06/10/2016

Sandman #1: Prelúdios e Nocturnos


O início da edição integral de Sandman pela Levoir, a partir de hoje e durante 11 semanas, com o jornal Público, é o pretexto para uma breve apresentação de uma das séries mais marcantes dos comics americanos dos anos 1990.

A série
Vários factores ajudam a explicar o sucesso de uma das séries míticas da banda desenhada: a inovação temática, as capas artísticas e, principalmente a qualidade (literária, dirão alguns) da série em si.
Publicada pela DC Comics, contribuiria para a editora criar um selo adulto, Vertigo, que se tornou num dos mais importantes – e venerados - no comic mainstream norte-americano por onde têm passado diversas outras criações de referência, como Swamp Thing, 100 Bullets, Y the Last Man, Preacher ou V for Vendetta, para citar apenas algumas.
Protagonizada por Sandman, também conhecido como Morfeu ou o Senhor dos Sonhos, conta com a participação dos outros deuses que compõem os 7 Eternos: a sua irmã Morte (principalmente), Destino, Destruição, Desespero, Desejo e Delírio.
Criada por Neil Gaiman como pretexto para poder contar mensalmente histórias diversas e diversificadas, apesar da preponderância do sonho, do imaginário e do fantástico, isso não é impedimento para que muitas delas tenham uma componente bem humana, o que faz com que a sua acção decorra entre o real e o imaginário.
Pejada de referências literárias, musicais, mitológicas, religiosas e da própria BD, ou não fosse o protagonista um obscuro personagem da DC - criado nos anos 40 e retomado mais tarde, com orientação díspar, por Jack Kirby - resgatado pelo argumentista britânico, Sandman é desenhado quase sempre por autores de segunda linha o que acaba por fazer sobressair a qualidade dos argumentos de Gaiman, face ao muitas vezes pouco apelativo lado gráfico, o que não invalida a qualidade de várias excepções e a originalidade muitas vezes patenteada pela planificação, que raramente se confina aos limites naturais das páginas ou das próprias vinhetas.
Também por isso, mas antes de mais pela inovação, arrojo e originalidade, graficamente o grande destaque de Sandman vai para as capas dos comics e das recolhas, todas elas assinadas pelo (também) britânico Dave McKean, numa técnica mista de desenho, fotografia e colagem que desafiou todos os cânones estabelecidos, aliada ao facto de o protagonista raramente figurar nelas.


Publicação original
Sandman, foi originalmente publicado em comics mensais pela DC Comics, a partir de Janeiro de 1989. No total, até Março de 1996, foram editadas 75 edições e um número especial.

A colecção da Levoir
Editado integralmente pela primeira vez em Portugal, a colecção da Levoir terá 11 volumes, mais um que a original norte-americana, pois o volume 9, pela sua dimensão, foi dividido em dois.
São volumes a cores e capa dura, com número de páginas variáveis, geralmente entre as 160 e as 230. Serão publicados à quinta-feira até 15 de Dezembro e terão um preço fixo (que é obrigatório nos coleccionáveis publicados com os jornais) de 11,90 € por volume.

  

Sandman em Portugal
Sandman já tinha sido parcialmente no nosso país pela Devir.
Entre 2004 e 2006 foram publicados três volumes: Prelúdios, Nocturnos (que correspondem ao primeiro volume da actual colecção) e Terra de Sonho (equivalente ao terceiro tomo da colecção da Levoir).

  

Sandman #1: Prelúdios e Nocturnos
O ponto de partida para Sandman é a captura do protagonista por dois humanos que o mantêm cativo durante dezenas de anos.
A sua ausência vai introduzir o caos no mundo material, pois sem a sua acção os humanos ficam privados da possibilidade de sonhar ou então mergulhados em pesadelos.
Quando finalmente consegue escapar, Sandman, para lá da sua vingança implacável, terá que recuperar os artefactos místicos que lhe foram subtraídos – o pó dos sonhos, o seu elmo e a pedra dos sonhos – fundamentais para poder cumprir os seus propósitos.
A sua busca, ainda convalescente e fraco pelo tempo que levou longe deles, levá-lo-á ao próprio Inferno – que não existiria se os seus “…prisioneiros não pudessem sonhar com o Paraíso” - e a cruzar-se com a Liga da Justiça, o Espantalho, o Doutor Destino (da DC Comics…) ou (pela primeira vez) com um certo John Constantine…
Volume introdutório, assenta especialmente na definição da personagem titular e explana algumas das suas capacidades, mas abre já a porta para alguns dos caminhos – mais humanos e substanciais - que a série trilhará no futuro e aceder aos vários níveis de interpretação propostos.
Ou, por outras palavras, obriga desde logo a uma leitura atenta que permita mergulhar, “como num sonho acordado…” (cantava Fausto), numa das mais importantes criações dos quadradinhos americanos.

Sandman #1: Prelúdios e Nocturnos
Inclui os comics #1 a #8 da versão original norte-americana
Neeil Gaiman (argumento)
Sam Kieth, Mike Dringenberg e Malcolm Jonees III (desenho)
Dave McKean (capas)
Levoir/Público
Portugal, 6 de Outubro de 2016
232 p., cor, capa dura
11,90 €


(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

5 comentários:

  1. Afirmar que foi o Sandman que levou à criacão do selo Vertigo é um pouco excessivo. Primeiro, Sandman começou em Janeiro de 1989 (e não 1990...). Segundo, por exemplo, o V for Vendetta foi criado no início dos anos 80 e foi publicado pela DC ainda antes de Sandman, em 1988. Terceiro, embora seja uma confusão comum, o Watchmen nunca pertenceu ao selo Vertigo.

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    1. Caro Anónimo,
      Na releitura do meu texto à luz dos seus comentários, concordo com o 'excessivo? do "levou à criação", embora a minha ideia fosse "contribuiu para", por isso fiz a alteração.
      Quanto às outras duas questões, fiz a correcção.
      Obrigado pela leitura atenta!
      Boas leituras!

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  2. Tanta BD de qualidade em tão pouco tempo! Não há carteira que aguente...

    Estava a pensar em deixar esta colecção passar mas agora estou mesmo indeciso. Sendo uma obra de autor, preferia ter o Sandman completo na versão original (em inglês), mas já estive a ver os preços e comprar a colecção em hardcover em inglês seria bem bem mais caro...

    Nem sei se agradeça ou amaldiçoe a Levoir :)

    Filipe Simões

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    1. Geralmente os preços destas edições com os jornais não têm concorrência...
      E é aproveitar agora, porque quando chegarem às livrarias devem ser mais caros... Digo eu!
      Boas leituras!

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    2. Nas fnac tenho visto as edições Levoir ao mesmo preço de venda em quiosque(1).
      Sendo que à partida, sairão mais baratas pelos 10% de desconto e pela não aquisição do jornal.

      Pessoalmente, prefiro ir adquirindo em quiosque.
      Tenho a certeza de comprar (embora distante, há a possibilidade de esgotar em quiosque), apoio a edição conjunta editora/Público e contribuo para o comercio local em vez do conglomerado Fnac.

      (1) na verdade, representam quase 50% dos livros de BD dispostos nas prateleiras Fnac.

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