30/10/2013

Deadline










Bolée (argumento)
Rossi (desenho)
Glénat
França, Setembro de 2013
240 x 320 mm, 82 p. + 10 p. de esboços, cor, cartonado
18,50 €



Por motivos que não consigo definir, o western sempre exerceu – ainda exerce – um fascínio especial sobre mim. Por isso, quando me passou sob os olhos este Deadline – para mais numa edição cuidada de ‘grande formato’ e com um caderno de esboços no final -  de imediato me chamou a atenção e não consegui resistir(-lhe).
Western de tonalidades (bem) diferentes – e belas, pelo trabalho notável de Rossi (já lá irei) – tem a Guerra da Secessão como pano de fundo e uma história íntima e tortuosa como centro.
Muito bem construído, começando pelo final, e avançando depois em saltos sucessivos feitos em flashbacks criteriosamente situados em diversos momentos temporais, troca a acção que é habitual no género – e que as primeiras pranchas parecem cumprir – por um relato intimista, centrado em Louis, um deserdado da fortuna, que perdeu pais e quem o acolheu, às mãos da(s vítimas da) guerra civil que pintou de ódio, violência e sangue o (futuro) território norte-americano, obrigando-o a alistar-se contra vontade nos exércitos sulistas defensores da escravidão.
História de uma relação que nunca o foi mas que marcou o jovem Louis para uma vida de (apenas) sobrevivência, incapaz de se relacionar e de estabelecer relações, Deadline – e que título certeiro é este, referência à linha traçada no pó que separava os soldados sulistas dos seus prisioneiros negros – fala-nos das fronteiras que não se podem – não se devem? não nos deixam? – transpor.


As fronteiras da raça, da cor, das crenças, do sexo, da religião… Todas aquelas que, apesar de apenas imaginárias ou imposições sociais, nos impedem de dar os passos que o coração, mais do que a razão, pede, fazendo de tantos – como de Louis - inadaptados sociais, incapazes de (re)encontrarem o seu lugar, perante si e/ou os outros.
A toda a angústia inerente ao até aqui descrito, une-se a ambiguidade e a incerteza sobre se a relação sonhada por Louis – que lhe moldou (ou destruiu?) a vida - tinha – alguma vez teria – condições para se concretizar, dadas as circunstâncias sociais e, quem sabe, mesmo a vontade do outro …
O tom contido e sensível de Boilée é reforçado pelo magnífico trabalho gráfico de Rossi – muitos furos acima do que lhe conhecia – conseguindo realçar, em especial através da aplicação de luz e sombras, personalidades, sentimentos e emoções dos intervenientes, sem deixar que sejam abafados pelos conturbados cenários de fundo em que tudo decorre.



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