30/04/2012

20 Ans fermé

Un récit pour témoigner de l'indignité d'un système












Sylvain Ricard (argumento)
Nicoby (desenho)
Futuropolis (França, 8 de Março de 2012)
215 x 290 mm, 104 p., cor, cartonado
17,00 €

Resumo
“20 Ans fermé” acompanha Milan ao longo dos 20 anos de prisão a que foi condenado em 1985, retratando as condições de vida dos reclusos nas prisões francesas.

Desenvolvimento
Este é um relato comprometido com uma causa. Que, por isso, não se pretende ser isento nem objectivo. O que não é sinónimo de parcialidade ou de um olhar deformado.
Porque, apesar do comprometimento dos autores pela (sua) causa – a denúncia das condições de vida dos presos nas penitenciárias francesas - e do retrato incómodo – no mínimo – feito das várias prisões por onde o protagonista vai passando, Milan – ao contrário de muitos detidos cinematográficos e televisivos - não surge aos olhos dos leitores como um herói ou sequer um “coitadinho”.
Ele é mostrado como alguém justamente detido, cujas acções e reivindicações, nem sempre pacíficas – teriam (algum) sucesso se fossem de outra forma? – lhe granjearam uma fama de anarquista e de desordeiro e muitos anticorpos no sistema prisional, o que acaba por o tornar num alvo preferencial para a repressão exercida sobre os presos.
Nada de novo, portanto, que não tenha sido visto e exposto, inúmeras vezes, nomeadamente em filmes e séries de TV. Porque a falta de condições de higiene, a falta de intimidade, a coacção física e psicológica exercida sobre os detidos, o direito à diferença, a sobrelotação das prisões, a prepotência dos guardas, um sistema prisional velho e de há muito direccionado para a repressão, não são exclusivo de França. Por isso, também, se pode dizer que esta é uma narrativa universal.
E que levanta, mais uma vez, questões – também elas universais – que não são de resposta fácil nem única: onde encontrar o equilíbrio entre a (justa) punição de quem transgrediu a lei e a propiciação de condições de vida (sem liberdade) dignas? Até que ponto uma cadeia (que não é, de forma alguma, uma estância de férias) pode – deve - ir na limitação dos direitos e liberdades individuais de cada um? Como conseguir que o tempo passado preso contribua para a reintegração do detido na sociedade e não para o tornar ainda mais marginal e revoltado? Como fazer do tempo passado a cumprir pena uma oportunidade de requalificação e a não a aprendizagem de novas formas de defraudar a lei e a sociedade ou a iniciação em vícios?
Questões para as quais a sociedade ainda não encontrou – ou raramente encontrou – respostas. Que também não existem neste álbum de Nicoby e Ricard, de grande legibilidade, desenhado com traço duro e agreste o que torna mais credível o ambiente prisional em que a acção decorre e protagonizado por seres humanos de olhar triste e taciturno. E cujo mérito reside no facto de - mais uma vez - abordar o tema, possivelmente de uma forma mais forte pelo seu lado pictórico, propiciando – mais uma vez também – o reabrir – o continuar? – de uma discussão indiscutivelmente necessária.

A reter
- O facto de Milan não ser apresentado como herói nem vítima, apesar do incómodo inegável que muitos dos tratamentos a que é sujeito provocam no leitor.
- A grande legibilidade do relato, apesar de alguns saltos temporais – inevitáveis – a que este está obrigado.

Curiosidade
Esta banda desenhada baseia-se na experiência pessoal de Milko Paris, fundador da associação Ban Public – que apoiou a edição deste álbum e providenciou a sua distribuição nos centros penitenciários franceses – que se dedica a denunciar as condições de vida nas prisões de França.

