Marie Pommepuy (argumento)
Patrick Pion (desenho)
Dargaud (França, 14 de Janeiro de 2011)
Colecção Long Courier
240 x 320 mm, 72 p., cor, cartonado
Resumo
Quando Kay é levado pela Rainha das Neves, a sua amiga Gerda decide partir à sua procura, iniciando um longo périplo, recheado de perigos e criaturas fantásticas, como ogres, uma velha que a obriga a comer restos de outras crianças e um corvo falante.
Desenvolvimento
Apesar de livremente inspirado na Rainha das Neve, um conto escrito no século XIX por Hans Christian Andersen, esta é uma história que está longe de ser indicada para crianças e, muito menos, para ler à hora de dormir. Porque, se nela estão presentes muitos dos protagonistas e das temáticas habituais naquele género, ela é, antes de mais, uma história adulta de contrastes, entre o maravilhoso do mundo da infância e o realismo cruel da idade adulta, o bem e o mal, a poesia e a crueldade, o horror e a beleza, a amizade e a maldade, que a espaços roça mesmo o registo de terror.
Por isso, em cada momento do relato, aquilo que vemos raramente corresponde ao que realmente é e mesmo os momentos mais agradáveis têm sempre um reverso assustador. Veja-se, por exemplo, a estadia de Gerda em casa da senhora que cultiva o seu jardim ou – exemplo supremo – o desfecho do álbum.
Na sua origem, este é um relato de busca iniciática, em que Gerda é movida pela sua amizade por Kay, o vizinho da casa em frente com quem sempre brincou até ao dia em que a Rainha das Neves (a Morte…) decidiu reclamá-lo. Embalada pelas crenças doces da infância, Gerda decide ir à sua procura, para recuperar o seu amigo e restabelecer o equilíbrio que desapareceu do seu mundo.
A história, que começa pela captura de Gerda por um bando de ogres, com o propósito de a comer, vai sendo narrada pela protagonista à ogre mais jovem (e a nós, leitores), em sucessivos flash-backs que ajudam a ritmar a narrativa e a equilibrar momentos de tensão com outros mais descontraídos.
Ao longo dela, há um sentimento dominante, a amizade que Gerda vai encontrando e cultivando nos sucessivos encontros: a jovem ogre, o corvo falante, o mendigo, o rapaz-árvore… A mesma amizade, intensa e motivadora, que a empurra na sua busca, pelos mais estranhos e aterradores cenários - a floresta, a planície gelada, o jardim da velha senhora, o palácio encantado - todos transformados em obstáculos que aquele sentimento sempre ajuda a vencer. Até ao encontro final com Kay que, menos que o happy-end habitual em histórias de encantar, leva a uma (amarga) reflexão sobre quanto o amor (adulto…) – ao contrário da amizade (infantil…)? – pode ser egoísta e castrador.
O traço de Pion, de alguma forma mimetizando o estilo dos grandes ilustradores do século XIX, mostra-se perfeitamente adequado ao actual registo, apesar de uma planificação relativamente tradicional, confere o ritmo adequado ao relato, interligando os diversos episódios (soltos…) que o compõem e transmitindo em cada momento o efeito pretendido, seja o lado doce e agradável de cada um, sejam – de forma mais marcante – os momentos de pesadelo, mais assustadores.
A reter
- A forma como cada momento, aparentemente doce e feliz, apresenta sempre um reverso, que muitas vezes choca e arrepia. Como a fuga do jardim aparentemente idílico, só conseguida através do esfolamento do rapaz-árvore.
- O traço de Pion que, sem mudar de registo, consegue mostrar as duas faces contrastantes de cada momento.
Patrick Pion (desenho)
Dargaud (França, 14 de Janeiro de 2011)
Colecção Long Courier
240 x 320 mm, 72 p., cor, cartonado
Resumo
Quando Kay é levado pela Rainha das Neves, a sua amiga Gerda decide partir à sua procura, iniciando um longo périplo, recheado de perigos e criaturas fantásticas, como ogres, uma velha que a obriga a comer restos de outras crianças e um corvo falante.
Desenvolvimento
Apesar de livremente inspirado na Rainha das Neve, um conto escrito no século XIX por Hans Christian Andersen, esta é uma história que está longe de ser indicada para crianças e, muito menos, para ler à hora de dormir. Porque, se nela estão presentes muitos dos protagonistas e das temáticas habituais naquele género, ela é, antes de mais, uma história adulta de contrastes, entre o maravilhoso do mundo da infância e o realismo cruel da idade adulta, o bem e o mal, a poesia e a crueldade, o horror e a beleza, a amizade e a maldade, que a espaços roça mesmo o registo de terror.
Por isso, em cada momento do relato, aquilo que vemos raramente corresponde ao que realmente é e mesmo os momentos mais agradáveis têm sempre um reverso assustador. Veja-se, por exemplo, a estadia de Gerda em casa da senhora que cultiva o seu jardim ou – exemplo supremo – o desfecho do álbum.
Na sua origem, este é um relato de busca iniciática, em que Gerda é movida pela sua amizade por Kay, o vizinho da casa em frente com quem sempre brincou até ao dia em que a Rainha das Neves (a Morte…) decidiu reclamá-lo. Embalada pelas crenças doces da infância, Gerda decide ir à sua procura, para recuperar o seu amigo e restabelecer o equilíbrio que desapareceu do seu mundo.
A história, que começa pela captura de Gerda por um bando de ogres, com o propósito de a comer, vai sendo narrada pela protagonista à ogre mais jovem (e a nós, leitores), em sucessivos flash-backs que ajudam a ritmar a narrativa e a equilibrar momentos de tensão com outros mais descontraídos.
Ao longo dela, há um sentimento dominante, a amizade que Gerda vai encontrando e cultivando nos sucessivos encontros: a jovem ogre, o corvo falante, o mendigo, o rapaz-árvore… A mesma amizade, intensa e motivadora, que a empurra na sua busca, pelos mais estranhos e aterradores cenários - a floresta, a planície gelada, o jardim da velha senhora, o palácio encantado - todos transformados em obstáculos que aquele sentimento sempre ajuda a vencer. Até ao encontro final com Kay que, menos que o happy-end habitual em histórias de encantar, leva a uma (amarga) reflexão sobre quanto o amor (adulto…) – ao contrário da amizade (infantil…)? – pode ser egoísta e castrador.
O traço de Pion, de alguma forma mimetizando o estilo dos grandes ilustradores do século XIX, mostra-se perfeitamente adequado ao actual registo, apesar de uma planificação relativamente tradicional, confere o ritmo adequado ao relato, interligando os diversos episódios (soltos…) que o compõem e transmitindo em cada momento o efeito pretendido, seja o lado doce e agradável de cada um, sejam – de forma mais marcante – os momentos de pesadelo, mais assustadores.
A reter
- A forma como cada momento, aparentemente doce e feliz, apresenta sempre um reverso, que muitas vezes choca e arrepia. Como a fuga do jardim aparentemente idílico, só conseguida através do esfolamento do rapaz-árvore.
- O traço de Pion que, sem mudar de registo, consegue mostrar as duas faces contrastantes de cada momento.
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