16/04/2014

Piteco: Ingá








Quarto tomo das Graphic MSP – em que autores retomam personagens de Maurício de Sousa, no seu próprio estilo gráfico e/ou temático – Piteco: Ingá alarga um pouco mais os limites e o horizonte de uma colecção de enorme potencial mas que merece – deve ter! – algum cuidado e alguma moderação.


[Que, esclareço desde já, até agora têm existido, através do papel – efectivo! – de editor, responsavelmente assumido e desempenhado por Sidney Gusman, na selecção e acompanhamento das diversas propostas que vai recebendo e na sua (espaçada) calendarização.]

Como mote para este relato, surge a decisão da tribo de Piteco de deslocar-se em busca de melhores condições de vida, uma vez que o rio junto ao qual habitavam está em risco de secar, complementada pelo rapto de Thuga por elementos da tribo rival dos homens-tigre.
Entre a confusão da partida e a urgência do salvamento, Piteco – porque as mulheres sabem sempre o que querem, não é? – terá que tomar decisões vitais para o seu futuro, que inevitavelmente irão afectar os que lhe são próximos.

[E se não o escrevi, já o disse: para funcionarem, os volumes da Graphic MSP têm que obedecer a um duplo quesito: enquanto homenagem à obra de Maurício de Sousa e enquanto obras autónomas.]

À satisfação daqueles dois, Shiko acrescentou mais um: a ligação à realidade, consubstanciada na utilização ao longo da narrativa da Pedra de Ingá [um monumento arqueológico com inscrições rupestres, que mede 24 m de comprimento por 3,5 de largura, datado de entre dois e cinco mil anos atrás, que se encontra na cidade de Ingá,] na Paraíba, de onde ele é natural, bem como das tradições (sobrenaturais) locais. Isto confere um elemento extra de realismo à história, tornando-a mais credível e mesmo apetecível.

A questão da homenagem, se é evidente no protagonismo dos (renovados graficamente) Piteco, Thuga, Bebeléu e Ogra – bem como na inclusão de outros elementos originais das histórias em quadr(ad)inhos de Mauricio – é especialmente conseguida na forma subtil como os diálogos reflectem a relação original (conflituosa) de Piteco e Thuga e,a sua resolução actual, a elevam a um outro nível.

Finalmente, Piteco: Ingá, conjuga todos aqueles elementos – personagens conhecidos, homenagem, elementos reais, históricos e sobrenaturais – numa bela aventura no período pré-histórico, recheada de acção, tensão e diferentes motivações, com uma grande liberdade criativa que não afecta a credibilidade do relato, a par de conseguidas opções em termos de planificação, de matriz tradicional mas quebrada recorrentemente por planos arrojados que contribuem para um maior dinamismo da leitura.

Graphic MSP
Shiko
Panini Comics
Brasil, Novembro de 2013
195 x 280 mm, 82 p., cor
R$ 29,90 (cartonado)

R$ 19,90 (brochado)

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