 

29/04/2012

Melhores Leituras

Abril 2012



Persépolis (Contraponto)
Marjane Satrapi



Rassat e Orhun



Le Combat ordinaire (Dargaud)
Larcenet



Van Hamme e Rosinski



Insane (Casterman)
Besse e Le Galli



Bravo les Brothers (Dupuis)
Franquin


28/04/2012

As Estantes do Pedro (I)









“A pedido de várias famílias”, para usar uma fórmula em tempos idos usual, começo hoje a apresentar aqui as minhas estantes.
Nesta primeira panorâmica da minha BDteca são visíveis a vitrine com figuras da DC Comics, um giclée de Craig Thompson, os álbuns (ordenados por desenhador) de Achdé a Graton (nas portas inferiores) e as “secções” dos livros de consulta (alguns…), Astérix, Tintin, Franquin e Blake e Mortimer…
Mais fotos das minhas estantes aqui e aqui...

27/04/2012

Gringos Locos













Yann (argumento)
Schwartz (desenho)
Dupuis (Bélgica, sem data anunciada)
48 p., cor





Regresso a “GringosLocos” para anunciar que este álbum vai finalmente ser posto à venda no mercado francófono no próximo dia 4 de Maio.
Narração ficcionada de uma famosa viagem aos Estados Unidos e México feita por Jijé com a mulher, quatro filhos, Franquin e Morris, nos anos 50, teve o lançamento inicialmente anunciado para 12 de Janeiro, mas foi diversas vezes adiado devido à controvérsia que opôs os descendentes de Jijé e Franquin aos autores, Yann e Schwartz.
Agora, após obtenção de um acordo, mediado pela editora Dupuis, o álbum será finalmente posto à venda, aumentado de um caderno de 10 páginas com fotos dessa viagem e uma longa entrevista de José-Louis Bocquet a Benôit Gillain, um dos filhos de Jijé, na qual ele evoca muitas das memórias que guarda dessa verdadeira odisseia e esclarece, contextualiza ou complementa, os aspectos da banda desenhada que chocaram os filhos de Jijé e a filha de Franquin pelo retrato distorcido dos seus pais e os levaram a oporem-se inicialmente à edição desta obra.
Direito de resposta para uns, limitação à liberdade de expressão para outros, a polémica levantada por este caso – que certamente só existiu devido à importância dos três autores em causa no panorama da BD franco-belga - não ficará certamente por aqui e, para além de ter servido como uma boa campanha publicitária extra para um álbum, de si já muito aguardado, poderá ter aberto precedentes que só o futuro confirmará.
Se em termos puramente criativos, o dossier nada adianta ao álbum que (man)tém muitos motivos de interesse, pois está bem escrito e desenhado e é francamente divertido, em termos históricos revela-se determinante pois ajuda a compreender – no seu tempo - e a conhecer melhor três homens – três autores de banda desenhada de excepção - que marcaram uma época e cujas obras continuam actuais e a serem (re)lidas hoje em dia e contribui decisivamente para a escrita de (mais) uma página marcante da História das histórias aos quadradinhos criadas na Bélgica e na França.

 


26/04/2012

Às Quintas Falamos de BD

Encontro Abril na BD

O CNBDI organiza mais uma edição de Às Quintas Falamos de BD.
Hoje, dia 26 de Abril, às 21 horas, Encontro Abril na BD
Esta iniciativa conta com a participação musical de Manuel Freire, amante confesso de banda desenhada.
A conversa será moderada por João Paiva Boléo e João Miguel Lameiras.
Não falte!
Contamos consigo.

