11/02/2013

Frères d’Ombre









Jérôme Piot (argumento)
Sébastiant Vassant (desenho)
Futuropolis
(França, 10 de Janeiro de 2013)
195 x 265 mm, 1444 p., cor, cartonado
22,00 €



Resumo
Alain é revisor nos SNCF, os caminhos-de-ferro franceses. O seu destino vai-se cruzar com o de Kamel, um argelino entrado ilegalmente em França, a quem ajuda a escapar à polícia, primeiro, e a quem, depois, aloja durante alguns dias.
A recorrência de notícias na TV e nos jornais sobre terroristas islâmicos, levá-lo-ão a questionar o que está a fazer e a pôr em causa a amizade que entretanto se desenvolveu entre eles. No entanto, quando Kamel desaparece, Alain parte na sua peugada, enfrentando no seu próprio país um mundo diferente: o das comunidades de origem muçulmana.

Desenvolvimento
Esta é uma história dos nossos dias. Talvez não – ainda? – uma história nossa, portuguesa – continuámos um país de brandos costumes, onde a imigração [muçulmana] é residual… - mas sem dúvida uma história franco-argelina, sob a sombra do 11 de Setembro.
Porque em França, a realidade é bem diferente e os laços com ex-colónias como a Tunísia ou a Argélia, bem como o grande número de descendentes de naturais desses países, tem levantado muitas questões em termos de convivência, segurança e terrorismo – tantas vezes marcadas pelo desconhecimento, a intolerância e o medo do que é diferente.
No caso de Alain, de alguma forma um inadaptado que vive com a mãe doente, a tudo o que atrás é citado acresce o facto de o seu irmão mais velho ter participado na Guerra da Argélia – e nas atrocidades (tortura, assassinatos…) que os franceses lá cometeram. Um segredo que ele pensa estar bem guardado mas que Alain conhece desde a adolescência.
Quanto a Kamel, é filho de um opositor ao regime argelino, que foi assassinado pelo poder e decide fugir do país para não ter que cumprir serviço militar. Uma vez pago o elevado preço pedido, tornar-se-á mais um clandestino a caminho de França, no interior de um contentor com mais uma dezena de homens.
A questão política é decorrente da temática abordada e é ela que dá o mote ao relato que expõe e questiona sem tomar partido nem dar respostas – a situação é demasiado complexa para isso.
Mas a verdade é que em “Frères d’ombre” prevalece o tom humano, em especial na primeira parte mais intimista, em que Alain e Kamel aos poucos se vão conhecendo e criando laços, mostrando que é possível suplantar as diferenças. Apesar de todas as dúvidas e incertezas – bem humanas – que de forma natural vão surgindo e são narradas, apesar de todos os erros e acções impensadas que provocam.
Traçado com uma linha ágil, que com frequência esquece os tradicionais limites para criar páginas de (enganadora) vinheta única em que é a acção que baliza as fronteiras de cada momento narrado, este romance gráfico na sua segunda metade assume um tom de quase thriller, quando Alain parte em busca de Kamel, nos arredores parisienses, entre as comunidades muçulmanas, vítimas do trabalho clandestino, em condições de quase escravatura, desejoso de saber se o argelino escapou à polícia e se conseguiu chegar a bom porto.

A reter
- A actualidade do relato. Um tema de presença constante em noticiários, mas que incomoda pelo lado realista da abordagem e por aquilo que revela.
- O tom humano que prevalece no conjunto.


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