20/09/2012

Spirou e Fantásio #50

Nas Origens do Z
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Morvan e Yann (argumento)
Munuera (desenho)
ASA (Portugal, Julho de 2012)
218 x 300 mm, 56 p., cor, cartonado
12,90 €
 
 
 
Resumo
Para salvar Miss Flanner, condenada à morte devido a uma dose excessiva de radiação sofrida na sua juventude, Zorglub tenta convencer Spirou a efectuar diversos saltos temporais com o intuito de estar presente naquele momento trágico e evitá-lo.
 
Desenvolvimento
Este é o álbum “maldito” (no mercado francófono) – que a ASA, por outros motivos, acredito, tinha saltado na sua cronologia – que levou ao afastamento de Morvan e Munuera dos destinos do antigo groom de hotel.
A razão para isso foi, sem dúvida, o seu tom demasiado adulto para o contexto da série – com um cancro terminal como centro da trama… - demasiado taciturno mesmo, com um final de todo inadequado (de novo no contexto global da série…) e que permitiria mudar radicalmente a personagem – ou pelo menos – o seu futuro.
A Morvan e Munuera aconteceu o mesmo que tinham experimentado Tome e Janry quando criaram o também muito estimulante (e adulto…) Máquina que sonha.
E, tal como neste último título, é pena que este álbum seja o fechar de um ciclo (que “Paris submersa” de algum modo já antecipava, embora não certamente com tanta amplitude) pois poderia abrir um futuro bem diferente para Spirou.
Ou talvez esse fosse um futuro impossível – como na verdade se revelou, dado o afastamento dos autores – pela impossibilidade de se ir mais além sem descaracterizar de todo um herói que resistiu à passagem de tantas gerações.
De qualquer forma – mesmo que detestado pelos “verdadeiros fãs indefectíveis” – esta é, a vários níveis, uma excelente história, bem escrita, bem contextualizada na cronologia da série e bem desenvolvida, assente num traço mais realista do que habitualmente vemos em Spirou, mas muito agradável e eficaz.
Porquê?
Sem revelar mais do argumento, que merece ser descoberto progressivamente na leitura atenta das pranchas, porque revisita – com paixão e (saudável) nostalgia – momentos fulcrais de diversos álbuns anteriores.
Porque dá a Spirou, Zorglub e Pacómio (o conde de Champignac) uma dimensão humana - que os heróis de aventuras raramente têm e que lhes era estranha no âmbito da série – assente em sentimentos e emoções como a amizade e o amor.
Porque – apesar do que atrás fica listado? - mantém presentes aspectos recorrentes das aventuras de Spirou e Fantásio, como o humor, a acção, a disponibilidade para ajudar, os triângulos Spirou-Pacómio-Zorglub e Spirou-Seccotine-Fantásio ou as mirabolantes invenções do conde e de Zorglub.
Conjugando-os, de forma equilibrada, consistente e credível, com a temática das viagens no tempo, cujos paradoxos são bem utilizdosa para surpreender e desconcertar o leitor…
 
Nota final
Parando e relendo o que até aqui escrevi, recordando passagens marcantes deste belo álbum, dou por mim a pensar se aplaudiaria da mesma maneira, um álbum que tratasse de forma semelhante Astérix ou Tintin, criações com as quais cresci e de que tenho maior proximidade, ao contrário do que se passa com Spirou…
Porque, talvez apenas esse distanciamento torne possível apreciar – plenamente - aquilo que outros – mais próximos dele – consideram um crime de lesa-Spirou.
 
 

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