Há 30 anos
chegava aos quiosques o último número do Tintin português que, ao longo de 15
anos, publicou cerca de 750 números com o melhor da banda desenhada
franco-belga.
Essa longa
aventura editorial começou a 1 de Junho de 1968 e destacou-se desde logo pela
sua elevada qualidade gráfica, principal razão para o seu preço elevado – 5$00,
o dobro do seu concorrente, mais popular, o Mundo de Aventuras.
Na chefia
da redacção distinguiram-se dois nomes que fariam dela uma das mais amadas
revistas infanto-juvenis portuguesas: Dinis Machado e Vasco Granja. Os artigos
sobre BD (“Tintin por Tintin”) e o correio dos leitores (“Tu escreves… Tintin
responde”) eram pontos fortes a par, claro está, de um conteúdo seleccionado
entre o melhor que publicavam o seu congénere belga – Tintin, Blake e Mortimer,
Clorifila, Red Dust, Bernard Prince… - e a inovadora “Pilote” – Astérix, Lucky
Luke, Valérian, Bluberry…
Estes e
muitos outros heróis, cujas aventuras eram publicadas ao ritmo de uma ou duas
páginas semanais, terminadas com um desafiador (continua), fizeram vibrar e
sonhar uma geração, aquela que hoje tem maior poder de compra, o que explica
que este seja, actualmente, um dos títulos mais procurados por coleccionadores
e antigos leitores. Por isso, o Tintin português, completo, encadernado com as
capas originais, pode valer cerca de dois mil euros, em função do seu estado.
A aposta em
autores portugueses foi escassa mas ao Tintin coube o mérito de “descobrir”
Fernando Relvas, autor do Espião Acácio ou de L123, que continuaria a brilhar
depois nas páginas do Se7e, e de ter revelado obras mais adultas como Corto
Maltese (de Hugo Pratt), The Spirit (Will Eisner) ou A Sombra do Corvo (Didier Comés).
Os
problemas financeiros que então afectaram a Livraria Internacional, detentora
do título, apressaram o seu final, não anunciado, com histórias incompletas,
num número cuja capa nem sequer apresentava qualquer dos seus heróis, num
triste prenúncio do progressivo desaparecimento das revistas de BD em Portugal.
Nota final:
Para quem quiser fazer uma ideia mais completa do que foi este título,
aconselho o exaustivo Inventário da Revista Portuguesa Tintin,
da autoria de José Vítor Silva, que enumera todas as histórias, séries, autores
e artigos nele publicados.
Caro Pedro,
ResponderEliminarAqui está uma revista num formato que faz falta em Portugal!
A Tintin foi uma das três revistas responsáveis pela formação do meu gosto, e julgo que o de muitos leitores, pela BD, por cinema, literatura, e muitos “etceteras”...
Olá André,
EliminarQue uma revista como o Tintin - ou com outro formato - faz falta, não tenho dúvida, embora os tempos sejam outros e os hábitos de leitura também.
Eu cresci e formei-me com o Mundo de Aventuras, mas li o Tintin quase todo emprestado...
Para mim, a par de muitas qualidades, o grande defeito do Tintin foi "formatar" em excesso os leitores para um único tipo de banda desenhada, o que fez com que muitos abandonassem a leitura de BD quando o modelo franco-belga de aventuras e humor deixou de os satisfazer.
Boas leituras!
Grande revista. Folheio-a regularmente. Há lá duas cartas minhas, respondidas pelo grande V.G.
ResponderEliminarRealmente faz falta uma (ou mais) revistas, mas os tempos mudaram (A propósito, gostei muito do último esforço do Jorge Magalhães nas «Selecções BD». O fim de amabas creio que se deveu a causas idênticas: falência das editoras. Foi pena.)
Caro Ricardo António Alves,
ResponderEliminarObrigado pela participação,
Sim, o Tintin foi uma grande revista e nas suas páginas estão muitos dos meus heróis de referência.
Apesar do que escrevi no comentário anterior, até pela leitura deste blog é evidente a minha preferência pela BD de matriz franco-belga.
Boas leituras!
Provavelmente sou dos privilegiados que tem a colecçãoda revista Tintin completa e ainda hoje into um prazer infinito voltar a folheá-la e rever algumas das belas BD´s que aí decobri.Junto com o Mundo de Aventuras forma duas revistas que me formaram como leitor de BD. e apesar dos tempos serem outros não tenho dúvidas que uma revista com a mesma filosofia faz muita falta em Portugal porque só assim é possível, na minha opinião, criar novos leitores. Mas a revista Tintin tal como o Mundo De Aventuras também devem o seu sucesso às pessoas que eram responsáveis por elas que transpiravam cultura e também Bd por todos os poros.
