28/03/2014

Un petit livre oublié sur un banc











Um livro encontrado num banco de jardim está na base desta belíssima história, cujo tom oscila entre o misterioso, o romântico e o retrato quotidiano, com um equilíbrio assinalável.
As razões para esta entrada de completa rendição a Jim e Mig, já de seguida.


Resumo
Camélia encontra um pequeno livro num banco de jardim. A abri-lo, uma curiosa dedicatória: “Este livro é para quem o encontrar. Guarde-o. Tive grande prazer na sua leitura. Não quero que esse prazer fique prisioneiro numa prateleira da minha biblioteca…
Intrigada, começa a lê-lo e descobre diversas palavras rodeadas a vermelho. Juntas, desvendam uma mensagem que parece escrita especialmente para ela…

Desenvolvimento
[Se acho a ideia base – que parte de um acontecimento real - muito interessante, sinto que seria incapaz de fazer o mesmo. O gosto que tenho pelos livros (e não só pelos) que me marcaram, impede-me de me separar deles, embora possa sugeri-los ou oferecer (outros) exemplares aos meus amigos.]

Esta é uma história sobre livros, sobre a importância que os livros podem ter para (alguns de) nós. Num tempo em que cada vez menos pessoas lêem. Em que cada vez menos pessoas lêem livros físicos. [Paradoxo: Este notável Un petit livre oublié sur un banc está disponível para leitura digital…]
Esse confronto – não consigo vê-lo como complementaridade, desculpem-me – livro/digital é evidente – e necessário ao desenvolvimento da história – na forma como Camélia ama o(s) livro(s) e o seu namorado o (manual do) seu telemóvel. De forma óbvia ou excessiva, poderão dizer alguns, mas apenas num retrato assertivo do quotidiano… Todos nós, de certeza, conhecemos (cada vez mais) gente assim…
E é nessa(s) diferença(s) - no distanciamento que isso provoca no casal – que assenta parte do fascínio de Camélia pela mensagem que o livro lhe revela, após ordenar e interpretar as palavras sublinhadas. Conseguindo-o, rendida ao fascínio que sente pelo desconhecido, a jovem decide ‘responder’ ao misterioso signatário e deixa o livro no mesmo banco. Acaba por o perder de vista durante uns dias, mas ele reaparece com nova mensagem.
O mistério ganha corpo e leva-a – numa obsessão (?) crescente, incompreendida pelos que lhe são próximos – a tentar descobrir, seguindo as pistas que vai interpretando, falhando uma e outra vez, quem é o dono original do livro, por quem se sente já (cada vez mais) atraída.
No final deste primeiro tomo de um díptico, com tanto de original quanto de cativante, com o mistério a adensar-se, depara-se com… uma situação que deixo ao leitor descobrir, para não estragar a surpresa da leitura de que eu já desfrutei.
Falta escrever sobre o desenho de Mig, realista q.b., com alguma influência de manga ao nível dos rostos, delicado, agradável e depurado de pormenores desnecessários mas tão detalhado quanto o relato pede, servido pelas cores quentes e suaves aplicadas por Delphine que ajudam a construir o ambiente de romantismo e mistério que melhor serve a narrativa de Jim.

A reter
- A belíssima capa.
- A originalidade do tema.
- A diversidade do tom da abordagem que permite várias leituras ou a sua junção numa só mais integrada e estimulante.
- O traço atractivo de Mig…
- … indissociável do belo trabalho de cor de Delphine.
- A boa edição cartonada.
- A página dupla final com desenhos preparatórios.

Menos conseguido
- A falta (ainda) da conclusão de um relato que se adivinha uno e indivisível… Que o segundo tomo chegue depressa!
[- O sentimento de culpa que me assolou quando o depositei numa prateleira da minha biblioteca após o ler, reler e escrever sobre ele… As minhas desculpas a todos que irão passar pelo banco de jardim onde o deveria ter depositado…]

Un petit livre oublié sur un banc
Jim (argumento)
Mig (desenho)
Delphine (cor)
Bamboo Éditions
França, 12 de Março de 2014
240 x 320 mm, 48 p., cor, cartonado, 13,90 €

2 comentários:

  1. Depois de ler esta sua crónica, vamos andar todos (os que gostamos de livros no formato tradicional) de banco em banco de jardim, à procura de um livro abandonado que nos desperte também a curiosidade e a atracção pelo mistério.
    Felicito-o, mais uma vez, pelas suas boas escolhas.
    Abraços,
    Jorge Magalhães

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    1. Prezado Jorge Magalhães,
      Que venha o bom tempo para irmos então passear nos parques!

      Boas leituras... e passeios!

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