Há 80 anos os jornais norte-americanos apresentavam Secret Agent X-9, que representava mais
um passo dos comics norte-americanos em direcção ao realismo.
O registo escolhido, de certa forma em resposta ao sucesso
de Dick Tracy estreado poucos naos
antes, oscilava entre o policial e a espionagem mas o seu desenho, ao contrário
daquele, mais caricatural, era realista e aproximava esta banda desenhada do
quotidiano dos seus leitores. Grande defensor da lei a todo o custo, X-9 trazia
do passado o fantasma da mulher e do filho assassinados por um malfeitor.
Escrito inicialmente pelo romancista policial Dashiell
Hammett – inspirado em duas criações suas: Sam Spade e Continental Op - era
desenhado por Alex Raymond, que ainda não apresentava o traço barroco com que
daria vida a Flash Gordon cinco anos mais tarde.
Os dois autores estiveram apenas um ano à frente da
personagem, que seria retomada por Leslie Charteris (criador do Santo, que o
tornou agente do FBI) e Charles Flanders. Austin Briggs, Mel Graff (que lhe deu
um nome, Phil Corrigan, um parceiro e uma noiva), Paul Norris e Bob Lubbers
foram alguns dos autores que assumiram o seu destino e o foram adequando às
mudanças que as diferentes épocas introduziram na sociedade norte-americana,
nomeadamente no refinamento dos métodos de investigação e no recurso crescente às
técnicas laboratoriais para descobrir os culpados.
Na década de 1970, a chegada de Archie Godwin e Al
Williamson modernizou graficamente a série, ao mesmo tempo que a levava a
explorar de novo as suas origens e, paradoxalmente, também a enfrentar ameaças
extraterrestres, antes de cederem os seus lugares a Georges Evans que iniciou
uma fase descendente que culminaria na sua suspensão definitiva em 1996.
Estreado em Portugal em 1939 no Pirilau, X-9 passou pelas páginas de inúmeras publicações, entre as
quais o Diabrete, o Mundo de Aventuras e o Jornal do Cuto, deu título a algumas
revistas de curta duração e teve os episódios iniciais de Hammett e Raymond
editados pelas Edições 70, mas foi o Jornal de Notícias que melhor o divulgou,
ao longo de quase meio século, publicando diariamente esta tira entre 1947 e
1996.
(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de
22 de Janeiro de 2014)
O melhor artigo que li, em vários blogues, a pretexto desta efeméride. Parabéns, mais uma vez, ao Leituras do Pedro por este excelente trabalho, que não se esqueceu de mencionar a publicação de X-9 no "Jornal de Notícias" durante quase 50 anos. Bons tempos em que os jornais davam mais valor à Banda Desenhada, cumprindo assim uma das suas funções, pois sem a imprensa esta Arte não existiria tal como hoje a conhecemos. É caso para perguntar: foi a BD que se autonomizou dos jornais para adquirir outro estatuto ou estes que a relegaram para plano alternativo, por causa dos custos e de outras prioridades mais mediáticas? No fundo, nenhum deles ganhou com isso...
ResponderEliminarAbraços,
Jorge Magalhães
Caro Jorge Magalhães,
EliminarObrigado pelas suas palavras.
A referência ao JN era incontornável, porque acompanhei o X-9 nas suas páginas durante anos e porque foi lá que este artigo foi primeiro publicado.
É verdade que a BD faz falta nos jornais - este início de ano ficou marcado por uns poucos regressos - mas o mesmo fenómeno tem lugar, em menor escala, um pouco por todo o mundo, mesmo nos EUA onde as tiras diárias de BD tiveram origem e maior implantação.
Sinais - negativos - destes tempos...
Boas leituras!