ResponderEliminarComo eu sinto falta desta coisa. Ainda tenho alguns dos volumes gigantes encadernados mas no final dos anos 70 inicios de 80.
ResponderEliminarSe hoje trabalho em ilustracao devo o meu percurso a esta revista e a todos os autores la presentes.
Actualmente parece que a bd esta morta e enterrada e o mundo é so comics no estilo americano . muito estilo , substancia zero. Por isso ainda tenho mais saudade de uma altura em que se liam realmente historias na banda desenhada.
Agradeço a sua nota final relativamente ao meu trabalho sobre a revista Tintin. E parabéns ao seus excelente blog!
ResponderEliminarCaro Zetantan,
EliminarA nota final é uma questão de justiça, até porque foi uma das fontes que utilizei para escrever este texto.
Quanto ao resto, agradeço as suas palavras.
Boas leituras!
Não do meu tempo quando acabou tinha 5 anitos.
ResponderEliminarOptimus,
EliminarDe qualquer forma, suponho que sabes o que perdeste...!
Agradeço as memórias (que saudosamente partilho) e as boas referências (na parte que me toca), mas sublinho que o êxito de uma revista não depende só dos seus responsáveis – directores, coordenadores ou chefes de redacção – mas também, e sobretudo, dos seus colaboradores. O maior mérito de quem dirige uma qualquer publicação (tal como numa empresa) é o de saber escolher os seus colaboradores e ser capaz, também, de orientá-los e incentivá-los.
ResponderEliminarNo "Mundo de Aventuras" tive a sorte e o privilégiio de contar com um naipe de colaboradores de grande valia que incluiu José de Matos-Cruz, Artur Varatojo, Tharuga Lattas (Sete de Espadas), Luiz Beira, Orlando Marques, Raul Correia, Roussado Pinto, Lúcio Cardador e, na parte artística, José Ruy, José Garcês, Fernando Bento, Vítor Péon, Augusto Trigo, Fernando Relvas, Catherine Labey, Baptista Mendes, Zenetto, Luís Nunes, Luís Louro, João Monsanto, Vassalo Miranda e muitos outros. Abri as páginas da revista a muitos jovens desenhadores (Louro foi um deles), ainda antes do "Tintin", na sua última fase, seguir o mesmo caminho.
Nas "Selecções BD", embora os tempos fossem outros (tinham-se passado mais de 10 anos), tentei seguir a mesma orientação, apoiado pela directora da revista, chamando para o nosso lado gente com pergaminhos na análise crítica e teórica da BD (que, entretanto, evoluíra bastante), como João Lameiras, Ramalho Santos, Paiva Boléo, Pedro Mota, Leonardo De Sá, José de Matos-Cruz, Geraldes Lino, estabelecendo assim mais laços culturais com os leitores, que estiveram sempre connosco até ao fim, pois a revista não diminuiu de tiragem e só foi suspensa quando a Meribérica entrou em dificuldades (como sucedeu, aliás, com o "Mundo de Aventuras").
Claro que o exemplo do "Tintin" e dos seus principais responsáveis na área redactorial – Dinis Machado e Vasco Granja – me serviu de inspiração (assim como o de Roussado Pinto no "Jornal do Cuto"), pois fui um leitor fiel do "Tintin" desde o primeiro número e conheci de perto Vasco Granja (a quem fiquei a dever, aliás, o meu ingresso na Agência Portuguesa de Revistas... mas isso é outra história).
Como este comentário já vai longo, fico-me por aqui, deixando também o meu preito ao "Tintin", ainda presente nas nossas estantes e nas nossas memórias de um tempo bem melhor do que os de hoje. E um abraço de amizade para si também, Pedro.
Jorge Magalhães
Caro Jorge Magalhães,
EliminarObrigado por mais este longo comentário e por desvendar mais um pouquinho das (suas) memórias da edição da BD em Portugal, que era importante passar ao papel...
Entre outras, fica uma questão que as suas palavras me levantaram, embora eu saiba que não é possível responder-lhe: o que teria acontecido ao Tintin, ao Mundo de Aventuras ou às Selecções BD, se os detentores destes títulos não tivessem tido problemas financeiros uma vez que, tanto quanto sei, eram rentáveis. Até onde teriam chegado?
