“E disse Deus: Todos
os que são suficientemente estúpidos para se enfiarem no Inferno, merecem lá
ficar perpetuamente.” Carta de Jonas aos californianos
O western – felizmente - não está morto e álbuns como este
Undertaker auguram-lhe até um futuro - duplamente – risonho. Pelo passo em
frente no assegurar da sua perenidade e pelo salutar humor negro que ostenta.
Esse humor é um dos factores distintivos entre este western
e tantos outros que a BD nos tem oferecido – e a propósito veja-se, por
exemplo, o delicioso monólogo inicial do protagonista, um coveiro ‘a domícílio’
que tem um abutre como animal de estimação – que achado! – ou mesmo toda a
trama, assente num texto equilibrado e muito bem escrito, numa das histórias
mais originais que já vi num western - e, sim, ainda é possível inovar neste
género – paradoxalmente combinado, de forma contrastante, com um alto grau de
violência, explícita ou não.
A isto – tanto já! – acrescente-se um belo desenho,
realista e muito dinâmico, uma planificação ágil com o constante recurso a mudanças de enquadramento, a
evocar – sem nada ficarem a dever? - aos de Jean Giraud em Blueberry, um dos
maiores monumentos ao western que a BD erigiu.
A história começa quando Jonas Crow (sic!), “o coveiro que
dá vida aos mortos” (!), com uma forma peculiar de citar a Bíblia consoante os
seus interesses…, recebe um telegrama a convocá-lo para tratar de um funeral.
Uma vez chegado ao local, descobre que foi a vítima que - ainda não o é – quem
o contratou para tratar do seu próprio enterro, no dia seguinte.
Um morto que continua a orquestrar a vida
dos vivos, a cobiça despertada pela riqueza (desaparecida no interior do
falecido) acumulada ao longo dos anos, uma ex-governanta apostada em mostrar ao
ex-patrão, agora cadáver, que lhe tirou tudo mas não o orgulho, mineiros
descontentes que querem passar de (quase) escravos a seus próprios patrões, um
refém inocente – cuja identidade é mais um achado! - vítima de uma tétrica
maquinação, cuja vida depende do morto ser enterrado ou não, um xerife, os seus
ajudantes e um pelotão militar entre o desejo de cumprir a lei e o de
enriquecer rapidamente, o passado sombrio de Crow que teima em assolá-lo, os estranhos sentido de justiça e de lealdade de Rose e Lin, as companheiras que as circunstân-cias proporcionaram ao cangalheiro e um
cadáver em trânsito recheado de… ouro, são outros pontos fortes de uma obra plena de adrenalina que
se desenvolve em crescendos sucessivamente superados, assente numa longa perseguição que semeia o caminho
de (inúmeros) mortos e feridos.
O primeiro tomo termina de forma magistral, o segundo fecha
de forma brilhante e, por tudo isto e mais – escrevo-o pesando bem as palavras –
Undertaker entusiasmou-me, como há
muito um western – um dos meus géneros de eleição – ou mesmo qualquer relato de
aventuras, há muito não o fazia.
Undertaker
Tome 1 - Le mangeur
d’or
EAN 9782505061373
Tome 2 - La Danse des
vautours
EAN 9782505063544
Xavier Dorison (argumento)
Ralph Meyer (desenho)
Dargaud
França, Novembro 2014 e Novembro 2015
241 x 318 mm, 56 p., cor, capa dura, 13,99 €
Termina no 2? Ou pelo menos, fecha um ciclo? Confesso que é uma série que me despertou a atenção, mas não tenho paciência para ir esperando que os autores vão lançando os livros. Prefiro esperar e comprar séries ou ciclos completos. Naturalmente, sei que os autores também 'precisam de comer' e como tal, precisam ir vendendo...
ResponderEliminarFui rever a série no site da bdtheque, mas apenas indica 'série em curso'...
O #2 fecha o ciclo, pco69, mas pressupõe que outras aventuras se seguirão.
EliminarBoas leituras!
Obrigado Pedro. Coisa irritante nos comics (made in USA) é a sua filosofia de 'telenovela continua' e nos FB é os 'Ciclos'.
EliminarPara além disso, por várias razões, também faz com que as nossa editoras muitas vezes deixem ciclos pendurados
Obviamente percebo que uma história será melhor contada em 5 (ou 2) x48 do que num album simples, mas o 'perceber' não quer dizer que goste... :-)
Tem tudo a ver com o ritmo de publicação, pco69.
EliminarNos EUA, a publicação mensal obriga a que a história nunca pare para os leitores não largarem as revistas. Ou, mais ainda, espalham a história por vários títulos, tentando que o leitor os compre todos...
No mercado franco-belga, o álbum de 48 páginas corresponde - ou correspondeu noutros tempos - sensivelmente a um ano de trabalho (do desenhador)...
Agora, obviamente, todos nós preferíamos ter a obra completa num único volume... embora depois pudéssemos reclamar com os intervalos entre publicações muito longos ou livros demasiado caros...!
Boas leituras!
EliminarNo site da editora já tem até o Tome 4
http://www.dargaud.com/bd/Undertaker/Undertaker/Undertaker-tome-2-La-Danse-des-vautours
pena que não tenha previsão de lançamento no Brasil!
ResponderEliminarNem em Portugal. Haroldo... ;(
EliminarBoas leituras!
"perpétuamente" não!
ResponderEliminar"perpetuamente"!
Advérbios de modo nunca são acentuados
Obviamente Daniel.
EliminarObrigado pela leitura atenta!
Boas leituras!