16/06/2015

Tungsténio









De forma gradual, a Polvo tem vindo a reforçar a sua aposta na banda desenhada (ou histórias em quadradinhos?) brasileira, revelando aos portugueses alguns dos nomes responsáveis pelo excelente momento que esta arte vive naquele país.
Para a enquadrar, tem mesmo uma colecção - Romance Gráfico Brasileiro - de que Tungsténio é um dos títulos mais recentes.


De Marcelo Quintanilha, conhecia já o seu lado de cronista social, descoberto em Sábado dos meus Amores e é essa faceta que ele de novo apresenta neste Tungsténio, lançado no ano transacto pela Veneta, no Brasil, e que por estes dias, para além de Portugal (numa edição com uma belíssima capa original...), chega também a Espanha e França.
Em relação ao álbum citado, há a passagem das histórias curtas para a narrativa (romance…) de maior fôlego, mas continua o mesmo olhar atento sobre a sociedade.
O tom, introspectivo, próximo e algo amargo de Sábado dos meus amores é substituído aqui por um registo mais violento – mais urbano em oposição à crónica dos subúrbios? – para expor uma certa marginalidade e o recurso a esquemas, através de uma história que cruza os destinos de um sargento reformado do exército, de um jovem traficante, de um polícia sem escrúpulos e da sua mulher.
Crimes ambientais, tráfico de droga, pequena criminalidade, violência doméstica, paixão/ódio e, transversal a tudo isto, uma violência incontida que é uma chaga social cada vez maior, são os motes de uma narrativa com muito de cinematográfico nos seus enquadramentos e no ritmo que o autor utiliza e que, uma vez concluída a leitura e o livro fechado, teimam em continuar a assombrar-nos, pela proximidade que incomodamente lhe reconhecemos e por serem espelho das tão grandes diferenças que ainda existem a nível social. E humano.

Tungsténio
Colecção Romance Gráfico Brasileiro
Marcelo Quintanilha
Polvo
Portugal, Junho de 2015
165 x 230 mm, 184 p., capa mole com badanas
ISBN 978-989-8513-40-3
14,99 €

(Este texto recupera parte do que escrevi para o Splaft #11, o catálogo do recente XI Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja)

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