29/04/2016

Guerra Civil






A estreia – ontem – do filme Capitão América: Gerra Civil é o pretexto – desnecessário mas justificável até pela oportunidade de comparar os inevitáveis desvios e diferenças, o que ficará eventualmente para nova oportunidade – para voltar à Guerra Civil original, aos quadradinhos e complementar a leitura já feita aqui.

Aquela que foi a grande saga Marvel… de 2006 – desculpem, não resisti à piada fácil – trazia – finalmente!? – a resposta à questão que todos os leitores Marvel, mais cedo ou mais tarde, colocaram: “Vamos lá a ver, estes super-heróis andaram a arrear nestes super-vilões ao longo de umas quantas dezenas de páginas, espatifaram edifícios, fizeram voar carros e sabe-se lá que mais e, no dia seguinte, está tudo limpo e arrumado, sem notícias de vítimas?”
Na verdade, esta banda desenhada criada porMark Millar e Steve McNíven como uma mini-série em sete episódios – e com inúmeras ramificações espalhadas pelas diversas revistas da editora - começa com uma intervenção de um grupo obscuro de super-heróis, que involuntariamente provoca a explosão de uma escola e causa um grande número de vítimas entre as crianças que a frequentavam.
A onda de choque na opinião pública daí resultante, leva o governo norte-americano a criar uma lei que obriga ao registo de todos os super-heróis. Enquanto um grupo liderado pelo Homem de Ferro apoia a nova legislação, outro, encabeçado pelo Capitão América, defende o direito à liberdade e ao anonimato, em nome dos serviços relevantes prestados ao país. O crescente aumento da tensão resulta num confronto inevitável, com resultados devastadores.

Este acrescento de realismo acaba por ser um dos principais pontos de interesse de Guerra Civil, até porque aqueles que seriam os elementos com potencialidade para afectar a longo prazo o universo Marvel – a posterior morte do Capitão América, a revelação da identidade do Homem-Aranha, a separação entre Sue e Reed Richards, a morte de Golias ou mesmo a mais alargada incompatibilização entre super-heróis – acaba por ter um alcance muito reduzido no tempo, desaparecendo em boa parte ainda durante ou logo após a conclusão desta saga.
Apesar disso, a trama base de Guerra Civil lê-se muito bem e, se é indiscutível que o traço realista de Steve McNíven tem uma contribuição bastante importante para isso, é ao argumento de Mark Millar que se devem os principais encómios.
Equilibrado, coerente, muitas vezes emocional, (quase) sem tomar partido, mostrando o ideal de uma das posições e a razão da outra, Millar desenvolve o relato num crescendo, com momentos de tensão, algumas surpresas, entregando a diversos super-heróis – Homem-Aranha, Sue Richards ou o surpreendente Justiceiro – o protagonismo em cenas limitadas no tempo mas fulcrais para o todo, até desembocar no inevitável grande confronto definitivo que resolve de forma inesperada em relação ao que o desenvolvimento parecia apontar, mas da única forma possível sem que nenhum dos protagonistas perdesse (definitivamente?) a face.

Novos Vingadores: Guerra Civil
Colecção heróis Marvel série II
Mark Millar (argumento)
Steve McNiven (desenho)
Dexter Vines (arte-final)
Levoir/Público (Portugal, 20 de Dezembro de 2012)
170 x 260 mm, 192 p., cor, cartonado
8,90 €

(clicar nas imagens para aproveitar toda a sua extensão)

8 comentários:

  1. Já vi o filme e gostei muito. Existem algumas cenas de ação tiradas da banda da banda desenhada. Do mundo cinematográfico da marvel talvez fique atrás do soldado invernal que é o meu favorito.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. * tiradas da banda desenhada

      Eliminar
    2. Sempre que leio ou oiço ''soldado invernal'' sinto um arrepio na espinha. Que raio de tradutor é que tomou essa opção? Porque não ''Soldado de Inverno''. O original é ''winter soldier'' não ''wintery soldier''. Estou mesmo a imaginar o Brubaker a criar um personagem chamado ''Wintery Soldier''... talvez para enfrentar o ''Summery Captain'', LOL.

      Eliminar
  2. Caro Pedro na minha opinião os Mark Miller e restantes autores tomam o partido do capitão América. Aliás achei a estória um pouco parcial, pois a atitude do Tony Stark é perfeitamente aceitável mais a mais após o 11 de setembro.
    Vou ver o filme e tentar encontrar as semelhanças com a bd.

    Cumprimentos

    ResponderEliminar
  3. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderEliminar
  4. Este ano em parte graças ao filme vai finalmente sair a Guerra Civil 2.Quanto a essa o esquisito e o Homem de Ferro estar do lado do Governo e fazer tudo para caçar e prender seus amigos e conhecidos,quando em outra ocasião como Guerra de Armaduras era ele o 1 a fazer frente ao governo e ao Capitão.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. A inocência é uma coisa tão bonita. Comparar-se estórias de autores completamente diferentes, separada por 20 anos e seguindo linhas editoriais completamente distintas num género que é cada vez mais visto como uma industria e cada menos como uma forma de arte e, mesmo assim, esperar-se coerência e continuar a acreditar-se na ''continuity'' é duma inocência comovente :)

      Eliminar
    2. Nao é inocência basta analisar e observar a personalidade de Tony Stark ao longo do anos ele nunca gostou que usarem as sua Armaduras para o mal,sempre detestou o envolvimento da Shield,ou das Comissões de que vigiavam os supers nas atividades com os Vingadores supervisionadas por burocratas duvidosos tipo o Gyrich,ou mesmo de outras empresas rivais,mesmo o Capitao também nao era propriamente um pau mandado do Governo ou nao teria abandonado a sua identidade 2 vezes (Nomade,Capitan).

      Eliminar