Boas leituras!
Plenamente de acordo com o Pedro Cleto, que o Sr. Jorge Magalhães devia passar a papel as memórias sobre a BD em Portugal.
EliminarJá se perderam tantas...
Caro Labas,
EliminarTemos que pôr a circular um abaixo-assinado nesse sentido!
Se se tornar realidade, fiacmos todos a ganhar!
Boas leituras!
Caro Pedro:
ResponderEliminarDe facto, não sei responder a essa pergunta (nem ninguém saberá, só quem tivesse a capacidade de adivinhar o futuro), mas é óbvio que nenhuma revista, seja de BD ou de outro tema qualquer, pode durar para sempre.
Não acho provável, porém, que o "Tintin" tivesse sobrevivido ao seu modelo original, mesmo com um acervo enorme de material para publicar, nem que o "Mundo de Aventuras" tivesse chegado ao nº 1000 sem se adaptar às novas exigências de mercado e à evolução dos gostos do público, cada vez mais virado para os "mangás" e os super-heróis americanos. O que não era indubitavelmente a sua matriz, apesar de algumas experiências no tempo em que o coordenei...
Quanto às "Selecções" BD, essas sim, acredito firmemente que poderiam ter continuado a sua carreira até aos dias de hoje, mesmo com outro coordenador (o tempo não perdoa e eu não fujo à regra), se o imponente edifício da Meribérica, que parecia tão sólido e imune aos piores abalos do mercado, não estivesse, afinal, cheio de brechas...
Uma última nota: afinal o seu artigo sobre o "Tintin" não saiu na edição de hoje do JN.
Jorge Magalhães
Caro Jorge Magalhães,
EliminarTambém não esperava uma resposta, sei que é impossível sabê-lo. mas é evidente que qualquer daqueles títulos, para continuar, teria que ir fazendo ajustes para sse aproximar dos gostos e preferências dos seus potenciais leitores.
Quanto à referência ao JN - que já eliminei - deveu-se ao facto de este texto estar agendado antecipadamente e questões de última hora terem obstado à sua publicação no jornal, como estava previsto.
Boas leituras!
Embora nunca a tenha podido coleccionar, senti, naturalmente, o fim da revista "Tintin", que ia lendo como podia, como uma enorme perda. E, mal me foi possível, comecei a comprar em album as aventuras de alguns dos heróis que a "Tintin" me dera a conhecer. E nunca mais parei! Bem hajam todos os que tornaram possível as minhas leituras desta revista, do Mundo de Aventuras, do Falcão, da Apache, das Selecções, e de tantas e tantas outras, num período tão fértil da BD em Portugal!
ResponderEliminarEstá a chegar uma nova revista, com BD, na qual serão também apresentadas as edições em album, não de uma nova editora, mas de uma editora nova em Portugal, que vai publicar BD franco-belga, e apenas BD franco-belgas, em Português.
Caro Jorge Fernandes,
EliminarObrigado pela partilha das suas memórias que, com certeza, serão semelhantes ás de tantos outros leitores da revista Tintin, que sem dúvida foi um marco, numa épooca que, como diz, foi fértil para a banda desenhada neste país.
Quanto à novidade de uma nova editora e de uma nova revista, confesso que fico muito curioso e que gostaria de saber mais pormenores...
Boas leituras... e novas edições!
Caro Pedro,
EliminarPeço desculpa de não ter respondido antes.
Em relação à nova editora presente em Portugal, esperamos ter novidades muito em breve.
Teremos no cardápio obras de nomes como Gilles Chaillet, Jean Pleyers, ou Jacques Martin Haverá ainda obras e séries de gente menos conhecida, pelo menos em Portugal, porque a boa BD franco-belga não se esgota no que é, ou já foi, editado em Portugal até agora. Há tanta coisa mais!
Pedro, mais pormenores? thorgal.do.t(at)gmail.com
Caro Jorge Fernandes,
EliminarObrigado por este levantar do véu. Já lhe respondi por e-mail.
Entetanto, fico a aguardar o momento de apresentar todo esse programa editorial aqui em As Leituras do Pedro.
Boas leituras... e boas edições!
Ainda me lembro de os últimos nºs saírem penosamente, cada vez mais atrasados semana a semana mas isso não tira o brilho a uma revista que deixou marcas profundas em quem a leu. Orientou, criou gostos, educou, divertiu como nenhuma outra. Deixou um vazio nunca mais preenchido.
