História sobre a solidão e os transtornos mentais, Deixa-me
entrar, assinala a (boa) estreia de Joana Afonso como autora completa.
Um trajecto a seguir (agora) com (mais) atenção.
Já conhecia a Joana Afonso desenhadora. Especialmente de O Baile,
obra interessante (apesar de) distinguida com uma excessiva (?) lista de
prémios.
As qualidades que já apresentava, mantêm-se: um traço
personalizado, agradável – embora nem sempre tão legível quanto seria
desejável, em especial aqui e ali ao nível dos rostos -, um bom sentido de composição
das pranchas, boa sequenciação em termos narrativos, um trabalho assinalável em
termos de cor, bem utilizada para definir momentos, sensações e sentimentos.
Traço, a que Joana Afonso recorre especialmente nesta sua
primeira experiência como argumentista, pois em diversas sequências é através
do desenho – complementado apenas com pequenos balões/caixas de texto - que ela
transmite ao leitor a história de Alberto, lixeiro, e Fernanda, arrendatária do quarto onde ele vive.
A história de dois inadaptados, dois seres perto dos 40 que vivem (quase) à
margem da sociedade, mergulhados nos seus mundos, nos seus quotidianos – sempre
iguais – presos às suas rotinas, às pequenas coisas que fizeram suas e de que
não abrem – não querem abrir – mão.
Uma história serena, intimista, sofrida, assente em emoções –
que Joana Afonso consegue transmitir com uma sensibilidade assinalável – para cujo
desfecho Alberto e Fernanda terão de contribuir.
Desfecho que, não sendo sempre evidente ao longo da
história, também não é surpresa, mas conta com uma frase final – simples, mas
de grande força – que expõe o íntimo de um dos protagonistas e dá um renovado
sentido ao conjunto, como perceberão lendo esta obra.
Deixa-me entrar
Joana Afonso
Polvo
Portugal, Outubro de 2014
170 x 240 mm, 64 p., cor, brochado com badanas
ISBN 978-989-8513-24-3
11,98 €
11,98 €
Tanto este "Deixa-me Entrar" como o "Zona de Desconforto" são as boas surpresas da edição deste ano do AMADORA BD.
ResponderEliminarA arte da Joana Afonso é algo de sublime, mas é nos argumentos que se sente a sua frescura de ideias. Que as editoras continuem a apostar nela.