06/07/2016

Três Jonathan


Concluída – dia 29 de Junho – a colecção Jonathan, da ASA com o jornal Público – parece-me razoável complementar a informação que disponibilizei aquando do seu início, até para de alguma forma preencher os vazios que ela deixou – leia-se ‘álbuns por editar’.

A colecção em causa foi o pretexto para eu descobrir (/relembrar alguns episódios d)a série e, uma vez feita essa leitura, sinto que posso dividi-la em três grupos, que correspondem, grosso modo, a três Jonathan diferentes.

O primeiro, o ‘original’ e mais interessante, é intimista e introvertido, em busca de si mesmo e da harmonia com a natureza nos Himalaias e, não buscando a companhia de outros, consegue criar laços com eles. É o Jonathan presente nos álbuns 1 a 7 da série original e também da colecção ASA/Público, que os portugueses podem ainda comprar e que explorei um pouco mais a propósito dos álbuns Lembra-te Jonathan, E a montanha cantará para ti e Kate.

O segundo Jonathan apresenta-se como um ser errante, atípico em relação ao seu passado (descrito atrás), desenraizado dos ‘seus’ Himalaias e muitas vezes pouco mais do que pretexto ou figurante para que Cosey conte outras histórias. É o Jonathan que vislumbramos nesta colecção em Neal & Silvester, Atsuko e Aquela que foi, mas que também está presente nos álbuns 8 a 11 originais.

O terceiro Jonathan, surge politicamente comprometido com a causa tibetana e em oposição efectiva ao invasor chinês. O caso mais evidente é  Celui qui mène les fleuves à la mer, mas O Sabor do Songrong ou Ela ou Dez Mil Pirilampos, compilados num volume da colecção Clássicos da Revista Tintin (ASA/Público), também seguem a mesma linha temática, e têm como principal – único? – objectivo denunciar (mais) uma situação injusta no xadrez mundial e chamar a atenção para uma causa querida ao autor, o que por vezes interfere com o ritmo narrativo.

Aceite o pressuposto anterior, constata-se que a colecção ASA/Público de 10 álbuns que foram traduzidos para português contempla - de forma desigual – apenas as duas primeras daquelas facetas de Jonathan. Isso não invalida, no entanto, que numa lógica cronológica, evolutiva e até de uma eventual continuidade editorial - que, inexplicavelmente, parece completamente fora dos horizontes da ASA a cada nova colecção – não fizesse mais sentido terem sido editados os primeiros 11 tomos originais.
E se alguns poderão defender, com alguma verdade, que Le Privilège du serpent soa um pouco a anedota, com o protagonismo entregue a um amigo de Jonathan com o corpo de Derib (o autor de Yakari e Buddy Longway), já a edição do díptico Oncle Howard est de retour/Greyshore Island faria todo o sentido, pois inclui o reencontro de Jonathan e Kate, mesmo concedendo que ele surge a coberto de um relato policial, no qual o titular da série surge claramente deslocado, quer tematicamente, quer geograficamente, pois tem por cenário os Estados Unidos.
O que não foi impeditivo da publicação de Atsuko (centrado no Japão) ou de Aquela que foi, que tem por cenário a Índia e por época – em grande parte da narrativa – a infância/adolescência do protagonista…

4 comentários:

  1. Pena que nesta série, como na de Bernard Price e até XIII, tenham ficado alguns álbums de fora. No caso de XIII foi apenas um álbum que não interfere muito na história, mas ajudaria a completá-la mais, aproveitando para publicar mais um ou três álbums dedicados aos personagens da série.
    Bernard Price era uma série que desconhecia e conquistou-me completamente, tanto que já mandei vir os restantes títulos em Francês (os que consegui).
    De qualquer modo fica sempre os meus agradecimentos pela iniciativa que a ASA e o público vai tendo.
    Fico a aguardar por mais novidades com esta parceria...desejando muito ver um dia Largo Winch publicado na sua totalidade :)

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    1. Sim, Jony, é pena terem ficado de fora álbuns em todas estas colecções e, mais ainda, que elas não sirvam para a editora depois as completar em livraria, pois há 'normas' na relação com o Público que nem sempre se conseguem contornar...
      Quanto a ver Largo Winch completo um dia, parece-me muito difícil. Seria com certeza outra colecção para publicar aos retalhos... ;(
      Boas leituras!

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  2. Pedro, teria sido interessante que tivesses feito uma análise crítica da evolução da série nos seus 3 "ciclos". Vê-se que preferes o primeiro, mas o que achas da evolução dos outros dois? Isso interessa-me particularmente, tenho a releitura a meio...e descobri que nunca li os 5 últimos :-(

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    1. Caro RC,
      Prefiro o primeiro, sem dúvida... Os outros dois não me despertaram especialmente, talvez por isso a inexistência da análise crítica que referes.
      Acho que se nota o Cosey mais à deriva - o tempo entretanto decorrido e os outros projectos (mais interessantes) que entretanto abraçou também podem ter contribuído para isso - e há histórias que funcionariam melhor sem Jonathan...
      Mas ambos sabemos que o imperativo comercial continua a ter muita força e o regresso dele a Jonathan teve mais influência da editora do que vontade da parte dele...
      Aconselho-te a leitura das introduções dos volumes integrais de Jonathan, para perceberes melhor a génese da séerie e de cada um dos álbuns...
      Boas leituras!

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