Quarto tomo das Graphic MSP – em que autores
retomam personagens de Maurício de Sousa, no seu próprio estilo gráfico e/ou
temático – Piteco: Ingá alarga um
pouco mais os limites e o horizonte de uma colecção de enorme potencial mas que
merece – deve ter! – algum cuidado e alguma moderação.
[Que, esclareço desde já, até agora têm
existido, através do papel – efectivo! – de editor, responsavelmente assumido e
desempenhado por Sidney Gusman, na selecção e acompanhamento das diversas
propostas que vai recebendo e na sua (espaçada) calendarização.]
Como mote para este relato, surge a decisão da
tribo de Piteco de deslocar-se em busca de melhores condições de vida, uma vez
que o rio junto ao qual habitavam está em risco de secar, complementada pelo rapto
de Thuga por elementos da tribo rival dos homens-tigre.
Entre a confusão da partida e a urgência do
salvamento, Piteco – porque as mulheres sabem sempre o que querem, não é? –
terá que tomar decisões vitais para o seu futuro, que inevitavelmente irão afectar
os que lhe são próximos.
[E se não o escrevi, já o disse: para
funcionarem, os volumes da Graphic MSP têm que obedecer a um duplo quesito:
enquanto homenagem à obra de Maurício de Sousa e enquanto obras autónomas.]
À satisfação daqueles dois, Shiko acrescentou
mais um: a ligação à realidade, consubstanciada na utilização ao longo da
narrativa da Pedra de Ingá [um monumento arqueológico com inscrições rupestres,
que mede 24 m de comprimento por 3,5 de largura, datado de entre dois e cinco
mil anos atrás, que se encontra na cidade de Ingá,] na Paraíba, de onde ele é
natural, bem como das tradições (sobrenaturais) locais. Isto confere um
elemento extra de realismo à história, tornando-a mais credível e mesmo
apetecível.
A questão da homenagem, se é evidente no
protagonismo dos (renovados graficamente) Piteco, Thuga, Bebeléu e Ogra – bem como
na inclusão de outros elementos originais das histórias em quadr(ad)inhos de
Mauricio – é especialmente conseguida na forma subtil como os diálogos
reflectem a relação original (conflituosa) de Piteco e Thuga e,a sua resolução
actual, a elevam a um outro nível.
Finalmente, Piteco:
Ingá, conjuga todos aqueles elementos – personagens conhecidos, homenagem,
elementos reais, históricos e sobrenaturais – numa bela aventura no período
pré-histórico, recheada de acção, tensão e diferentes motivações, com uma
grande liberdade criativa que não afecta a credibilidade do relato, a par de conseguidas
opções em termos de planificação, de matriz tradicional mas quebrada recorrentemente
por planos arrojados que contribuem para um maior dinamismo da leitura.
Shiko
Panini
Comics
Brasil,
Novembro de 2013
195
x 280 mm, 82 p., cor
R$
29,90 (cartonado)
R$
19,90 (brochado)
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