18/10/2012

Astérix entre os Bretões

 

 

 

 

 
 

René Goscinny (argumento)
Albert Uderzo (desenho)
ASA (Portugal, Setembro de 2012)
22o x 290 mm, 48 p., cor, cartonado
12,90 €

  
 
1.       “Astérix e Obélix: Ao serviço de Sua Majestade”, o filme que hoje estreia em Portugal, tem como base “Astérix entre os Bretões”, oitavo álbum da série.

2.      Datado de 1966, transporta os gauleses para o outro lado do canal da Mancha, em resposta a um apelo de Jolitorax, primo de Astérix, cuja aldeia é a única da Bretanha que ainda resiste aos invasores romanos.

3.      Apesar de curta, a viagem, leva-os a descobrir uma realidade bastante diferente: a língua, com a construção frásica invertida, a condução pela esquerda, os esquisitos hábitos alimentares - cerveja morna, javali cozido, água quente com um farrapinho de leite – ou o invulgar hábito de pararem diariamente às cinco da tarde e dois dias por semana.

4.      A fleuma britânica a toda a prova, os Beatles, os estranhos sistemas métrico e monetário, o futuro túnel sob a Mancha (construído apenas 28 anos mais tarde) e a participação num (violento) jogo de râguebi são outros aspectos realçados por Goscinny e Uderzo para elaborarem uma caricatura mordaz e irresistível dos britânicos, revelando-se uma dupla em grande forma.

5.      Uderzo apresenta as qualidades que o distinguiram como um dos grandes desenhadores de humor: composição das páginas, legibilidade do traço, sentido de movimento, expressividade das personagens…

6.      Quanto a Goscinny, mordaz e observador, baseia-se na caricatura de motivos de fácil identificação, na repetição de gags e situações e nos bem conseguidos trocadilhos de palavras, para divertir o leitor.

7.      Entretanto, aproveitando a estreia do filme, a ASA acaba de lançar uma edição com uma capa nova, mais chamativa por ser diferente da habitual já conhecida dos leitores, mas de menor impacto relativamente ao conteúdo do livro.

8.     Esta edição apresenta também o traço preto restaurado e uma nova coloração digital, o que lhe confere um ar mais moderno e o torna mais legível.

9.      Por um lado, porque os pretos estão mais fortes e contrastados, o que é especialmente visível nas cenas mais preenchidas, como acontece nas páginas 46 e 47, e também na definição das fronteiras entre cenários e personagens, sendo este último aspecto reforçado pela utilização de cores mais vivas e fortes e com melhor definição – apesar de um ou outro excesso cromático pontual.

10.  Aliás, esta “actualização” das cores, na minha óptica – o que não significa que a defenda, apenas que a compreendo - só surpreende por ser tardia.

11.   Escrevo-o porque, pelas provas de grande sentido comercial já dadas por Uderzo – e por isso Astérix é o sucesso de vendas que todos sabemos - seria algo para já ter sido feito há mais tempo…

12.  … e o mesmo raciocínio se pode aplicar, aliás, ao redesenhar dos álbuns iniciais, para homogeneizar o traço…
 
(Versão expandida do texto publicado no Jornal de Notícias de 17 de Outubro de 2012)
 
 

6 comentários:

  1. Fiquei intrigado com o fim deste artigo. Redesenhar literalmente os primeiros albuns? Se fôr essa a sugestão não concordo mesmo nada, mas mesmo que se fizesse, ainda haveria a questão prática de se arranjar um artista ao nivel de Uderzo que conseguisse emular o seu traço. Não será essa uma tarefa quase impossivel? Não sei, se calhar percebi mal a sugestão.
    De qualquer forma tenho pena que a unica coisa de diferente neste album seja a capa e as cores. Eu sei que é dificil visto o material desta dupla já ter sido tão explorado, mas gostava de ver mais esboços, rascunhos, qualquer coisa que me levasse a comprar este album.

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    1. Olá Luís,
      Não é uma sugestão, longe disso!
      Apenas refeti a minha surpresa pelo facto de os primeiros álbuns, nos quais o traço de Uderzo ainda não tinha atingido o nível que lhe é reconhecido, ainda não terem sido redesenhados com o objectivo de vender mais uns quantos milhões...
      Quanto à inclusão de esboços e trabalho preparatório, estou plenamente de acordo...
      Boas leituras... originais!

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    2. Sem duvida que ficaria curioso com o resultado de tal experiência. Mas agora falando como alguém que gosta de desenhar, quando vi os primeiros albuns fiquei surpreso mas também deliciado. Ver um mestre como o Uderzo ainda a aperfeiçoar o seu traço e a 'descobrir' ainda todas as personagens que mais tarde viriamos a conhecer tão bem :) Quase que me deu mais alento para continuar a desenhar :)

      Aqui há uns anos, a Asa editou dois albuns desta dupla mas com outros protagonistas, Humpápá um, e o João Pistolão outro. Isso sim, fez-me tirar dinheiro do bolso. Material inédito destes dois para mim é sempre um tesouro :) Pena que a Asa não editou mais.

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    3. Olá Luís,
      Sim, poder seguir a evolução do traço de um desenhador com o nível de Uderzo é um privilégio.
      Conheço coisas mais antigas dele do que o Humpá-pá e o João Pistolão e a diferença é ainda mais notória.
      Quanto a estas duas séries, o Humpá-pá - que inexplicavelmente não conseguiu o sucesso que merecia - está integralmnete editado em português (originalmente foram 5 livros de 32 páginas, depois reunidos em dois volumes) e do João Pistolão existem 2 dos 4 tomos originais...
      Boas leituras... dos primeiros trabalhos de Uderzo!

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    4. Desconhecia de todo que tivessem havido mais numeros do Humpá-pá e do João Pistolão. Quando os comprei estive ainda durante uns tempos atento para ver se apareciam mais, mas pelos vistos não procurei nos sitios certos. Suponho que agora já não haja possibilidade de os encontrar :S É pena. Talvez numa próxima edição especial ou assim.

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    5. Olá Luís,
      A Leyaonline tem disponíveis dois álbuns do Humpá-pá e dois do João Pistolão...
      Boas leituras... de Goscinny e Uderzo!

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