Este é o relato de como uma obra na qual depositava grandes
esperanças, se revelou uma desilusão que acabou por se transformar numa boa
surpresa.
As nossas preferência e inclinações estão relacionadas –
acredito eu – com a nossa educação, a época e o meio onde crescemos, os livros,
filmes, (hoje em dia) jogos que nos marcaram ou com os quais nos iniciámos. Sem
que saiba ao certo como este ‘mecanismo’ funciona, tenho maior inclinação para
o western, a aventura, o policial e a temática bélica associada à II Guerra
Mundial do que para outros registos.
A edição desta obra, cuja acção decorre em 1944, em
território belga, foi uma boa notícia, até pelas poucas oportunidades de leituras
que tenho tido, pois o tema – tal como o western - é, nos nossos dias,
naturalmente, pouco abordado.
O início da sua leitura, com os restos de uma companhia
norte-americana perdida num cenário gelado e coberto de neve parecia confirmar
as minhas expectativas, com o tom bélico de braço dado com o humano, pois Chris
Stavros, um dos protagonistas, acaba de receber a notícia da morte da mulher e
do internamento do filho num orfanato e só pensa em desertar para o ir buscar.
No entanto, essas expectativas rapidamente pareceram gorar-se
quando o destacamento norte-americano é atacado por uma companhia de zombies
nazis e o enredo pareceu ‘descambar’ para um tom místico e sobrenatural que,
como a ficção científica, está longe das minhas prioridades.
Na verdade, o que eu esperava como um relato de guerra –
puro e duro – assumia contornos mais gerais, num confronto – literalmente
eterno – entre bem e mal, com demónios, anjos caídos e arcanjos, um centurião
romano a penar pela eternidade por ter trespassado Cristo e um grupo de monges
guardiões d(e todos) os artefactos e relíquias da cristandade.
Mas, a verdade é que, com o passar das páginas, a história
me prendeu, o seu tom épico sobrepôs-se ao (meu) desalento, aconchegando a
temática bélica e, apesar de alguma previsibilidade o desfecho (uma vez lá
chegado) consegue surpreender e a forma como tudo decorre até chegarmos a ele,
encheu-me (suficientemente) as medidas pare recomendar a sua leitura. E que serve de prova de como uma boa obra, se impõe para lá de gostos, preferências ou géneros.
A tudo isto não é de todo imune o bom grafismo do
dinamarquês Peter Snejbjerg, senhor de ‘uma linha clara suja’ que brilha nos
cenários cobertos de neve que predominam em Esquadrão de Luz e que revela um
dinamismo e uma capacidade de composição das pranchas que fazem com que as
cenas épicas das batalhas se destaquem e nos entusiasmem.
Nota final
Apenas para relembrar que o desenhador deste livro, Peter
Snejbjerg, vai estar presente na Comic Com, em Dezembro, na Exponor, a convite
da G. Floy.
Esquadrão da Luz
Peter Tomasi (argumento)
Peter Snejbjerg (desenho)
G. Floy Studio
175 x 265 mm, 216 p., cor, capa dura.
ISBN 978-84-16510-03-0
PVP: 14,99€
Comprei-o hoje, aproveitando o desconto de aderente na FNAC, e devo dizer: Há muito tempo que não lia uma HQ tão boa, e que entusiasmasse tanto.
ResponderEliminarBem escrita, bem desenhada, li-a de uma assentada, e tenho a certeza de que a vou reler bastantes vezes. Gosto bastante de histórias sobre a II Guerra Mundial,ainda para mais com esta forte componente sobrenatural: o "The Keep" do Michael Mann é um dos meus filmes favoritos, e a leitura deste livro trouxe-me esse filme à memória.
Aconselho fortemente esta leitura, ainda para mais tendo em atenção a grande qualidade da encadernação,do papel,da impressão,da tradução,tudo a um preço bem razoável... Enfim, uma grande edição, e a GFloy está de parabéns, não só por este livro, mas também por tudo o que tem publicado no nosso país. Espero que o seu projecto continue a ter pernas para andar.
Tudo parece indicar que sim, Digital Desesperado.
EliminarE reitero que Esquadrão da Luz é uma bela edição e uma bela obra.
Boas leituras!