06/01/2017

2016: Crescimento e consolidação





Depois do bom momento editorial registado em 2015, 2016 surpreendeu por se ter ido ainda mais além. Um crescimento bem significativo que pode ser também sinónimo de consolidação, mais uma vez com a diversidade como mote principal.

Hoje, em Portugal, é possível comprar livros de super-heróis, séries americanas, manga, franco-belga, obras de autores portugueses, espanhóis, brasileiros…
Os segmentos de manga e séries (norte-americanas) em curso cresceram, as colecções com os jornais continuam a representar uma importante fatia das edições, embora menor relativamente ao todo, e as principais editoras aumentaram o volume de títulos, acentuando-se o aumento da oferta de comics em detrimento de franco-belga.

Segundo a contabilidade conjunta de As Leituras do Pedro e José de Freitas, em 2016 foram editadas 205 obras, mais 48 do que no ano transacto, o que representa um crescimento de cerca de 30 %. E fica aqui uma ressalva, nesta contabilidade, nas edições de 2015 e 2016 foram consideradas apenas as que tiveram distribuição efectiva, ou seja que estão facilmente acessíveis a qualquer potencial leitor…
A sua distribuição mensal, se por um lado revela uma maior tendência para editar nos segundos trimestres de cada semestre (coincidindo - ? - com os binómios Festival de Beja/Feira do Livro de Lisboa e AmadoraBD/Comic Con), por outro mostra uma regularidade editorial assinalável ao longo de todo o ano, sem meses 'mortos'.

Edições com o Público
Em 2016 houve 4 colecções (+2 parciais) com o jornal Público.
Três dessas colecções foram da ASA:
- Bernard Prince (iniciada em 2015; 4 volumes de um total de 12);
- Jonathan (10 volumes);
- Os Túnicas Azuis (ainda em curso, 8 volumes de um total de 15).
E as outras três da Levoir:
- Super-heróis DC (15 volumes);
- Novela Gráfica 2016 (15 volumes);
- Sandman (11 volumes).
A Levoir editou igualmente três outros títulos com o jornal: Chernobyl, a zonaA Casa e Alice num mundo real.
Assim, aproveitando esta forma mais favorável de distribuição, foram editados 65 títulos - o mesmo número que em 2015 - mas desta vez com um peso menor no total da edição, sensivelmente um terço.
Facilmente se comprova que num quarto das semanas do ano houve oferta de BD em duplicado com o jornal…
De destacar a edição de Sandman, não só por ser um clássico intemporal cujo alcance ultrapassa as fronteiras da banda desenhada, mas também por representar um alargamento do âmbito das colecções até agora realizadas com jornais.
As restantes colecções, pela possibilidade de descoberta de outras formas de narrativa sequencial ou pela edição de álbuns há muito desaparecidos ou nunca editados em português, revelaram escolhas criteriosas, embora seja de lamentar que a oportunidade não tivesse sido aproveitada para editar integralmente em Portugal Bernard Prince e Jonathan, duas séries marcantes e significativas no âmbito da BD franco-belga.
Quanto à colecção Super-Heróis DC, com diversos títulos recentes a par de alguns clássicos, foi certamente a que melhor vendeu.

Bancas
A Colecção Oficial de Graphic Novels da Marvel foi editada quinzenalmente pela Salvat em banca. Foram 26 títulos em 2016 (13% da edição total) o que, a par das colecções do Público e da distribuição neste canal de obras dos catálogos da G. Floy e da Devir, mostra a importância que ele tem actualmente para a venda de BD em Portugal, já que pelo menos metade dos títulos editados passaram por lá.

Origem das obras
Sem surpresa, assistimos ao crescimento da oferta proveniente dos Estados Unidos, origem de quase metade dos títulos editados em Portugal em 2016, mas dividida quase a meio entre super-heróis e outras obras, o que revela uma diversificação extremamente positiva e tem permitido o acesso ao catálogo de editoras importantes, como a Image e a Vertigo.
A BD franco-belga não atingiu sequer um quinto da oferta e foi maioritariamente disponibilizada em colecções de jornais, o que equivale a dizer que está praticamente ausente das livrarias (embora seja verdade que estas últimas acabam por chegar a algumas delas…).
A produção europeia publicada em Portugal ‘vale’ 38 % do mercado, valor no qual estão incluídos os 8% de edições de autores nacionais.
A edição de manga representa já uns interessantes 12 % do mercado, em número de títulos.
Sectorizando um pouco mais obtemos a seguinte divisão por origem (e por 'género' dentro das obras provenientes dos Estados Unidos):


Editoras
Em 2016 houve claramente três tipos de editora no mercado, em função do número de títulos que lançaram.
O primeiro grupo inclui: Levoir (45 títulos), Devir (37), ASA (27), Salvat (26) e G. Floy (19) – 75 % do total de edições.
No segundo, encontramos: Polvo (8), Planeta (7), Chili Com Carne (6) e Arte de Autor (5) – 13 %.
Finalmente, há um terceiro grupo com 20 editoras que lançaram entre 1 e 3 títulos, totalizando 25 obras – 12 %.
Comparando com as edições lançadas em 2015, salienta-se o crescimento acentuado da Salvat, Devir, G. Floy, Planeta e Arte de Autor e significativo, mas menor, da Levoir. Em sentido contrário, destacam-se a Kingpin Books, a Chili Com Carne e a Polvo.


