30/10/2015

Bob Morane: Renaissance T.1














Não sei se é simples moda, saudosismo, nostalgia, tendência ou estratégia comercial, mas a verdade é que, a partir de hoje, também Bob Morane está de regresso.

O que há poucos anos seria notícia de (algum) destaque, hoje será pouco mais do que um balão a esvaziar-se, tantos têm sido os heróis (clássicos) retomados/recuperados pela (indústria de) banda desenhada franco-belga.
É sabido que sou avesso a esta tendência, fundamentalmente porque me parece que ela, a médio prazo, acaba por esvaziar a sua aura clássica, mas a verdade é que financeiramente deve ser compensador ou não assistiríamos a este cortejo de renascimentos.
Pelo que/apesar do que ficou escrito atrás, normalmente, a minha aproximação a estes álbuns é feita com um misto de receio e curiosidade, o que não aconteceu exactamente com este Bob Morane. Isto porque é uma série que nunca acompanhei de perto - devo ter lido pouco mais do que uma mão cheia de álbuns – o que me permitiu um maior distanciamento – e (quase) ignorar um historial de décadas, traduzido em 234 romances e 128 álbuns de BD.

A abordagem de Luc Brunschwig, Aurélien Ducoudray e Dimitri Armand – ao contrário, por exemplo, da utilizada em Blake e Mortimer – passou por transportar o renascido Bob Morane para a actualidade, apresentando-o como voluntário, na companhia de Bill Balantine, numa missão de paz das Nações Unidas na Nigéria.
Neste contexto, a acção tem início quando Morane está a ser julgado por, contra as ordens recebidas, ter excedido as (quase nulas) competências da força que comandava – limitada praticamente a controlar uma rua ocupada de um lado por cristãos e do outro por muçulmanos, certamente todos bons crentes praticantes… - para evitar o massacre da família de uma personalidade local. A publicação de fotos por uma jornalista, levou à divulgação mundial do seu acto heróico mas também a “uma profunda alteração dos equilíbrios políticos locais”, alterando o resultado das eleições que se seguiram.
Um desenvolvimento inesperado ocorrido durante o julgamento, levou à anulação deste e à libertação de Morane, mas o mesmo não acontecendo com Balantine.
A continuação da história, politizada, acaba por assumir um tom pouco credível, com Morane a aceitar um cargo nigeriano, atentados terroristas, o assassinato do presidente francês, uma evoluída metrópole no coração de África, uma conspiração que envolve equipamento tecnológico de ponta e uma situação que acabará por colocar Balantine e Morane em lados opostos da barricada.
Tudo servido por um traço e uma planificação que, se começam de forma conseguida nas páginas iniciais no tribunal e no flashback que conta a cena que serve de ponto de partida, aos poucos se vão banalizando, perdendo interesse e os pontos distintivos que ostentavam e abusando do lado caricatural dos intervenientes.
Ressalvando novamente o meu desconhecimento do (longo) historial de Bob Morane, parece-me que a sua escolha como protagonista é algo abusiva e mais não faz do que servir interesses comerciais – os que realmente contam… - e que a mesma história, que abusa de algum facilitismo de situações e de alguns estereótipos, poderia ter no elenco heróis até agora anónimos, sem grandes desvantagens nem grandes perdas em termos narrativos.

Bob Morane: Renaissance - T.1 Les Terres Rares
Luc Brunschwig eAurélien Ducoudray (argumento)
Dimitri Armand (desenho)
Le Lombard
Bélgica, 30 de Outubro de 2015
241 x 318 mm, 60 p., cor, cartonado
EAN 9782803633760
13,99 €

4 comentários:

  1. Ou seja, é fraquito... Pena, mas estou com o Engenheiro Cleto quanto, quer ao "velho" Morane, quer quanto à tendência em geral.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Bem resumido, sim: fraquito.
      A tendência, na BD como noutras áreas, é fazer dinheiro, sem olhar a como...

      Boas leituras!

      Eliminar
  2. Peço desculpa, não assinei como deve ser...
    João Ramalho

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. E é um grande prazer encontrá-lo por estes lados, senhor Doutor Coiso Ramalho!
      Boas leituras!

      Eliminar