07/01/2014

Comix Record






Há poucas semanas alguém questionava de forma crítica a heterogeneidade das propostas deste blog - e consequentemente das minhas leituras - perguntando como era possível coexistirem, por exemplo na lista dos melhores títulos de um dado mês, criações Bonelli, a Turma da Mônica, clássicos franco-belgas, heróis Disney, super-heróis ou, deixem-me escrever assim, banda desenhada adulta.
A resposta para mim é simples: todas essas leituras me dão prazer. De forma diferente, evidentemente, tal como diferente é o prazer que podemos experimentar ao comer uma torrada com manteiga, uma francesinha ou de um prato gourmet num restaurante de luxo. Cada um destes apela a distintos aspectos do nosso palato, da mesma forma que bandas desenhadas daqueles diversos géneros apelam a distintas partes do meu intelecto.
Deixo mais um exemplo, já a seguir.


E esse exemplo vem da Comix Record que, entre histórias curiosas – a mais pequena do mundo em dimensão das vinhetas, a primeira BD muda ou outra com vinhetas completamente negras, experiências inovadoras em termos de quadradinhos Disney mas já recorrentes noutros géneros… - inclui igualmente uma pequena grande pérola.
São 50 pranchas intituladas O rio do tempo, escritas por Francesco Artibani e (não por acaso?) por Tito Faraci, habitual argumentista Bonelli, que faz uma bela viagem ao passado evocando Steamboat Willie, a animação em que Mickey nasceu oficialmente (e que eu aconselho a  visualizarem antes de lerem esta história).
Nesta BD, criada 70 anos mais tarde, Mickey e Bafo de Onça reencontram-se - e também ao pequeno barco a vapor – numa aventura bem planificada com alguns efeitos bem conseguidos, que vai alternando entre o presente e o passado e explorando as razões para o distanciamento e as diferentes opções de vida tomadas por um e outro. Estranhamente violenta para os padrões Disney actuais, está desenhada de forma muito dinâmica e com mestria pelo grande Conrado Mastantuono, tendo diálogos certeiros e um argumento bem condimentada com aventura, humor, suspense, nostalgia e uma (enorme) surpresa final.
Esta primeira sugestão de leitura do ano – se surge desde logo pela sua qualidade intrínseca e pelo prazer que me proporcionou lê-la – fica também com uma (pequena) provocação e como um desafio a todos que por aqui passam para que, em 2014, se atrevam a descobrir outras bandas desenhadas – aquelas de que normalmente desdenham… - para usufruírem diferentes prazeres.
Um bom ano (de descobertas) para todos!

O Rio do Tempo
In Comix Record
Tito Faraci e Francesco Artibani (argumento)
Corrado mastantuono (desenho)
Goody
Portugal, Dezembro 2013
135 x 190 mm, 132 p., cor, brochada
Edição promocional*

* A Comix Record – cujo melhor papel e capa mais consistente do que a das edições semanais da Comix merecem ser destacados – é uma edição promocional que não está à venda.
Pode ser obtida mediante o registo num site onde devem ser inscritos seis dos códigos publicados na Comix desde o seu número 44.
Com uma tiragem de (apenas?) 3000 exemplares, arrisca-se a tornar-se um alvo apetecível para coleccionadores.

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