Autores portugueses
Neste sector, verificou-se uma quebra acentuada, possivelmente condicionada pelo ritmo de produção dos próprios autores. A Kingpin Books foi a mais afectada, quase tendo ‘desaparecido’ do mapa editorial.
No total foram editados apenas 16 títulos de autores portugueses (8 % do total), pouco mais de metade dos 30 registados há um ano.

Séries, clássicos e integrais
A ‘saúde’ de um mercado também se mede pela oferta de séries completas ou em curso a par das edições originais, edições integrais ou de clássicos há muito desaparecidos ou nunca editados.
Neste último aspecto, se têm sido as colecções com os jornais a cumprir maioritariamente este papel (Sandman, Bernard Prince, Jonathan ou títulos soltos como Quarto Mundo e V de Vingança são de referencia obrigatória), este ano surgiram algumas edições relevantes directamente para livraria, como as edições integrais de Miracleman e Watchmen, duas obras maiores e intemporais.
Por outro lado, em 2016 completaram-se duas séries (Fatale e Sandman) e diversas outras, da ASA, Devir e G. Floy, tiveram publicação regular, o que deve contribuir para que os leitores confiem (de novo) nas editoras.
Finalmente, o lançamento, no final do ano, de um tomo recompilatório dos quatro primeiros TPB de The Walking Dead pode ser – seria bom que sim – a indicação que em breve poderemos ter edições integrais do género das que tanto ‘invejamos a França e Espanha…

Edição independente
Muitas vezes de difícil contabilização, pouco visível e limitada à venda de mão em mão, em festivais e numa ou noutra livraria a edição independente continua a existir.
Dos 84 (!) títulos contabilizados este ano, as edições variam entre a dezena e o milhar de exemplares, consoante falamos de fanzines ‘puro e duros’ ou de edições de apoio camarário.
Entre elas, pela qualidade das publicações, a que só falta a distribuição efectiva para poderem ser consideradas ‘profissionais’ e passarem para a ‘divisão’ acima, contam-se as edições da El Pep e da Escorpião Azul ou títulos como Apocryphus: Fantasia ou Zona Contacto, bem como a Revista do Clube Tex, que tem a particularidade de ser apenas para sócios.

Revistas
Em português, deixando de lado as revistas infantis com alguma banda desenhada, apenas se publicam os títulos Disney: carros, Comix, Hiper, Especial. Foi um ano conturbado por questões de organização interna da editora, que se revelou na diminuição do número de títulos disponibilizados: 46 contra 0s 89 do ano anterior, ou seja uma redução de quase 50 %. O final do ano parece apontar para uma retoma, que terá ou não confirmação em 2017.
Nas bancas, surgiram também, com surpreendente regularidade, 5 números do Jankenpon, um jornal com manga nacional.
Do Brasil continuaram a chegar as edições da Mythos – 49 títulos distribuídos por J. Kendall (3), Juiz Dredd (9), Tex (33) e Zagor (4) -, da Panini - 264 títulos distribuídos por DC Comics (61), Marvel (60) e Turma da Mônica (143) - e da Tambor - Minecraft (2). Mantém-se, infelizmente, a distribuição limitada e caótica que frequentemente torna impossível encontrar os títulos pretendidos.

Eventos
A continuidade do Festival Internacional de BD de Beja, firme num modelo que equilibra grandes nomes e autores novos, a especificidade da Mostra do Clube Tex, a inércia do AmadoraBD e o crescimento da Comic Con Portugal, são os destaques de um ano sem grandes surpresas, que trouxe a Portugal, entre outros, Paco Roca, Baudoin, Massimo Rotundo, Maurizio Dotti, Marcelo Quintanilha, José Aguiar, Chris Claremont, Achdé, Esad Ribic e… Juan Cavia!

Se 2016 é um ano para recordar pelas melhores razões, há indicadores que apontam que 2017 pode ser ainda melhor, com novo crescimento da oferta. Resta saber até onde o nosso mercado é capaz de ir e qual a sua capacidade de a absorver. A resposta cabe aos leitores.

(clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)

4 comentários:

  1. Uma pequena correcção, Chernobyl: A Zona, da levoir, foi um terceiro título 'pontual' que a Levoir editou com o Público, para além de A Casa e Alice.

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    1. Correcção feita! Obrigado pela leitura atenta.
      Boas leituras!

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  2. Anónimo7/1/17 11:13

    Bom Dia.

    Iria só propor uma correcção ao post do blog "2016: Crescimento e consolidação".

    A H-alt é uma publicação de BD em formato web e papel. Ao longo do ano de 2016 foram lançados vários números ( 4 no total). Participou em inúmeras iniciativas e festivais de BD.

    Acho que deveria ser indicada uma referência ao projecto no balanço do ano na secção independente.

    Deixo indicado o link do site http://h-alt.weebly.com/ .

    Cumprimentos.

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    1. Bom dia,
      Obrigado pela leitura.
      Os 4 números da H-Alt estão contabilizados nas 84 publicações independentes referenciadas. Como é evidente, era impossível destacá-las todas, até porque não era esse o propósito desse balanço.
      De qualquer forma, fica feita a referência aqui no seu comentário e faço um pedido: quando forem editados os próximos números da H-Alt, por favor envie a informação para pedro.cleto64(at)gmail.com para que possa ser feita a devida divulgação no blog.
      Boas leituras... e edições!

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