Descobri Vanyda há alguns anos, aquando da edição deste álbum, então claramente influenciada pelo manga que começava a
impor-se com força em França e levava alguns novos autores a procurarem vencer
nesse estilo ‘importado’.
A par disso, Vanyda demonstrava já uma sensibilidade
especial para as vivências dos adolescentes/jovens adultos, onde se adivinhava
um grande poder de observação do(s) que a rodeava(m) e, talvez também, algo da
sua própria experiência.
As impressões do reencontro com esta autora francesa nascida
em 1979, já a seguir.
A primeira constatação que fiz ao passar as páginas desta
obra, foi a notável evolução gráfica da autora. O seu traço amadureceu, ainda
com o manga como referencial, mas assumindo-o (apenas) como uma das (várias)
influências para um traço (agora) personalizado, leve e agradável, subtil e á
medida da sensibilidade narrativa que continua a revelar, como comprovei na
leitura.
A par disso, ainda do ponto de vista gráfico, há um interessante
trabalho de aplicação de cor, a aguarela, aparentemente (e enganadoramente)
simples, pois as diferentes narrativas do livro usam diferentes tons
cromáticos, aplicados apenas cirurgicamente, para destacar momentos e situações
– e emoções também! – e que contribuem para fazer da leitura uma experiência
tranquila e, de certa forma, repousante, apesar da incomodidade de algumas das
abordagens.
Com esta base, Vanyda apresenta momentos das vidas de uma
série de jovens – a paixão (só em parte correspondida) de uma adolescente de 12
anos por um amigo mais velho, o reencontro (com diferentes expectativas) de
dois ex-alunos Erasmus, os laços que (não) se estabelecem entre uma criança
presa numa cama de hospital, a enfermeira que a trata e o seu leitor… - todos a
darem os primeiros passos na vida adulta (ou a caminho dela), a tentarem
encontrar o seu lugar, a si próprio e aos outros, a descobrirem emoções
diversas (descontroladas), a procurarem (ou não…) relações que possam ser
duradouras – pelo menos enquanto os dois quiserem.
Pequenos apontamentos, no máximo com umas poucas dezenas de
páginas – entre os quais destaco Corentin,
o conto que abre o livro e lhe inspira o título, Margaux, pelo desconcertante humor no contexto dos outros contos, e
Benoît, pela dolorosa situação que
lhe serve de base e pelo final violento e incómodo - que são retratos de uma
sociedade à procura de direcções seguras mas que raras vezes deixa o coração e
as emoções sobreporem-se ao resto.
Tudo, narrado de forma leve, com o traço límpido e suave a
ondular face aos nossos olhos levando-nos com ele, com a sensibilidade que eu
recordava, reforçada pelo amadurecimento que a idade proporciona (?).
Un petit gout de noisette
Vanyda
Dargaud
França, 24 de Janeiro de 2014
170 x 240 mm, 208 p., cor
17,95 €
Pedro, esse tal "primeiro livro" da Vanyda foi escrito algum tempo depois do "l'immeuble d'en face", uns meros...5anos! Sei-o bem porque foi o único livro dela que li. Não desgostei mas não me entusiasmou ao ponto de comprar os outros dois e terminar a série :-(
ResponderEliminarCaro RC,
EliminarPois, dou a mão à palmatória... Escrita de memória, sem confirmação é o que dá...
Boas leituras!
... e corrigi o texto, claro!
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