(Texto da responsabilidade da organização)

25/04/2012

Vingadores: da BD para o cinema















O filme “Os Vingadores”, que estreia em Portugal hoje, transpõe para o grande ecrã um conceito que os quadradinhos há muito exploram: os grupos de super-heróis.
Geralmente criados para fazer face a ameaças de grande dimensão, partindo do princípio que o todo é maior do que a soma das partes, servem também para explorar afinidades e rivalidades entre os seus componentes.
O primeiro super-grupo da história foi a Liga da Justiça da América, criada pela DC Comics em 1960, que reunia Superman, Batman, Lanterna Verde, Mulher Maravilha, Flash, Aquaman e Caçador Marciano. A popularidade alcançada despertou na Marvel o desejo de ter uma estrutura idêntica, tendo Stan Lee sido encarregado de a imaginar. Como a editora não tinha então muitos super-heróis, a solução foi a criação do Quarteto Fantástico, que era mais uma super-família. Entretanto, com a criação do Hulk, Homem-Aranha, Homem de Ferro e outros super-heróis, três anos depois Lee e Jack Kirby puderam finalmente transpor o conceito inicial para o seu universo, nascendo assim os Vingadores, a maior aposta cinematográfica da Marvel este ano.
Curiosamente, a película dirigida por Joss Whedon, não segue nenhuma das muitas equipas criadas na banda desenhada ao longo de meio século, reunindo sob a capa dos Vingadores, na esteira das mais recentes adaptações cinematográficas, o Homem de Ferro (interpretado por Robert Downey Jr.), Capitão América (Chris Evans), Thor (Chris Hemsworth), Gavião Arqueiro (Jeremy Renner), Hulk (Mark Ruffalo) e Viúva Negra (Scarlett Johansson) que juntos irão combater Loki, o meio-irmão de Thor.
Há, apesar de tudo, uma aproximação à formação original dos Vingadores criada por Lee e Kirby, que integrava o Homem de Ferro, Thor, Homem-Formiga, Vespa e Hulk, que, no entanto, duraria apenas o tempo de uma história, antecipando as muitas convulsões que os Vingadores tiveram nos quadradinhos, onde chegaram mesmo a conviver mais de quatro dezenas de super-heróis em simultâneo. Para os fãs de comics, possivelmente a fase mais memorável remonta aos anos 70, quando autores como Roy Thomas, neal Adams, George Pérez ou John Byrne estiveram à frente dos destinos dos Vingadores.
Nos últimos meses a Marvel lançou nos Estados Unidos diversos títulos dos Vingadores, entre os quais se destaca “Avengers Assemble” protagonizada pela mesma formação do filme e, nos últimos dias, disponibilizou gratuitamente no seu site, para leitura online, “Avengers: Heroes Arise #1” , uma banda desenhada escrita por Jeff Parker e desenhada por Manuel Garcia, resultante de uma parceria entre a Marvel Comics e a mítica marca de motos Harley-Davidson.

24/04/2012

Os nossos Mutts











Patrick McDonnell
Devir (Portugal, Fevereiro de 2012)
215 x 225 mm, 128 p., pb, brochado
12,99 €



