Há 55 anos, mais exactamente a 19 de Julho de 1959, os
leitores da Folha da Manhã, um jornal de São Paulo, descobriam uma nova
personagem aos quadradinhos: um cãozinho azul, chamado Bidú. Ignoravam que era
o princípio de uma das mais bem-sucedidas criações da história da BD: a
(futura) Turma da Mônica.
O universo em que se movia Bidú e o seu dono Franjinha, o
Bairro do Limoeiro, tinha muito em comum com o quotidiano dos leitores, o que
em parte ajudará a explicar o sucesso atingido, a par do humor posto em prática
por Maurício de Sousa, baseado em trocadilhos, nonsense e na subversão dos
próprios códigos da BD.
Aos dois heróis iniciais, em 1961 juntaram-se Cebolinha e
Cascão, o primeiro com dificuldade em dizer os erres e com ambição de ser o
‘dono da rua’, o segundo absolutamente alérgico a água. Os dois nasciam
inspirados em crianças que o desenhador conhecera em miúdo, sistema que
repetiria dois anos mais tarde quando surgiu na tira uma certa Mônica, baseada
numa filha, mal disposta e com um coelhinho de peluche na mão. Nascida para
suprir a falta de personagens femininas, impôs-se rapidamente e tornou-se a
protagonista, pelo que não surpreendeu que, em 1970, quando aquelas crianças
deram o salto dos jornais para uma revista a cores, esta tivesse o título de
Mônica.
A entrada em cena ao longo dos anos de Magali, Anjinho,
Denise, Marina, Louco, Capitão Feio, António Alfacinha (o miúdo português) e
muitos outros contribuiu para diversificar as narrativas, embora sempre
norteadas pela apresentação das crianças como tal e a defesa de valores como a amizade,
a verdade e a solidariedade.
Veículo educativo num país com muitas carências na área, a
Turma da Mônica tem servido para promover campanhas institucionais de
alfabetização e vacinação ou mostrar o respeito pela diferença, através de
personagens como o paraplégico Luca ou a cega Dorinha, o que levou a UNICEF a
nomear a Mônica sua embaixadora no Brasil, em 2007.
A popularidade crescente – repetida em Portugal, onde as
revistas começaram a ser distribuídas na década de 1970 – levaria ao
crescimento dos Estúdios Maurício de Sousa, à multiplicação de títulos e de
personagens - Horácio, Chico Bento, Astronauta, Turma da Mata, Turma do
Penadinho… - e à aposta noutros suportes, como o cinema de animação, afirmando
o seu criador como um dos mais populares e influentes criadores no Brasil, como
ficou implicitamente reconhecido quando em 2011 foi o primeiro autor de BD
nomeado membro da Academia Paulista das Letras.
Nos últimos anos, a Turma da Mônica tem apostado na
diversificação dos seus projectos. A par da manutenção da linha tradicional das
histórias aos quadradinhos e da recuperação cuidada das primeiras histórias,
alguns dos seus elementos cresceram numa tentativa de manter e/ou
criar novos laços com os leitores.
Em 2009, chegava às bancas a Turma da Mônica Jovem, versão adolescente dos heróis de Maurício de Sousa. Entre aventuras quotidianas centradas nos problemas que preocupam os adolescentes – namoro, primeiro beijo, estudos, bullying, amizade, futuro – e a emulação das séries que eles preferem, a revista mensal bateu todos os recordes de vendas e continua a ser um dos títulos mais populares do estúdio.
Na mesma linha, mas abordando temáticas mais adultas, já este ano (re)nasceram Chico Bento Moço, que aborda as mudanças provocadas pela entrada na idade adulta como a entrada na faculdade e a eventual mudança de cidade e de amigos, gravidez indesejada, ecologia…, e a Revista da Tina, centrada na entrada no mundo do emprego, na moda e no relacionamento com os outros.
As duas primeiras – bem como as revistas tradicionais da Turma – são distribuídas mensalmente em Portugal.
Ao mesmo tempo, tem sido dada oportunidade a autores brasileiros de BD de criarem obras com personagens de Maurício de Sousa, completamente livres em termos gráficos e temáticos, o que deu origem a livros bem interessantes, como Magnetar ou Laços.
Acompanhando o crescimento exponencial das novas tecnologias
houve um reforço da sua presença online em sites, blogs e Facebook ou com animações
como Mônica Toy e a criação de videojogos nela inspirados.
No campo dos desenhos animados, o Cartoon Networtk, com quem
os Estúdios Maurício de Sousa têm uma parceria, estreou em 2012 uma série com
as personagens tradicionais, no final de Junho foi a vez dos episódios animados
de Neymar Jr., a versão adolescente do craque brasileiro, e em preparação está
uma série baseada na Turma da Mônica Jovem.
(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de
15 de Julho de 2014)
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