18/06/2011

Canivete Esquisito na Mundo Fantasma

Data: 18 de Junho a 10 de Julho de 2011Local: Galeria Mundo Fantasma, loja 510, Centro Comercial Brasília, Porto
Horário: de 2ª a sábado, das 10h às 20h: Domingos e feriados, das 15h às 19h

Abre hoje ao público, pelas 17H00, a exposição CANIVETE ESQUISITO no extraordinário equilíbrio dos Finalistas do Curso de Licencuiatura em Artes/Banda Desenhada/Ilustração da Escola Superior Artística do Porto – Guimarães, com a presença dos autores.
Mariana Teixeira (Porto, 1988), Rui Teixeira (Vila Nova de Gaia, 1987), Adriano Silva (Paços de Ferreira, 1990)
Pedro Costa, (Vila Nova de Gaia, 1983), David Dias (Paços de Ferreira, 1990), Fábio Moura (Paços de Ferreira, 1989)
Hugo Silva (Póvoa de Varzim, 1990), Vânia de Magalhães (Lisboa, 1989), Cláudia Loureiro (Aveiro, 1989)
Pedro Barros (Coimbra, 1988), Diana Carvalho (Porto, 1990)
Cada um de nós, autores dos trabalhos aqui expostos, é uma peça de um canivete que se decidiu chamar esquisito para melhor ilustrar o todo heterogéneo que se compôs das nossas singularidades.
A forte convivência durante os três anos do curso aproximou-nos e muitas foram as descobertas que fizemos em conjunto, mas chegados a este ponto, sentimos que está na altura de seguirmos a nossa própria direcção.
Assim como apenas do conhecimento e exploração de cada peça por si mesma se faz justiça ao canivete.
A individualidade pode fazer de nós autores, mas é em colectivo que atingimos um perfeito equilíbrio.

Mudar de Pele
É sempre curioso ver uma exposição de finalistas, seja de que curso for. É um pouco como encontrar uma pele de cobra na estrada, quando se é criança, ou se habita na cidade. A estranheza do achado leva-nos a permanecer ali um bom bocado, de cócoras, pensativos. Depois erguemo-nos e mais pensativos ainda olhamos em redor, imaginando o paradeiro da cobra e a sua nova pele. Como será ela? Terá novas cores, certamente…
Lembro-me de ficar extremamente ansioso enquanto estudante, quando pensava no meu futuro. Matriculei-me em Design de Comunicação (artes gráficas) e cedo percebi que não me interessava muito trabalhar nessa área, fugindo todo o meu interesse para aquilo que na altura seria mais um vício do que uma actividade séria ou viável, a banda desenhada. Ora se as oportunidades de trabalho para um designer na altura já não eram famosas, quanto mais para um autor de bd, ainda por cima medíocre, pensava eu.
Acabei o curso e a solução mais lógica, simples, racional, inclusivamente aconselhada por familiares e amigos, foi a que tomei, a de ir dar aulas para o ensino básico. Um emprego que me permitia ter algum tempo para me dedicar ao meu “vício”, pois que era disso que se tratava. Vivi durante dois anos no Ribatejo profundo, num isolamento quase total, em que as únicas pessoas que via durante a semana eram os alunos na escola, e alguns colegas menos furtivos com quem por vezes me cruzava, nos corredores. Nestas condições naturalmente intensifiquei o meu fascínio pela banda desenhada, que funcionava como um escape para uma realidade tremendamente monótona (e até repressiva, sob vários aspectos que não importa agora referir). Passava o tempo nas aulas desejoso de regressar a casa e desenhar. Praticamente todos os fins-de-semana ia a Lisboa com o exclusivo propósito de comprar mais livros. Assim gastava parte substancial do meu ordenado, só para me sentir vivo.
Ao fim desses dois anos despedi-me, voltei ao Porto e envolvi-me com o máximo de pessoas que partilhavam do meu interesse pelo médium, e com as quais me identificava em vários níveis. Voltei a viver de forma algo precária, fazendo biscates para poder estar junto das pessoas com quem queria trabalhar, em inúmeros projectos artísticos\editoriais. Como é óbvio nenhum deles deu algum dinheiro, mas recebia sempre uma enorme satisfação pessoal, e aos poucos sentia que ia evoluindo enquanto autor, tornando-me mais versátil, experiente, descobrindo a minha voz…
Ao mesmo tempo as pessoas em geral iam reparando na insistência com que nós apresentávamos trabalho, na nossa perseverança. Quanto mais não fosse, só por causa disso começámos a ficar mais conhecidos, no meio e não só, o que abriu imensas portas, alimentando o nosso entusiasmo...
Conclusão: Hoje sei que não vale a pena dar conselhos a ninguém, nem tão pouco fazer grandes planos. E também sei que ninguém foge por muito tempo à sua natureza. Sorte é o que vos desejo a todos.
Um grande abraço, (e não voltem a chamar-me professor!)
Marco Mendes

(Texto da responsabilidade da organização)

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