ResponderEliminarOlá Filipe,
EliminarComo já disse atrás, eu não coleccionei o Tintin, mas senti exactamente o mesmo que tu com outros títulos que me acompanharam em diferentes fases da vida: Mundo de Aventuras, O Mosquito (5ª série), Cimoc, (A Suivre)...
Boas leituras!
Por coincidência, quando ontem estava a procurar umas coisas nas minhas estantes, dei com a colecção do "Jornal do Cuto", pus-me a folheá-la e no número 164 (de 1 de Maio de 1977) encontrei uma "nota da redacção", onde o director da revista, Roussado Pinto escreve entre outras coisas: "Continua a publicar-se com o mesmo interesse de sempre o "Tintin" português (...). Nesta revista -- a mais luxuosa que se publica em Portugal, a mais bem impressa, a de nível de colaboração quase "impossível" numa publicação com a tiragem das nossa -- não são apenas as histórias que contam"... etc., etc.. Como se vê, até a concorrência se rendia à qualidade do "Tintin". Mérito do "Tintin" e de Roussado Pinto.
ResponderEliminarCaro Manuel Caldas,
EliminarObrigado por esta nota. Quando a qualidade existe, é reconhecida por todos. Pelo menos devia ser assim...
Boas leituras!
Foi com a revista TINTIN que fiz a “passagem” da Disney para o mundo fantástico da BD franco-belga. Tive o privilégio de ter um irmão mais velho que devorava BD e possibilitou-me conhecer essas grandes aventuras desde muito cedo (dos SETE aos 77…) e que a par da Mundo de Aventuras, me “formou”, principalmente, como leitor de BD franco-belga e BD a P/B.
ResponderEliminarTal maneira fiquei fascinado por essa grande revista que em adulto, tive com um dos objectivos de vida, adquirir todos os volumes da revista TINTIN!
Quero agradecer a José Vítor Silva pela sua preciosidade que lhe custou MUITO tempo (eu mesmo tive essa experiencia ao fazer um levantamento TODOS os artigos da TINTIN…) que bem demostra o seu grande apreço por essa colecção!
O meu grande agradecimento por este “tesouro” que é uma mais valia, documental para os actuais possuidores e novos colecionadores, da TINTIN.
Caro A. Santos,
EliminarObrigado por esta sua primeira partcipação neste blog.
A conjugação da leitura em simultâneo do Tintin e do Mundo de Aventuras - que não houve muitos a fazer, infelizmente - deve ter-lhe dado uma bagagem aos quadradinhos que, com certeza, o levou a continuar a ler BD até hoje.
Quanto ao trabalho do José Vítor Silva, é digno de todos os elogios!
Boas leituras!
Possuo uma coleçao autentica destas revistas para venda. Algum interessado contacte-me :)
ResponderEliminarBoa tarde. Se tem o número 27 do 2º ano gostaria de a comprar. É a revista que me falta para completar a colecção. lm2007pt@gmail.com
EliminarOlá. Sou brasileiro e fui assinante da revista. Tenho a coleção completa. Como se encontra hoje o mercado de bd em Portugal? Alguma revista publicada no estilo do Tintin semanal? Abraços a todos.
ResponderEliminarCaro Marcelo,
EliminarHoje em dia não há em Portugal nenhum revista semelhante ao Tintin.
Aliás, tirando um título Disney, não há nenhuma revista de BD em Portugal...
Quanto ao mercado de BD, está a atravessar uma fase muito boa, como pode ver se der uma vista de olhos aqui pelo blog.
Boas leituras!
Aqui no Brasil (2019) nem Asterix mais está sendo publicado por aqui. Tanto que o ultimo lançamento tive que comprar importado de Portugal.
ResponderEliminarA editora Record, que aqui lançava não sabe dizer se algum dia irá lançar o título. Creio que não.
No entanto, após a saída da Disney pela Abril, que está literalmente falida, uma nova editora Culturama está lançando 5 títulos mensais este mês.
Acontece que a logística no Brasil (país imenso) é muito complicada,e, onde resido nem nas bancas de jornais e revistas serão vendidas. A editora me afirmou no telefone que não tem contato com os distribuidores daqui!!!
Afirmou que "lá pelo final de março começará a ser vendido pela Amazon do Brasil um pacote com as cinco de cada mês.
Oferecem tambem a opção de assinaturas.
É lamentável.