15/10/2015

Hombre Hormiga: Segundas oportunidades












Num contexto em que, embora sendo arte, a banda desenhada – alguns preferirão que escreva ‘ os comics’ – são também (mas antes de mais) um negócio, uma obra como este Hombre Hormiga: Segundas oportunidades faz todo o sentido… e demonstra sentido de negócio!

Vamos por partes.
A actual apetência do cinema pelos super-heróis da Marvel, se por um lado assenta numa cronologia própria – que a banda desenhada vai tentando assimilar e acompanhar – também tem permitido a recuperação de alguns heróis (mais) esquecidos – o Homem-Formiga é um deles – e tem criado diversas oportunidades de negócio (em papel). Porque se é verdade que o cinema é um negócio à parte, que se gere a si próprio e é uma mina para a editora, tem havido capacidade por parte desta de aproveitar as sucessivas boleias (mediáticas) cinematográficas com edições alusivas – como é o caso da edição espanhola que sucede em poucas semanas ao filme. Ou de as antecipar, como foi o caso da edição norte-americana, publicada entre Março e Julho de 2015.
Desta forma, o livro hoje em questão, por um lado aproveita para regressar ao herói e, por outro, de forma mais explícita, está vocacionado não para o habitual leitor Marvel – hoje mais entradote – mas sim para os adolescentes/jovens que viram a película.
O seu tom é francamente leve, divertido e quase despreocupado, pese embora as realidades (recorrentes na Marvel) a partir das quais trabalha Nick Spencer. Ou seja, as dualidades super-herói vs ser normal com família; arriscar a vida vs. pagar as contas.
No momento em que apanhamos este Homem-Formiga, no caso Scott Lang, ele tenta endireitar a sua vida, mostrar-se responsável e deixar a casa de bonecas em que habita para ter uma casa verdadeira, como forma de ser (re)aproximar  da filha, mesmo que isso implique mudar de cidade e até de vida.
Do equilíbrio precário entre a luta quotidiana e a sua (atribulada) realidade como super-herói, vai-se fazendo a história, condimentada com humor e acção q.b. até um final, diferente do esperado – até pelo tom adoptado pelo registo - que deixa uma quase lição de moral que serve de aviso aos jovens leitores, futuros adultos: viver é difícil, as escolhas são muitas, nem sempre – nunca? – conseguimos (tudo) o que queremos.

Na mesma óptica – pesem todas as evidentes diferenças – encaixa a inclusão de Homem-Formiga: Um mundo pequeno, na colecção Poderosos Heróis Marvel, que a Levoir e o Público (ainda) estão a propor (até ao próximo dia 29 de Outubro).
Porque aproveita a passagem do protagonista pelo cinema e porque assume (duplamente) a componente aos quadradinhos ao incluir num mesmo volume, quer a sua origem original (foi mesmo assim que quis escrever), quer a segunda origem, então como Scott Lang, o que permite, para além do mais, comparar narrativas e artes separadas por quase vinte anos. Curiosamente, este volume acaba por ser o complemento ideal do que detalhei acima, pois a estreia de Lang como Homem-Formiga - à revelia do original, não para salvar o mundo, apenas a sua filha - aqui narrada, é recorrentemente citada naquele volume e a sua leitura completa permitirá uma melhor compreensão de Hombre Hormiga: Segundas oportunidades.

Hombre Hormiga: Segundas oportunidades
Nick Spencer (argumento)
Ramón Rosanas (desenho)
Panini Comics
Espanha, Setembro de 2015
260 x 170 mm, 136 p., cor, capa com badanas
ISBN: 9788490942475
12,50 €




Homem-Formiga: Um mundo pequeno
Stan Lee, David Micheline e Tim Seeley (argumento)
Jack Kirby, John Byrne e Tim Seeley (desenho)
Dick Ayers, Bob Layton e Victor Olazaba (arte-final)
Levoir/Público
Portugal, 10 de Setembro de 2015
175 x 265 mm, 136 p., cor, capa dura

8,90 €

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