O lançamento recente em Portugal de novos volumes aos
quadradinhos de “A Guerra dos Tronos” (Planeta) e de “The Walking Dead" (Devir), é apenas a ponta de um icebergue de proporções cada vez maiores: a
relação próxima entre BD e televisão.
Curiosamente, os dois exemplos citados têm percursos
diversos. “A Guerra dos Tronos” da HBO baseou-se nos romances de Georges R. R.
Martin, ambientados no universo místico de Westeros e na luta pelo poder dos
Sete Reinos, transportando-os para a televisão com assinalável sucesso; isso originou
a apetência da Marvel para criar uma versão aos quadradinhos, da autoria de
Daniel Abraham e Tommy Paterson, já com dois volumes editados entre nós.
Quanto a “The Walking Dead”, cujas exibições têm batido
todos os recordes de audiência, teve como base a banda desenhada de culto de Robert Kirkman, Tomy Moore e Charlie Adlard, que transformou num sucesso comercial.
Curiosamente, BD (que já ultrapassou a centena de números mensais, um quarto dos
quais compilados em cinco tomos em português) e série televisiva da AMC seguem
caminhos paralelos mas dispares, com personagens fundamentais a surgirem e/ou
desaparecerem em momentos distintos.
Isso levanta uma questão importante – extensível a todos os
tipos de adaptação: para funcionarem no novo suporte, têm que assumir as suas
regras e características, embora mantendo a fidelidade ao espírito – não à
forma – da criação de partida.
Isso é evidente também em “Arrow”, uma produção do The CW,
protagonizada por Stephen Amell e Katie Cassidy, em exibição na RTP 1 aos
domingos à tarde, que traz para o pequeno ecrã as origens do Arqueiro Verde, um
dos justiceiros da DC Comics. Nesta série, Oliver Queen um jovem playboy, após
passar cinco anos numa ilha deserta, regressa à sua cidade natal decidido a combater
o crime e a corrupção sob identidade secreta.
Menos feliz foi a transposição de “XIII”, um dos grandes
sucessos da BD franco-belga, criado por Van Hamme e Vance, parcialmente editado
em português, para a série com o mesmo título exibida no AXN. Co-produção
franco-canadiana, protagonizada por Stephen Dorff, conta a saga de um homem sem
memória envolvido num atentado contra o presidente dos Estados Unidos, em busca
da sua identidade e do seu passado.
E para quem gosta destas parcerias entre os heróis de papel
e os do pequeno ecrã, o Verão, já bem próximo, anuncia-se prometedor: Dexter
(protagonizado por Michael C. Hall) e The X-Files - com os célebres agentes
Mulder (David Duchovny) e Scully (Gillian Anderson) - são duas séries
televisivas de sucesso que vão trilhar novos caminhos – para já envoltos nalgum
segredo - em banda desenhada, num mercado norte-americano onde já coexistem ou
passaram recentemente versões desenhadas de Castle, 24, Mad Men, CSI ou Fringe.
A um outro nível – e tantas vezes erradamente designados
como banda desenhada - muitos dos desenhos animados que ao longo dos anos vimos
na TV também transitaram entre o pequeno ecrã e os livros aos quadradinhos.
Para lá dos mais óbvios heróis Disney, vindos do Japão, DragonBall e Yu-Gi-Oh! (que a ASA editou parcialmente) e Naruto (cuja estreia em livro a
Devir anuncia para breve) são casos evidentes, nascidos em papel e
transformados em êxitos televisivos para várias gerações.
Os super-heróis da DC Comics presentes mensalmente nos
quiosques portugueses são há muito, igualmente, matéria-prima por excelência
para produções televisivas. “Liga da Justiça sem limites” e “Batman: valentes e
audazes” são dois exemplos de séries animadas em exibição no Panda Bigs que
vale a pena espreitar. Da rival Marvel, estão disponíveis versões animadas de
Homem de Ferro, Homem-Aranha ou Vingadores.
O caminho contrário, da TV para a BD, foi trilhado – embora
com menos sucesso – pelos Simpsons e os protagonistas de Futurama, duas
criações de Matt Groening.
Nos últimos anos, a TV decidiu também aproveitar a produção
de excelência que a BD franco-belga constitui. Os Schtroumpfs, os Dalton, Billy
the Cat, Titeuf - criação de Zep cujas tiragens em França só têm paralelo com
Astérix – ou Marco António – em exibição na RTP2 e curiosamente baseado numa
BD espanhola - são alguns dos exemplos possíveis.
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