1.      Há muito anunciada na caixa aqui ao lado, a das “Próximas Leituras”, esta nova colectânea de Mutts, a quinta lançada em Portugal pela Devir…
2.      (depois da sua introdução entre nós pela BaleiAzul de José Abrantes)
3.      … é mais uma daquelas edições imperdíveis, cuja recensão, por uma ou outra razão fui adiando.
4.      Desde logo, porque sei que tudo o que escreva sobre ela, será sempre pouco para justificar a frase que atrás deixei.
5.      Vou, mesmo assim, tentar fazê-lo – devo-o aos meus leitores, à Devir, ao autor - embora com a premissa (a consciência…) de que só a leitura do álbum permitirá assimilá-la na sua totalidade.
6.      Tira diária de imprensa, com protagonistas animais – o cão Earl e o gato Mooch – Mutts foge completamente aos habituais estereótipos do género.
7.      Primeiro, pela grande ternura que dela emana.
8.      Antes do humor, que é notável…
9.      Antes do nonsense que perpasse por todas as pranchas…
10. Antes da paixão pelos animais, que é evidente…
11.  Antes da poesia, que a distingue de qualquer outra tira diária – de qualquer outra BD? - …
12.  Mutts destaca-se pela enorme ternura com que McDonnell traça os dois animaizinhos, os seus donos, os outros animais (tigres, pássaros, caranguejos…) com quem se vão cruzando, e o seu quotidiano, simples, corriqueiro e banal mas sempre surpreendente e renovado, pleno de descobertas.
13.  Depois – de tudo o mais que entretanto atrás também referi – Mutts também se diferencia pelo facto de os protagonistas assumirem, indiferenciadamente, posturas animais ou (semi-)humanizadas, conforme as circunstâncias pedem.
14.  Enquanto animais, revelam-se curiosos, brincalhões, ingénuos, surpreendentes, imprevisíveis, revelando um desenhador fabuloso pela forma como plasma no papel, com traço enganadoramente simples mas de grande graciosidade e agilidade, os seus esgares, movimentos, corridas ou espreguiçadelas.
15.  Enquanto animais antropomorfizados (apenas na ausência dos donos), falantes (entre si), de comportamento semi-humano sem perderem o distanciamento do real que a sua animalidade lhes confere, podem ser sarcásticos, admiravelmente certeiros, incomodamente críticos e, mais uma vez, avassaladoramente ternos.
16.  Entre o cão e o gato…
17.  Entre a ingenuidade de Earl e a maldade felina de Mooch…
18.  Entre o sotaque deliciosamente parolo deste último e o linguarejar simples daquele…
19.  Entre a ignorância (intelectual) de ambos e a infinita sabedoria (de experiência feita – ou a fazer!) que partilham…
20. … ao leitor só resta escolher os dois.
21.  E levá-los para casa, sentar-se confortavelmente – se eles não tiverem já ocupado o sofá… - e desfrutar, vez após vez, das suas brincadeiras e tropelias, das suas aventuras e descobertas, com a certeza de boa disposição, de muita poesia, de uma imensa ternura e de uma sensação de bem-estar que raras leituras proporcionam.


23/04/2012

Dampyr regressa a Portugal














A zona vinícola do Douro e a zona ribeirinha do Porto e de Vila Nova de Gaia vão ser palco de uma aventura aos quadradinhos de Dampyr, “Tributo di sangue”, a publicar em Junho, em Itália, no número 147 da revista mensal com o seu nome, cuja capa e duas pranchas são aqui apresentadas em estreia mundial.
A história, que “faz parte do ciclo dedicado a Thorke, um demónio da Dimensão Negra que leva os seus seguidores ao canibalismo”, segundo o argumentista, Giovanni Eccher, “faz referência a vários aspectos histórico-geográficos do local em que é ambientada: o vinho do Porto e as caves de Vila Nova de Gaia, a especificidade cultural de Miranda do Douro e as perseguições aos judeus perpetradas pela população cristã e pela Inquisição portuguesa no século XVI”.
A escolha desses locais fica a dever-se, segundo Eccher, ao facto de ter ficado “impressionado com eles durante uma belíssima viagem a Portugal”. Apesar de só conhecer a zona ribeirinha “como turista que passou ali alguns dias”, considera-a “espectacular do ponto de vista cenográfico”, tendo imaginado “no local uma cena de acção na ponte Luís I”, que depois inseriu no seu argumento, que inclui diversas personagens portuguesas e mesmo “um fantasma que se manifesta com um traje típico mirandense”.
O desenho esteve a cargo de Maurizio Dotti, que confessou nunca ter tido “o prazer de visitar a zona ribeirinha do Douro”, embora a considere “certamente belíssima, a julgar pelas fotos” cedidas pelo argumentista, nas quais se baseou para a desenhar, tendo sido a sua maior dificuldade “tornar os lugares e itinerários reconhecíveis”.
Protagonista de histórias fantásticas de terror, cujas primeiras 12 revistas foram distribuídas em Portugal, na versão brasileira da Mythos Editora, em 2005, Dampyr (designação de um filho de uma humana e de um vampiro) é uma personagem da Sergio Bonelli Editore, responsável também pelos grandes sucessos dos fumetti (BD popular italiana) que dão pelo nome de Tex e Zagor.
De seu nome Harlan Draka, foi criado por Mauro Boselli e Maurizio Colombo em 2000, dedicando-se a caçar vampiros e demónios, sendo a segunda vez que isso o traz até Portugal, pois em 2006, em "Lo sposo della vampira" (Dampyr #75), já tinha passado por Trás-os-Montes.

