As instalações da revista satírica francesa Charlie Hebdo foram destruídas anteontem de madrugada por um incêndio causado por um cocktail Molotov, previsivelmente lançado por fundamentalistas islâmicos. O atentado, que surge na sequência das ameaças que a publicação tinha recebido nos últimos dias, não foi reivindicado e terá sido a resposta ao número 1011 da revista, ontem posto à venda em França, que trazia na capa uma imagem do profeta Maomé, “convidado” para dirigir esse número, intitulado “Charia Hebdo”, a propósito da vitória do partido islamita Ennahda nas recentes eleições tunisinas.
Na caricatura, o profeta ameaça dar “100 chicotadas a quem não morrer de riso”. No miolo da publicação, a par das suas rubricas habituais, há diversos desenhos e artigos que têm os fanáticos religiosos como alvo e um editorial assinado por um tal “Mohamed Rassoul Allah” cujo e-mail é leprophete@charliehebdo.fr...
Os dois andares do edifício, recentemente ocupados pela publicação, ficaram completamente destruídos, o mesmo tendo acontecido com todo o equipamento informático. Ao mesmo tempo o site da revista era vítima de pirataria informática, sendo substituído por uma mensagem integrista islâmica.
As primeiras notícias indicam, no entanto, que a sobrevivência da revista não está em causa, uma vez que os seus arquivos em papel e digitais estavam noutro local. Entretanto, já diversos jornais franceses ofereceram as suas instalações para alojarem provisoriamente a “Charlie Hebdo” tendo o presidente da câmara de Paris feito uma proposta no mesmo sentido.
Durante a manhã de ontem os diversos colaboradores da revista, visivelmente abalados, foram passando pelo local. Charb, o desenhador que dirige a revista afirmou que os “autores do atentado não são verdadeiros muçulmanos”, acrescentando que o incêndio serve “os interesses da Frente Nacional” (partido de extrema-direita francês). E, com algum humor, acrescentou: “Nós combatemos os integristas com desenhos, textos e papel… e o papel arde bem.” Na mesma linha, Luz, autor do desenho de Maomé, ironizou: “A primeira vez que um islamista se serve de um cocktail, é para enfiá-lo pela nossa garganta abaixo”.
Entre as primeiras reacções ao sucedido contam-se as de Dominique Sopo, presidente do SOS Racisme, que afirmou : “A democracia é o direito à blasfémia. Os que cometeram este atentado são inimigos da democracia. Isto foi um auto de fé de que a Charlie Hebdo foi vítima”.
Entretanto, o primeiro efeito do atentado foi uma corrida aos quiosques, tendo a “Charia Hebdo” esgotado em poucos minutos em muitos pontos de venda. Uma situação similar à que se passou quando a “Charlie Hebdo” publicou as caricaturas dinamarquesas do mesmo profeta Maomé, em 2005, num número cujas vendas ultrapassaram os 400 mil exemplares. O que será sem dúvida um balão de oxigénio para a revista, que desde há alguns meses está a ultrapassar problemas financeiros.
A revista “Charlie Hebdo” existe desde 1970, tendo sido criada por Georges Bernier e François Cavanna, uma semana após a proibição pelo governo francês da “Hara-Kiri Hebdo”, nascida dois anos antes, na sequência dos ventos de mudança introduzidos pelas manifestações de Maio de 1968, mantendo a mesma linha satírica, contundente e incómoda, que não poupa ninguém nem respeita qualquer tabu.
(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 3 de Novembro de 2011)
Olha Pedro... nem vou tecer comentários acerca disto.
ResponderEliminarSenão começo para aqui a vomitar frases e depois chamam-me racista e outras coisas afins...
Eu sabia bem o que fazer com esta gente!
Abraço
Olá Bongop,
ResponderEliminar"Esta gente" de que falas, é apenas um punhado de radicais, que existem tanto entre os muçulmanos como entre os católicos ou os budistas, entre negros, brancos ou amarelos, entre portistas, sportinguistas ou benfiquistas...
E eu também sei o que se lhes havia de fazer... não fosse cair nos mesmos extremismos que eles...
Boas leituras... da Charlie Hebdo!