13/04/2011

J. Kendall #71

#71 – Morrerei à meia-noite




Giancarlo Berardi e Lorenzo Calza (argumento)
Roberto Zaghi (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Outubro de 2010)
135 x 178 mm, 132 p., pb, brochado, mensal
4,00 €


Resumo
Um desconhecido apresenta-se à criminóloga Julia Kendall, dizendo-se perseguido por uma cigana que desde há alguns dias prevê tudo o que lhe vai acontecer, tendo anunciado mesmo a sua morte para daí a alguns dias.


Desenvolvimento
Como manter mensalmente o interesse de uma série de banda desenhada?
Se a pergunta pode parecer algo estranha aos leitores de BD franco-belga – que podem sempre transpô-la para o conceito de série, tout-court – com certeza fará sentido para quem habitualmente lê comics de super-heróis ou os fumetti dos (não menos heróis) Bonelli. Para além de, certamente, preocupar regularmente os seus criadores.
Curiosamente, a resposta dificilmente escapa a seguir uma de duas vias, aparentemente contraditórias mas, em muitos casos, complementares. Que são: criar um modelo (mais ou menos) rígido, que satisfaça os fãs do herói, ou inovar regularmente para surpreender e (re)conquistar os leitores.
Tex, será o exemplo mais paradigmático do primeiro caso, seguido de perto pela maioria dos super-heróis (e é nesta continuidade que encaixa a necessidade de regularmente ressuscitar os que pelo caminho foram morrendo…).
Julia Kendall, a criminóloga de Garden City, tem no número agora em consideração um belo exemplo do segundo caso.
Desde logo porque não há nenhum assassínio. Também porque co-protagonistas como o tenente Webb ou o sargento Ben Irving estão ausentes – o detective Leo Baxter e Emily são as excepções do elenco regular. Depois, pela multiplicidade de referências cinematográficas e televisivas, perfeitamente inseridas na BD (no texto, no desenho, na planificação…)
Mas, acima de tudo, pelo tom estranho – quase sobrenatural aqui e ali – que o enredo assume. Porque, começando pelas previsões certeiras de uma cigana, a história continua pelo envolvimento amoroso de Julia com o (até aí) desconhecido, num tom (ainda) mais intimista (do que o habitual), avança por caminhos oníricos, lança dúvidas no leitor, coloca-lhe questões atípicas, deixa-o ao mesmo tempo na defensiva mas também ávido por conhecer o final.
Que, como se impõe, não deixa de ser inesperado e surpreendente, embora coerente e razoável, de certa forma “repondo a ordem” no universo de Julia.


A reter
- A inovação na continuidade.
- A multiplicidade de referências cinematográficas e televisivas…
- … e a forma como elas estão inseridas na planificação.
- O belo desenho de Zagui, cuja análise “não encaixou” no texto acima, mas que merece ser apreciado com detalhe, em especial nas cenas em que há maior contraste luz/sombra.

Texto publicado originalmente no Tex Willer Blog, a 28 de Março de 2011)

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