Este texto e as respectivas entrevistas não teriam sido possíveis sem a inestimável colaboração de José Carlos Pereira Francisco, para os contactos com os autores e a Sergio Bonelli Editore, e de Julio Schneider, para a tradução das questões e das respectivas respostas. A ambos o meu muito obrigado.

(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 14 de Abril de 2012)

Entrevista a Maurizio Dotti

Sinto-me fascinado pelas cidades cheias de história”










A edição em Junho próximo, na revista Dampyr #147, da história “Tributo di sangue”, que traz aquele herói da Sergio Bonelli Editore de novo a terras portuguesas, foi o pretexto para uma pequena conversa com o seu desenhador, o italiano Maurizio Dotti.

As Leituras do Pedro - De que trata esta história de Dampyr?
Maurizio Dotti - A trama, ambientada entre a cidade do Porto, Vila Nova de Gaia e Miranda do Douro, começa com a aparição de um fantasma inquieto, testemunha de um terrível passado distante, do século XVI, feito de inquisição e minoria judaica, que aparece à boquiaberta e sensitiva Maud Nightingale, que fica bastante curiosa. Na tentativa de descobrir quem é a pessoa que se esconde por trás da aparição fantasmagórica, os nossos heróis conhecerão a terrível verdade ligada a Torke e aos seus truculentos rituais antropofágicos que, como uma aura de morte, paira sobre uma importante e antiga cave vinícola. É o que eu posso dizer, o resto é um mistério.

ALP – Conhece as cidades de Porto e Vila Nova de Gaia?
MD - Não! Infelizmente nunca tive o prazer de visitá-las, mas pelo que as fotos me mostraram, são certamente cidades belíssimas.

ALP - Que documentação utilizou para as retratar na BD?
MD - Eu recebi do óptimo Giovanni Eccher uma grande quantidade de imagens realmente muito bonitas, escolhidas com o gosto formal de um realizador de um filme, coisa que afinal ele é.

ALP - Quais as maiores dificuldades que enfrentou para a desenhar?
MD - Uma dificuldade é a de tornar os lugares e itinerários reconhecíveis. Nem sempre as fotos, por mais bonitas que sejam, mostram com clareza o que se deve desenhar. Eu tenho uma certa dificuldade em realizar graficamente as figuras fantásticas, por isso sou sempre muito crítico e hesitante, quando tenho de as fazer.

ALP - Que relação existe na história entre os produtores de vinho e os extraterrestres?
MD - Mais que de extraterrestres, eu falaria de figuras evanescentes, aparições fantasmagóricas. De todo modo, eu não posso responder a essa pergunta, seria como revelar quem é o assassino num romance policial, não acha?

ALP - Que outra cidade portuguesa gostaria de desenhar?
MD - Certamente Lisboa. Eu creio que ali há muitos lugares interessantes para reproduzir. Eu sinto-me fascinado pelas cidades cheias de história. Eu tive a oportunidade de visitar muitas delas no meu distante passado de actor teatral andarilho e, naquelas ocasiões, eu gostava de captar os melhores ângulos com papel e aquarela. Odeio desenhar as cidades modernas: eu sou um verdadeiro dinossauro!

Esta entrevista não teria sido possível sem a inestimável colaboração de José Carlos Pereira Francisco, para o contacto com o autor e a Sergio Bonelli Editore, e de Julio Schneider, para a tradução das questões e das respectivas respostas. A ambos o meu muito obrigado.


