12/11/2012

Cinzas da Revolta













Miguel Peres (argumento)
Jhion (desenho)
ASA (Portugal, Outubro de 2012)
195x265 mm, 48 p., cor, cartonado
13,90 €



Resumo
Angola, 1961. Durante um ataque a uma fazenda de portugueses, o casal que lá habita é assassinado e a sua filha adolescente levada por um dos assaltantes.
Angola, 1963. Um comando de soldados portugueses é enviado supostamente para encontrar a rapariga desaparecida dois anos antes.
As mudanças por ela sofridas, o questionar da missão – eventualmente do interesse de uma alta autoridade nacional - e da própria guerra pelos soldados são outros dos motes que orientam a narrativa.

Desenvolvimento
Este álbum é uma das surpresas deste fim de ano em Portugal, apesar das limitações que se lhe reconhecem. Fundamentalmente pela (nova) dupla autoral e pela sua temática.
Vamos por partes.
Os autores são os portugueses Miguel Peres e Jhion (ou seja “o artista anteriormente conhecido por João Amaral!).
O traço deste último surpreende por surgir diferente do seu registo mais habitual. Mais natural, possivelmente porque mais liberto da base fotográfica e/ou informática que geralmente utiliza, mas também com alguma falta de expressividade e preso de movimentos. Nota-se, no entanto, uma melhoria ao longo do álbum, fruto certamente da experiência que este lhe foi possibilitando.
A composição das páginas, diversificada, serve-lhe para ritmar a narrativa, embora nalguns casos a utilização de um traço demasiado espesso para delimitar as vinhetas, torne as páginas algo pesadas. Ainda no que diz respeito à planificação, destaque para alguns efeitos interessantes, originais e conseguidos, nomeadamente os “rasgões” que permitem visualizar em simultâneo o interior e o exterior da fazenda (na p. 4) ou a utilização recorrente das onomatopeias como limite das vinhetas (como na p.5).
A surpresa maior acaba por ser o argumento do estreante Miguel Peres, apesar de algumas pontas soltas, uma ou outra oscilação de ritmo e, principalmente a falta de explicação para a(s) mudança(s) de atitude da cativa. A sensação que fica é que faltaram páginas para a justificar, bem como para aprofundar a sua relação com o seu captor e para explorar o tempo (e as respectivas consequências) que os soldados passaram no mato.
Destaca-se, mesmo assim, a coragem para abordar uma temática – a guerra colonial - que a diversos níveis ainda continua a ser tabu entre nós. O que se lamenta pois é extremamente rica a diversos níveis, permitindo abordagens em registos de acção, intimistas, ideológicos, históricos…
A Miguel Peres serviu para questionar as razões por detrás das guerras e os efeitos que elas provocam naqueles que mais directamente estão a ela associados – sejam os soldados que combatem ou as “vítimas colaterais” hoje tanto na moda.
Dessa forma, Cinzas da Revolta, inegavelmente, indica e trilha um caminho que a BD nacional pode percorrer com originalidade, para exorcizar fantasmas e para chegar a leitores habitualmente avessos aos quadradinhos.


4 comentários:

  1. Obrigado pela crítica construtiva Pedro. Espero nos meus futuros projetos melhorar esses aspetos menos positivos.
    Abraço

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    1. Olá Miguel,
      Obrigado pela visita.
      Não tens que agradecer, continua porque acredito que estás no bom caminho e que deves ter mais histórias originais e tematicamente estimulantes para partilhar com os teus leitores!
      Boas leituras... e boas escritas!

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  2. Pois, Pedro também eu agradeço as suas palavras e também eu considero que, de certa forma, estou ainda em mutação, no que ao estilo diz respeito, uma vez que saí, se assim se pode dizer, da "minha zona de conforto". Para já, resta-me partilhar que foi um prazer trabalhar com o Miguel, que para mim constituiu uma muito agradável surpresa.

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    1. Olá João,
      Bem-vindo também aqui.
      Concordo que especialmente nas páginas iniciais se nota essa saída da "zona de conforto".
      Para mim essa colaboração com o Miguel foi também uma surpresa que espero se venha a repetir neste ou noutro registo.
      Boas leituras... e bons desenhos!

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