09/02/2016

Metralla







Kobi, taxista em Telavive, vê surgir na sua vida Numi, com a notícia de que o seu pai, com quem não contacta há meses poderá ter falecido num atentado. A tentativa de confirmação da sua morte, vai aproximar os dois jovens e abrir-lhes novas perspectivas de vida.

Kobi – que não troca um mero telefonema com o pai há meses – e Numi – que viveu com ele mas lhe perdeu o rasto – exemplificam uma geração com problemas de relacionamento e de afirmação, uma geração de crescimento lento e assunção tardia das responsabilidades da vida adulta, refugiada nas dificuldades que o mundo apresenta e na falta de oportunidades de que supostamente dispõe.
A investigação que acabam por levar a cabo, com mais dúvidas do que certezas, com motivações diferentes e, por vezes, dúbias, vai levá-los a conhecerem-se e a conhecerem-se melhor mas também a descobrirem facetas novas – nem sempre as esperadas… - sobre o pai/amante.
Mais recuos do que avanços, a facilidade de enterrar a cabeça na areia em vez de dar o passo em frente, as inseguranças, as dúvidas e o conforto do seu cantinho (mesmo que desconfortável) preferido aos novos espaços que se abrem, vão marcar o relacionamento dos dois e retardar (?) a relação que entre eles poderia nascer.
A narrativa, intimista, desenrola-se de forma pausada, à medida dos humores dos protagonistas, e vai permitindo também espreitar um pouco da realidade israelita composta por Rutu Modan com um traço falsamente simples e que não convence à primeira, muito legível e servido por cores planas e quentes que retratam na perfeição o clima quente local.
A isto, como nota distintiva a outras abordagens similares, Modan, apõe o terrorismo como pano de fundo. Mas – e confesso que isso me surpreendeu, primeiro, e me chocou, depois – é um terrorismo anónimo, não criticado nem defendido, apenas – apenas? – exposto como mais um elemento para compor o meio - a sociedade israelita - em que a história se desenrola, possivelmente consequência inevitável para quem tem que viver diariamente sob o perigo de uma explosão ou de disparos às cegas …
Metralla (Exit Wounds no original), valeu à sua autora o Eisner para o Melhor Álbum em 2008 e bem poderia marcar presença numa futura colecção Novela Gráfica da Levoir com o Público.

Metralla
Rutu Modan
Astiberri
Espanha, Novembro de 2015
175 x 260 mm, 168 p., cor, brochada com badanas
ISBN: 978-84-16251-31-5
18,00 €

2 comentários:

  1. Muito bem Pedro, e de acordo com a sugestão para a eventual publicação na coleção Novela Gráfica. Ou este, ou o A Propriedade.

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    1. RC,
      Pela qualidade, pela temática e pela introdução de maior diversidade geográfica, um dos aspectos distintivos da colecção Novela Gráfica, fazia todo o sentido.
      Boas leituras!

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