Entrevista a Giovanni Eccher

“Porto e Gaia são espectaculares do ponto de vista cenográfico”




  

A edição em Junho próximo, na revista Dampyr #147, da história “Tributo di sangue”, que traz aquele herói da Sergio Bonelli Editore de novo a terras portuguesas, foi o pretexto para uma pequena conversa com o seu argumentista, o italiano Giovanni Eccher.

As Leituras do Pedro - De que trata esta história de Dampyr?
Giovanni Eccher - O volume faz parte do ciclo de histórias dedicadas a Thorke, um demónio da Dimensão Negra que leva os seus seguidores ao canibalismo. Como é tradição em Dampyr, a trama faz referência a vários aspectos histórico-geográficos do local em que é ambientada: o vinho do Porto e os exportadores de Vila Nova, o enclave cultural de Miranda do Douro, as perseguições aos judeus perpetradas pela população cristã (o massacre de Lisboa) e pela Inquisição portuguesa no século XVI.

ALP - Porquê situá-la no Porto e em Gaia?
GE - A história começa no Porto mas depois desloca-se para todo o vale do Douro: parte das construções de Vila Nova de Gaia e chega a Miranda do Douro, para depois voltar para os vinhedos dos produtores do Porto no meio dos quais se imagina que há um mosteiro que, embora inventado, é graficamente inspirado em vários conventos e mosteiros portugueses, como o Convento de Cristo em Tomar e o Mosteiro de Santa Maria em Alcobaça.
O motivo por que a trama é ambientada nesses lugares é muito simples: eu fiquei impressionado durante uma belíssima viagem a Portugal. Além disso, como a minha namorada é dona de uma enoteca em Milão, ela foi a minha guia entre os exportadores de Vila Nova de Gaia, que nos acolheram com muita cortesia e nos permitiram visitar as suas caves e provar os seus produtos - rigorosamente fora dos percursos turísticos. Desde então sou cliente da Quinta de Ervamoira de Ramos Pinto.
Na história também há um fantasma que se manifesta num trajo típico mirandense, um traje que achei realmente inquietante: quase tanto quanto os próprios mirandenses! Brincadeiras à parte, é gente muito hospitaleira. Só um pouco estranha.

ALP – Conhece então as cidades de Porto e Vila Nova de Gaia?
GE - Conheço tanto quanto pode conhecer um turista que passou alguns dias ali. Por não ter um conhecimento aprofundado, eu contentei-me em usá-las como cenários. Trata-se de cidades muito espectaculares do ponto de vista cenográfico: por exemplo, há uma cena de acção que acontece na ponte Luís I, que eu imaginei no local e depois inseri no roteiro quando regressei a Itália.

ALP - Algum português tem intervenção relevante na história?
GE - Há mais de um! À parte as personagens pertencentes à série (Harlan, Maud Nightingale e Dean Barrymore), todas as outras são portuguesas. Temos um exportador de vinhos de ascendência inglesa, uma corajosa estudante de Coimbra, o espírito de uma locandeira marrana do século XVI e outras personagens coadjuvantes. Quais são os seus papéis específicos, não posso dizer para não estragar a surpresa.

ALP - Tem planos para novas aventuras de Dampyr em Portugal?
GE - Como as aventuras de Harlan e dos seus parceiros acontecem em todo o mundo, é possível que um dia eles voltem a Portugal, numa história minha ou de outro autor (e esta também não é a primeira vez: Harlan já tinha estado em Portugal no número 75, "Lo sposo della vampira", de Boselli e Bocci). Pessoalmente, não tenho programada outra história portuguesa, mas nunca se sabe.

Esta entrevista não teria sido possível sem a inestimável colaboração de José Carlos Pereira Francisco, para o contacto com o autor e a Sergio Bonelli Editore, e de Julio Schneider, para a tradução das questões e das respectivas respostas. A ambos o meu muito obrigado.