15/01/2013

Comprimidos azuis












Colecção Biblioteca de Alice
Frederik Peeters
Devir (Portugal, Dezembro de 2012)
170 x 240 mm, 200 p., cartonado com sobrecapa
24,99 €



E, finalmente, com o proverbial atraso, parece que a autobiografia aos quadradinhos encontrou o seu lugar no pequeno mercado nacional de quadradinhos.
Cerca de duas décadas depois de o Salão Internacional de Banda Desenhada do Porto ter dado a conhecer nomes como Seth, Joe Matt, Adrian Tomine, James Kochalka, Roberta Gregory, Julie Doucet, Marjane Satrapi, Étienne Davodeau ou Dupuy e Berbérian, em pouco mais de um ano ficaram disponíveis obras fundamentais – com todas as diferenças que se reconhecem em termos formais e de estilo - como “Blankets”, “Persépolis”, “Fun Home”, “Portugal” e, agora, este “Comprimidos azuis”.
Publicado originalmente em 2001, é um relato tenso e dramático, de grande densidade psicológica, que narra, melhor, expõe a relação do autor, Frederilk Peeters, com Cati e o seu filho, ambos portadores do vírus VIH.
É uma narrativa sincera, de grande sensibilidade, crua no despojamento do autor e no realismo da sua exposição (que algumas sequências oníricas apenas servem para reforçar e tornar mais forte), que mostra como ele foi avançando nessa relação, passando da paixão à descoberta, da dúvida premente (ao tomar conhecimento da doença) às incertezas, do medo à nova descoberta – de que se pode ter uma vida, uma relação (quase) normal com quem tem VIH… - como uma aprendizagem raramente fácil mas indispensável para concretizar o que tinha sonhado.
Um pouco datada – há uma década a SIDA era presença constante no quotidiano noticioso, por isso falta-lhe hoje o reflexo desse impacto mediático – “Comprimidos Azuis” não perdeu, apesar disso nada da sua força narrativa, da sua doçura e do seu lado trágico.
E a sua mensagem central – felizmente válida para tantas outras situações, para todas as situações, até? – continua a fazer sentido: “Contenta-te apenas em apreciar a tempo as coisas que têm um fim…”


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