Retomo a ideia da “história que vale uma edição”, que há
pouco tempo desenvolvi a propósito do livro Batman: Detective.
Desta vez, talvez com mais propriedade até, como poderão
verificar na leitura que fiz desta Hiper #26.
Na verdade, esta edição dificilmente poderia abrir melhor. Moby Dick, que ocupa as primeiras 77
páginas, é uma pérola escondida que merece ser descoberta – e que merecia
edição autónoma, melhorada (no papel e na encadernação) e aumentada (no
formato).
Adaptação do clássico da literatura homónimo, escrito por
Herman Melville – e quanto ganharia a revista, se em casos como este, existiesse
um pequeno texto em que fossem fornecidas ao leitor este tipo de informações… -
narra a perseguição obsessiva do capitão Ahab a uma mítica baleia branca.
Nesta versão Disney, Patinhas assume o papel de capitão
Quackab, enquanto Donald faz de Ismael, narrador aqui e no romance. Entre as
personagens, surgem também Pardal, os Metralhas e até a Maga Patalógica, em funções
bem conseguidas, em relação ao original e ás suas características Disney.
Escrita por Fracesco Artibani, a banda desenhada mantém
muito do tom original, lúgubre, negro, obsessivo e com forte carga dramática,
apenas atenuada aqui e ali por apontamentos de humor. Bastante fiel ao
original, apesar de algumas liberdades naturais como o “empréstimo” de uma certa
cena que facilmente identificámos com Pinóquio, a narração possui alguns bons
achados como a razão da obsessão de Quackab pela baleia ou a entrega do papel
do selvagem Queequeg aos sobrinhos de Donald.
Mas, possivelmente tudo isto seria inócuo – ou pouco menos –
se o desenho não tivesse sido entregue a Paollo Motura – com a inestimável cor
de Mirka Andolfo – que trabalhando bem as três dimensões no papel e
desenvolvendo um grafismo semi-realista, deu ao relato um tom bastante sério,
com algumas sequências a quase roçarem o registo de terror, não sendo difícil
imaginar que muitos dos pequenos leitores deste Moby Dick Disney passaram a
noite com pesadelos.
Se é verdade que uma abertura destas obrigatoriamente
diminui as restantes histórias deste número, a verdade é que independentemente
disso a selecção desta vez não é especialmente entusiasmante e até Mickey e a Expedição Perdida, demonstra
pouca inspiração por parte de uma dupla – Casty e Cavazzano - que nos habituou
a muito mais.
Deixo mesmo assim mais dois destaques na edição: Mickey em O Link, um policial de
estrutura mais complexa do que é habitual com assinatura de Tito Faracci, na
escrita, e de Alessandro Perina e Andrea Cagol, no desenho bem trabalhado, e Donald Pendular, sobre as vantagens e
inconvenientes de viver em paraísos afastados das grandes cidades, continuando
a trabalhar nelas, que é uma história divertida e bem ritmada, de traço mais
clássico, assinada por Marco Rota.
Hiper #26
Vários autores
Goody
Portugal, Fevereiro de 2015
145 x 205 mm, 320 p., cor, brochada, mensal
3,90 €
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