26/06/2014

Le ventre de la hyène













Um dos maiores flagelos que afecta o continente africano serve de tema a este livro: os meninos-soldados.
A minha leitura de uma obra forte e chocante, já de seguida.


Le ventre de la hyène é a história – ficcionada mas em que se adivinha uma sólida pesquisa, até pelos inúmeros pontos de contacto com casos reais recentes – de dois irmãos, Talino e Anouar, separados no início da adolescência, quando o tio e tutor deles vendeu o mais velho a um grupo de mercenários. Para providenciar sustento para a (restante) família… e também para afastar o menino que acreditava possuído pelo demónio.
Esse foi o início de um percurso iniciático e difícil  - a entrada na vida adulta - dos dois irmãos que o (malfadado) destino viria a reunir novamente, mudando-os, transformando (potenciais) vítimas em (ferozes) algozes, numa espiral de violência com um percurso sangrento e término brutal, acentuado pelo traço duro e expressivo, sem contemplações de Alliel.
Um percurso sinuoso, em nome de quem paga – ou diz que paga - que os arrastou de país em país, até à europeia Marselha (onde a realidade, a vários níveis, não é assim tão díspar…), e que levou a que a relação fraternal entre os dois se transformasse num ódio doentio e profundo, que se reflectiu no seu relacionamento mútuo e com os outros.
Mas, se Le ventre de la hyène é um retrato duro e sofrido das vidas de Talino e Anouar – e daqueles que com eles tiveram o azar de se cruzar – como reflexo de uma situação cruel e inumana que a muitos (poderes) interessa manter, é também o reconhecimento (desiludido) de como é quase impossível a quem vem de fora - mesmo que movido das melhores intenções – entender tudo o que está subjacente a uma realidade chocante mas que se eterniza num continente (tristemente) habituado a sofrer.

Le ventre de la hyène
Clément Baloup (argumento)
Christophe Alliel (desenho)
Le Lombard, Bélgica, 20 de Junho de 2014
222 x 295 mm, 128 p., cartonado, 19,99 €

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