25/03/2016

Maudit Allende








Na História, na História de qualquer país, há apenas uma verdade absoluta ou cada uma das partes, cada um dos intervenientes, os seus apoiantes ou detractores, podem contar a História de forma diferente?

Leo, chileno de nascença, exilado com a família na África do Sul na sequência da ascensão ao poder de Salvador Allende, cresceu a admirar o general Augusto Pinochet e o golpe que ele conduziu para pôr fim ao caos introduzido pelo comunismo.
O encontro com Victoria, uma jornalista francesa, as conversas com exilados chilenos e a posterior ida ao Chile com ela – num regresso à pátria três décadas depois - vai obrigá-lo a questionar tudo o que lhe foi ensinado pela família e a olhar, sob um ponto de vista diferente, Allende e Pinochet, já não salteador e herói nem as faces opostas de uma mesma moeda, mas intervenientes – complementares? – de uma realidade complexa e mais vasta.
No assumir de um novo equilíbrio e de um novo posicionamento face à História do seu país – e contra as verdades dogmáticas que lhe tinham sido inculcadas - Leo vai descobrir que não existem verdades absolutas da mesma forma que não existe mal nem bem absolutos.
É através do seu olhar, melhor através do olhar que lhe conferem Olivier Bras, jornalista francês especialista na América Latina, e Jorge González, ilustrador argentino a viver em Espanha, que percorremos quase um século da História de um país sobre o qual – menos ainda que Leo – pouco mais sabemos, certamente, do que uns poucos estereótipos.
Vamos, por isso, acompanhar o crescimento e a evolução de dois homens que ajudaram a defini-lo – ambos convencidos que estavam a fazer o melhor pelo Chile - assistir às sucessivas campanhas de Allende pelo Partido de Unidade Popular que acabarão por o levar – efemeramente - ao poder em 1970, assistir à deterioração das condições de vida, acompanhar a visita de Fidel – a quem Pinochet seguirá passo a passo como representante do exército chileno! - contemplar a lenta progressão da revolução, compreender a aproximação a Cuba e a ingerência do poder e dos interesses norte-americanos que apoiarão o golpe de estado de 11 de Setembro de 1973, conduzido por Pinochet (influenciado pela esposa), em que Allende morrerá (suicídio? assassínio?), observar o regresso à (ainda mais dura) ditadura, tremer com a duríssima repressão, ver, anos mais tarde, as manifestações contra Pinochet e a sua prisão em Londres…
Tudo num livro de leitura acessível mas bem construído, como um documentário, com diversas citações, que utiliza cor plena apenas na realidade de Leo, em contraste com os tons sombrios dos factos históricos, acentuado pelo ‘grão’ do desenho realista mas esbatido de González, numa narrativa com constantes saltos temporais e muitas páginas duplas, que nos vai transmitindo toda a informação - sob uma falsa (?) capa de objectividade, algo que, afinal, como Leo acabaremos (?) por perceber que não existe…

  

Maudit Allende
Olivier Bras (argumento)
Jorge González (desenho)
Futuropolis
França, Novembro de 2015
214 x 290 mm, 128 p., cor, capa dura
EAN: 978-2-7548-1114-9
20,00 €

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