18/03/2011

O Gato do Rabino











Os Incontornáveis da Banda Desenhada #2
Joann Sfar (argumento e desenho)
Público + ASA
Portugal, 9 de Março de 2011
295 x 220 mm, 144 p., cor, brochado com badanas
7,40 €

Resumo O gato do rabino come um papagaio e começa a falar. Aproveitando para questionar tudo e todos, do seu papel em casa até à existência de Deus. Este álbum reúne os três primeiros álbuns da série: O Bar-Mitzvá, O Malka dos Leõers e O Êxodo.

Desenvolvimento O rabino. O gato do rabino – que começa a falar depois de comer um papagaio. A filha do rabino. O rabino do rabino. O marido da filha do rabino. Os primos do rabino. Um rabino que não quer confusões nem que o seu gato fale com a filha. Um gato do rabino que quer mimos da filha do rabino e fazer o seu bar-mitzvá. Um rabino do rabino que não quer discutir religião com o gato do rabino. Em banda desenhada. Com esta (estranha) base, Sfar – as suas personagens por si, com o gato (do rabino…) à cabeça – dissertam sobre Deus, religião (não, nem sempre é a mesma coisa), valores, costumes e tradições judaicos (que poderiam dar origem às mesmas questões e confusões se se tratasse dos costumes e tradições católicos), política, racismo, integração de emigrantes (argelinos, tunisinos, africanos em geral, judeus, turcos ou árabes) em França (ou noutro lado qualquer), arte, cultura, laços familiares, relacionamento homem/mulher e ser humano/animal, oportunismo, responsabilidade, dedicação… e até sobre a origem judaica (?) ou árabe (?) do seu próprio nome! Ou seja, de forma resumida, se tal é possível, um verdadeiro tratado sobre a vida e muitas das questões que afectam o ser humano. Hoje, como no tempo do rabino (e do seu gato, e da sua filha…), a comunidade judia sefardita argelina do início do século XX. Sfar fá-lo de forma inteligente e culta, com um olhar crítico e questionador, mas também de forma simples (aparentemente simples, os temas referidos são bem complexos…) e divertida, com uma ironia subtil e deliciosa, que obriga a ler e reler, para melhor apreender tudo o que o autor quer transmitir. Ou melhor, para podermos reflectir – e tomar posição? – sobre as questões que ele levanta sem responder. Mostrando o nosso mundo através dos olhos de uma gato (de um rabino…). Vale o que vale e até posso estar a ser algo precipitado, mas, numa colecção que tem vários volumes muito recomendáveis, este é – será - sem dúvida, o mais estimulante de todos.

A reter - Um álbum triplo por 7,40 €… - A riqueza, a credibilidade e a espontaneidade dos diálogos de Sfar – veja-se, a título de exemplo, a deliciosa discussão do gato (do rabino…) com o rabino (do rabino…).. - O ritmo de leitura com que conseguiu dotar a obra, apesar da sua planificação rígida (páginas com três tiras de duas vinhetas cada) e da complexidade da sua temática. 

 Menos conseguido - Este álbum deixa de fora os dois últimos tomos da série: Le Paradis Terrestre e Jérusalem d’Afrique. Será que a ASA os vai editar, separadamente ou juntos (aproveitando o filme que estreia em Junho em França)? Não sei dizer. Se não, para não acontecer a O Gato do Rabino o que se passou em tempos (não muito distantes) com algumas das séries que a ASA completa nesta colecção, não teria sido mais sensato um segundo tomo de Os Incontornáveis da BD dedicado a esta criação (terminada) de Sfar?  

Curiosidade - Depois do filme “Gainsbourg, Vie Heroique”, Sfar trabalha actualmente numa versão animada de O Gato do Rabino, que tem estreia marcada em França para dia 1 de Junho deste ano. Será que vai poder ser visto por cá?

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