11/05/2011

Mezek

Collection Signé
Yann (argumento)
André Juillard (desenho)
Le Lombard (França, Abril de 2011)
320 x 240 mm, 72 p., cor, cartonado
15,95 €


Resumo
1948. O jovem estado de Israel, que acaba de proclamar a sua independência, tenta afirmar-se num período conturbado, rodeado de inimigos e intrigas.
Para o conseguir, contrata aviadores mercenários de todas as nacionalidades, o que não deixa de criar tensões e confrontos com os pilotos judeus.


Desenvolvimento
Se há dias referi aqui Jean-Claude Denis como um dos meus desenhadores de eleição, hoje cabe a vez a outro, André Juillard. Que com aquele, pouco (ou nada) tem em comum.
Onde o traço de Denis é grosso, sujo e quase rude, Juillard aposta em traço fino, limpo e delicado; se os tons predominantes de Denis são sombrios, as pranchas de Juillard irradiam cores quentes, alegria, gosto pela vida. Nada os une, portanto – para lá de serem cultores (bem diferentes) da linha clara – mas ambos me agradam. E se Denis tem tido um percurso gráfico mais homogéneo, Juillard tem-se distinguido não tanto nos seus sucessos mais comerciais (”Les sept vies de l’épervier” e respectivas sequelas ou na retoma de “Blake e Mortimer) mas mais em obras que se adivinham mais pessoais: desde logo o magnífico “Le cahier bleu” (seguido de “L’Aprés la pluie”), “Les Voyages de Lena” ou este “Mezek”.
Para concluir esta referência ao grafismo de Juillard, uma nota para o seu rigor e realismo, expresso no tratamento da figura humana, nos cenários, nos veículos – neste caso concreto em especial nos aviões, merecendo destaque a credibilidade e a leveza dos combates aéreos.
Mas, sendo justo, tenho que vincar que o interesse de “Mezek” vai bem além do magnífico traço de Juillard (o que é uma mais valia), começando logo pelo período abordado, rico em contradições, conflitos e dúvidas.
Porque, se bem que inebriado pela independência acabada de declarar unilateralmente, o novo estado de Israel passava por lutas internas de poder, por choques constantes sobre os caminhos a seguir, pela pressão exercida pelos vizinhos muçulmanos, em especial pelos egípcios, responsáveis por constantes bombardeamentos sobre a capital, Telavive, e pelos ex-colonizadores britânicos, com quem as relações eram tensas e periclitantes. Um início que assentou, por exemplo, na contratação de mercenários, nalguns casos ex-inimigos, na compra de aviões Messerschmit) alemães (ex-nazis…), no tráfico e contrabando de peças, armas e até aviões…
Tudo isto, é explanado com mestria por Yann, de forma ao mesmo tempo clara e completa mas leve, não sobrecarregando a história que – assente numa sólida base histórica que perpassa todas as suas pranchas – tem como motor, maioritariamente, os relacionamentos entre os pilotos que lutam nos ares em defesa de Israel. Movidos pelo dinheiro, a ambição, o idealismo e/ou a utopia…
De um lado os pilotos locais, judeus - pertencentes a diferentes facções… - inexperientes e revoltados pelo pagamento principesco dos mercenários contratados. Do outro, estes últimos, muitos deles ases da II Guerra Mundial recém-concluída, com a dupla função de pilotar e formar os judeus. O conjunto resulta num clima de tensão constante e muitos conflitos na base em que todos têm de (con)viver.
Entre os mercenários destaca-se o sueco Björn, alvo das atenções de três belas mulheres: a norte-americana Jackie e as israelitas Tzipi e Oona. Björn, em quem se centram as atenções, que guarda não um mas dois segredos relacionados com o seu passado – de sentidos opostos, até (!), que é impossível deixar entrever sem estragar o prazer da sua descoberta na leitura - que, uma vez descobertos porão em causa, quer a sua relação com aquelas mulheres, quer a sua posição no seio da esquadrilha israelita, quer as razões que o movem no seu envolvimento na causa israelita.


“Mezek” é, assim, desde os bombar-deamentos das primeiras páginas, que marcam logo o tom algo cru, duro e violento do álbum e definem as condições difíceis em que evoluem as suas personagens, que ostentam cicatrizes (interiores) que custam a sarar, um verdadeiro boião de tensões, de conflitos latentes, de contradições difíceis de explicar e difíceis de aceitar, que ameaçam explodir a qualquer momento e destruir o instável equilíbrio em que, na prática, viveu o estado de Israel nos seus primeiros tempos de vida.

A reter
- A consistência histórica do relato e a sua completa integração no lado ficcional do relato.
- O traço (e a cor) de Juillard, belo, realista, preciso, expressivo, sedutor, dinâmico…


Menos conseguido
- A excessiva parecença entre algumas personagens.
 A frase
- “O que me agradou foi o simbolismo do Estado de Israel salvo pelos Messerschmitt alemães. É uma alegoria maravilhosa. Foi o meu ponto de partida.” (Yann)

Curiosidades
- “Mezek”, termo checoslovaco para “mula”, era a designação usada para referir os aviões alemães Messerschmitt.
- Surpresa! Descubra na vinheta ao lado, ao fundo, duas personagens bem conhecidas que Juillard também já desenhou!




1 comentário:

  1. viva

    concorre

    Ganha um Perseu!!!

    http://btoys.blogspot.com/2011/05/super-concurso-my-best-toys-4.html

    abraço

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