Decorreu no passado fim-de-semana a Comic Con Portugal 2014, um evento que congregou na Exponor, em Matosinhos, os mundos do cinema, TV, banda desenhada e videojogos, numa grande comemoração da cultura pop, e o mínimo que se pode dizer é que foi um sucesso, um enorme sucesso.
Um sucesso, coberto mediaticamente, que respondeu cabalmente às duas questões que levantei aquando da minha primeira abordagem ao evento.
A primeira tinha a ver com a adesão do público a um formato novo
no nosso país: mais de 32 mil visitantes – superando em muito os 20 mil que a
organização apontava como meta – são uma resposta clara.
A segunda, relativa aos valores das entradas e à capacidade
de gastar dinheiro no evento, deve ser ignorada pela adesão já referida e
também pela forma como a zona comercial esteve sempre cheia de visitantes
compradores, fazendo com que muitos stocks esgotassem, o mesmo tendo acontecido
a muitos autores da Artist’s Halley.
Como já alguém escreveu, com o modelo, vieram as filas, mas
estas seriam inevitáveis pela dimensão atingida. E isso levantou problemas
logísticos. No sábado, o dia da grande enchente, o atendimento a quem chegava
foi moroso – para próximas edições seria bom pensar em criar filas à parte para
quem já possui bilhete – e a zona de restauração existente revelou-se muito
curta e teve filas permanentes todo o dia – comprovando que a organização tinha
razão quando pediu para criar uma zona de alimentação bem maior, o que foi
negado pela Exponor (descrente do sucesso do evento?).
Também foi necessário aguardar horas em filas, para o
contacto breve e o autógrafo do actor ou do autor pretendido? Sim. Houve queixas
ou problemas de maior? Sinceramente não me apercebi nem me chegaram ecos disso.
E elas foram atenuadas pela animação constante providenciada pelos muitos
cultores de cosplay presentes, com destaque para os desfiles Star Wars e para
os mortos-vivos de The Walking Dead que era possível alugar (gratuitamente) e
passear pelo recinto por uma corda durante 30 minutos!
E vi, no sábado, 3 (três) horas antes do início da sessão de
autógrafos com Natalie Dormer uma fila com mais de 200 pessoas.
E vi fila semelhante para a sessão com Paul Blackthorne, que
estendeu em mais de uma hora o tempo previsto para satisfazer todos os fãs.
E vi, uma hora antes da sessão de autógrafos começar, mais
de uma centena de pessoas a esperar por uma assinatura de Brian K. Vaughan –
que também ficou a assinar bem mais do que a hora ‘contratada’ com a
organização.
Porque, importa sublinhá-lo, a presença destas e de outras
vedetas – Morena Baccarin, Seth Gilliam, Carlos Pacheco, Miguelanxo Prado – obedecia
a regras severas e apertadas. Fotos (dos actores de TV) só a determinada distância,
desenhos pelos autores de BD não estavam previstos… Por isso Claudio Castellini
só assinava; mais do que isso, só pagando!
Mas, em oposição, Carlos Pacheco, Javier Rodriguez, Pia
Guerra, Ian Boothby ou Marcos Martin fizeram-nos; Prado fê-mesmo por mais de
duas horas no domingo; no mesmo dia, Juan Cavia iniciou-os às 18h30 na zona de
autógrafos, passou depois para o stand da Dr. Kartoon e perto das 23 horas –
com a Comic Con oficialmente encerrada uma hora antes - ainda desenhava nos
livros.
Porque, quero sublinhá-lo igualmente, a maioria dos autógrafos
dos autores de BD foram feitos nos livros. E vi muita gente – do cosplay, dos
videojogos, fãs dos actores de TV - de passagem, a desatar a correr à zona
comercial e voltar com um livro na mão para pedir um autógrafo a um autor de BD...
Actores de TV e criadores de BD mostraram profissionalismo, simpatia,
disponibilidade e respeito pelos fãs que convém registar.
Cingindo-me mais à banda desenhada, que acompanhei de perto, o modelo de exposições deve ser repensado. O espaço estava mal situado e limitava-se a reproduções digitais de obras (boas) de Marcos Martin e Javier Rodríguez.
Nota muito positiva para os painéis com autores. (Quase) sempre à hora marcada e bem compostos na assistência, foram interessantes e diversificados. Neles, apreciei quase uma centena de presentes num dos painéis Portugal Internacional, com Jorge Coelho, Miguel Montenegro e André Lima Araújo, vi perto de 200
pessoas atentas à conversa com Carlos Pacheco e Javier Rodríguez, contei mais
de três centenas a ouvir Brian K. Vaughan e Marcos Martin.
Os muitos autores com quem contactei no Artist’s Halley
estavam satisfeitos: vendas – de edições, prints, desenhos, originais - acima
do previsto – muitos ficaram rapidamente sem material – muitos contactos com o
público e outros autores e a vontade expressa de voltar em 2015.
Comercialmente, a Comic Con Portugal foi igualmente um sucesso
e a sua zona comercial, com stands de jogos, livros e merchandising esteve
continuamente pejada de pessoas, mais, pejada de compradores que fizeram com que
muitos stocks esgotassem, que muitos livros desaparecessem rapidamente, que
outros vendessem dezenas de exemplares! Algo de que a BD em Portugal precisa e
para quem a Comic Con pode ser um bom balão de oxigénio. Sigam outros o exemplo
das lojas que este ano marcaram presença no certame.
Que o modelo pode – deve – ter ajustes, é indiscutível. As
questões das entradas e da alimentação devem ser revistas, a zona infantil precisa
de ser completamente remodelada e de ter animação própria. Mas há que frisar que
esta foi apenas a primeira edição – mais quatro estão já garantidas – e a
organização afirmou várias vezes a vontade de aprender com ela, de corrigir o
que esteve menos bem e de implementar outras soluções e propostas para o
futuro.
Pessoalmente, tendo avançado receoso, não sendo este o meu
modelo de eleição, confesso-me rendido. Assisti a painéis muito interessantes,
conversei com autores e amigos, consegui praticamente todos os autógrafos que
queria – e alguns mais! – e, após três dias intensos, aproveitados ao máximo,
com uma mochila de 10 kg (renovados diariamente!) às costas, não tenho dúvida
de que vou voltar em 2015.
Concordo com tudo Pedro.
ResponderEliminarObrigado pela visita Filipe!
EliminarBoas leituras!
Muito bom artigo! Eu fui aos 3 dias e adorei, tendo-me focado essencialmente na parte dos comics. O Claudio Castellini, no último dia pelo menos, ainda fez uns desenhos.
ResponderEliminarObrigado, Ronon.
EliminarTiveste mais sorte do que eu. Pedi um desenho ao Claudio Castellini quando estava na mesa dele, no Artists Halley e respondeu-me que só pagando...
Boas leituras!