de lhe oferecer o veículo, Trent está mais uma vez em baixo devido a questões amorosas (como é habitual), pois acabou de saber que (mais uma vez) era traído pela sua namorada, e Brad não está melhor, pois continua a braços com uma (muito) complicada relação com o pai.

Desenvolvimento
O passeio no jipe amarelo (que falta faz a cor neste particular, para acentuar o contraste do berrante veículo com as trapalhadas em que os seus ocupantes se vão meter) surge assim como uma espécie de catarse para os três amigos (que apesar disso têm algumas questões por resolver entre si) , apesar das reticências iniciais de Greg.
A história – autobiográfica… - apresenta-se assim como o relato de um episódio de adolescência (tardia…) ou de início de idade adulta (retardada…), funcionando, dessa forma, como um retrato algo exagerado mas bastante realista de uma realidade incontornável dos nossos dias. A da falta de valores, princípios, objectivos, saídas para os que estão na fase da vida atrás citada.
O relato é divertido e dinâmico, com as peripécias e as confusões a avolumarem-se e a situação a piorar quase página a página. Porque, o passeio todo-o-terreno pela mata local para espairecer, acaba com o jipe atolado enquanto grassa um incêndio, depois de aparentemente os três amigos terem esgotado todas as hipóteses disponíveis para se safarem daquela alhada, desde os “profissionais” até aqueles que menos pareciam vocacionados para isso, como o pai de Brad ou a paixão-de-infância/adolescência/idade-adulta-de-Greg-que-nunca-passou-do-platonismo-e-mesmo-assim-está-o-mais-mal-resolvida-que-se-possa-imaginar!
Por isso, também, durante o relato as tensões entre os três amigos vão subindo, levando-os a dizer e a fazer coisas que normalmente controlariam em situações quotidianas.
Ou seja, se por um lado este é um relato leve e divertido – e politicamente incorrecto por nos rirmos da desgraça (e da inépcia) dos outros – é também, de forma contrastante, uma bela narrativa sobre relações humanas e amizade. Que, tem a vantagem acrescida de estar bem escrito e planificado, o que lhe confere um bom ritmo de leitura, dinâmico mesmo nas situações de aparente impasse. Graficamente, se o traço, algo duro e agreste, não é propriamente atraente, revela-se bem expressivo e eficaz e assenta numa planificação diversificada e numa ampla gama de movimentos de câmara no retratar das cenas.

A reter
- O bom humor da história.
- O bom ritmo a que ela decorre.
- A eficácia do traço de Murphy.
- A estratégia - nem sequer vou escrever inteligente, tão normal devia ser - da Kingpin de convidar os autores que edita para estarem presentes no Amadora BD, potenciando assim a venda das obras. Porque é que as outras editoras não o fazem?

Menos conseguido
- A tiragem, de apenas 200 exemplares. Corram, para garantirem um
- O preço (17,99 €) alto, em consequência da tal tiragem baixa… Não pode ser inferior, porque a tiragem é baixa; a tiragem não é maior porque não vende mais; não vende mais porque é caro… A tradicional pescadinha de rabo na boca. Mesmo assim custa a acreditar que só 200 portugueses possam estar interessados nesta obra… Ela justifica plenamente a leitura. E, já agora, o investimento.
- Alguns lapsos na versão portuguesa, nomeadamente no uso recorrente de uma construção frásica errada: “deves te sentar” (página 22, 2ª vinheta) em vez de “deves sentar-te”; “quero te mostrar” (p.27, v.5) em vez de “quero mostrar-te”; “queria te ver” (p.34, v.5), em vez de “queria ver-te”.

4 comentários:

  1. Mário Freitas10/11/10 14:26

    Pedro,

    Em minha defesa, enquanto tradutor, essa "construção frásica errada" representa, apenas e tão só, a representação directa da forma corrente de falar. "Tá", "pra" e afins também não são português correcto e eu uso-os igualmente durante o livro. Tenho pena de só teres referido isso sobre a tradução, quando a maioria das pessoas tem preferido centrar-se na linguagem escorreita e bem adaptada, livre das traduções literais medonhas que costumam assolar as edições portuguesas. Quanto à tiragem, é estar a bater na mesma tecla, infelizmente. De resto, creio que havia outros pontos positivos sobre a edição, nomeadamente a qualidade do design e do package global (muito superiores ao da edição original da Oni) e da legendagem, original e criada de raiz, dada a impossibilidade de reproduzir a legendagem manual do autor.

    Obrigado e um abraço,

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  2. Meu Caro Mário,
    Como as minhas mensagem do Facebook não parecem chegar ao destino, e já que te apanho aqui... não me mandas a tua morada, sff? Para nada de mais, apenas queria mandar-te uma cópia do ultimo zine dOS POSITIVOS (www.ospositivos.com)... OU! tendo também aqui o Pedro por perto, pedir ao Pedro que te reencaminhe o que recebeu se já a leu está despachado dela ;)

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  3. "Mesmo assim custa a acreditar que só 200 portugueses possam estar interessados nesta obra… "

    A distribuição nao vai ser grande coisa,mais vale apostar no original.

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  4. Olá Mário,
    Aceito a tua "defesa", mas a verdade é que na leitura (e na releitura) aquelas frases destoaram... O que não invalida que eu reconheça qualidades à tradução. E também à edição - mesmo desconhecendo a original.

    O que me leva a ti, Optimus Prime:
    A distribuição vai ser limitada? Obrigatoriamente. Isso é suficiente para se optar pela edição original? Pessoalmente acho que não.
    O Mário, se quiser, poderá deixar indicações aqui de onde encontrar este Off Road à venda. Será uma ajuda para ele, editor, e para os potenciais leitores interessados.
    Abraço!

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