17/01/2014

Station 16










A comemorar 20 anos em 2014, a colecção Signé abre as “hostilidades” com um dos autores que mais vezes aproveitou a liberdade que ela lhe proporcionava.
Trata-se de Hermann que, de novo em parceria com o seu filho Yves H., explora uma temática fantástica pouco habitual no duo.
As Leituras do Pedro abrem o apetite para o álbum já a seguir.


Resumo
Nova Zembla é um arquipélago russo no Oceano Árctico onde a União Soviética levou a cabo, entre 1955 e 1990, 135 explosões nucleares experimentais (declaradas), no ar, no solo e subterrâneas, incluindo uma bomba de hidrogénio, 1400 vezes mais potente do que as que os norte-americanos lançaram sobre Hiroxima e Nagasaki, cujo cogumelo subiu a 64 quilómetros na atmosfera.
A acção deste álbum tem lugar nesta região inóspita e gelada e começa quando uma patrulha russa recebe, em 2012, uma mensagem rádio proveniente da estação 16 que, supostamente, estava deserta e abandonada há mais de uma década.

Desenvolvimento
A história, é fácil de resumir mas difícil de recontar – o que também não é o propósito deste texto – pela forma como os diversos momentos se vão encadeando e o que numa conjuntura soa estranho, tem uma explicação (lógica) algumas páginas mais à frente.
Tudo porque, uma vez chegada à estação 16, a patrulha descobre que ela realmente está abandonada mas, uma série de saltos temporais inexplicados – devidos às explosões nucleares que lá tiveram lugar? – vai projectando alguns deles, alternadamente, para trás e para a frente no tempo, levando-os a descobrir que aquele espaço isolado (e esquecido?) serviu para aberrantes experiências científicas (?) com cobaias humanas, levadas a cabo para tentar formar ‘super homens’.
Esses paradoxos temporais originam acções e reacções que vão fazendo com que os diversos factos que vão sendo descobertos vão encaixando, aos poucos, contribuindo para formar um retrato maior e dando lógica e coerência a um relato, estranho de início, mas que acaba por seduzir e cativar o leitor, levado de surpresa em surpresa. E que é, em minha opinião, apesar do seu tom (invulgarmente) fantástico (nesta dupla) um dos argumentos mais consistentes que Yves H. já escreveu para o seu pai.
Este, Hermann, ultrapassados os 75 anos (?) continua a ser um dos maiores desenhadores (e coloristas…) que a BD franco-belga conheceu, à vontade em todo o tipo de cenários e ambientes, trabalhando a luz como poucos, retratando personagens com o seu cunho bem pessoal e facilmente reconhecível, descrevendo graficamente de forma soberba quer (pequenos) espaços fechados quer os grandes espaços abertos – gelados no presente caso, noutros selvas, pradarias ou cidades - numa planificação clássica mas diversificada que pontua, sublinha e destaca os momentos principais da narrativa, ritmando-a da forma mais adequada.

A reter

- O traço e a cor de Hermann. Mais uma vez e sempre.
- A consistência do argumento de Yves H.
- A abordagem conseguida e estimulante a uma temática invulgar nestes autores.

Menos conseguido
- O final algo previsível, que é lógico – eu sei! – mas gostava de algo mais forte, à altura da narrativa…
- A edição portuguesa que não vamos ter, depois de alguns anos ‘mal habituados’ pela Vitamina BD a acompanhar todas as novidades de Hermann.

Station 16
Yves H. (argumento)
Hermann (desenho e cor)
Le Lombard
Bélgica, 17 de Janeiro de 2014
241 x 318 mm, 64 p., cartonado
14,45 €

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. ou grande fã de Hermann, em especial das séries Jeremiah, e Bernard Prince.
    A trama deste álbum, parece-me bastante atractiva.
    O desenho é sempre excelente, mas, dos álbuns que li com argumento do filho, nunca houve um que me seduzisse.

    Jorge Fernandes

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    Respostas
    1. Olá Jorge,
      Sim, o Hermann é grande mesmo sem o filho... O Yves H. é. geralmente um argumentista competente, sem nunca ter sido brilhante ou genial. Este parece-me um dos melhores argumentos dele, apesar da sua aparente simplicidade.

      Boas leituras!

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