Humana ou de papel?
A dúvida levanta-se numa nova edição de J. Kendall.
As próximas linhas podem levantar algumas pistas sobre as histórias deste número. Leiam-nas por vossa conta e risco.
A primeira história, Vida
selvagem, leva Julia a uma zona desabitada, em busca de um pai que
desapareceu com dois filhos menores, a pedido da mãe que quer saber se as
crianças ainda estão vivas.
Um percurso de dias na natureza vai criar entre a
criminóloga e o seu guia uma proximidade inesperada mas não recusada e
proporcionar-lhes momentos especiais. A investigação vai assim cruzar-se com as
emoções e as dúvidas sobre o futuro de uma eventual relação.
As respostas, novamente cruzadas, encerram tanto quanto
abrem novas questões, num final - forçado por Berardi para não deixar Julia
ficar mal? – que mostra de forma brusca que já não há paraísos na Terra nem
inocentes à sua face…
Quanto a Coragem de
matar, leva-nos de novo ao convívio com Myrna, retomando a narrativa
deixada em suspenso no volume 118.
Sempre obcecada pela criminóloga, mergulhando
voluntariamente no mundo da prostituição, a serial killer vai revelar-se desta
vez menos forte do que pensava(mos) e ter de (re)enfrentar fantasmas do seu
passado que de alguma forma contribuíram para ser o que hoje sabemos.
Se os confrontos recorrentes entre heroína/vilã – mesmo que
estes termos soem neste contexto algo ocos – retiram a Julia algo da humanidade
que lhe (re)conhecemos e reforçam as suas características de simples – mas
complexa… - personagem de papel, é indiscutível que são sempre esperados
ansiosamente pelos leitores e Berardi consegue inseri-los perfeitamente na
linha temporal e narrativa da série.
[(Um)a prova da sua
popularidade, é a recente edição em Itália de Julia: Diario di una psicopatica!,
o primeiro tomo de uma colecção que compila, em volumes de maior formato,
coloridos e de capa dura, para distribuição em livrarias, as histórias
(co-)protagonizadas por Julia e Myrna.]
Voltando a Coragem de
matar, se toda a história merece leitura atenta, saliento as primeiras
páginas em que relato escrito e imagens enganam sucessivamente o leitor,
mostrando-lhe aparentemente o que na verdade não está nas páginas desenhadas,
num longa sequência de ilusões criadas por Berardi numa magnífica demonstração
de técnica narrativa.
J. Kendall #122
Aventuras de uma criminóloga
Histórias originalmente publicadas em Julia #138 e #139
Vida selvagem
Berardi e Mantero (argumento)
Enio (desenho)
Coragem de matar
Berardi e Mantero (argumento)
Zuccheri (desenho)
Mythos Editora
Brasil, Maio/Junho de 2016
135 x 180 mm, 260 p., pb, capa mole, mensal
R$ 23,90 / 10,00 €
(texto publicado originalmente no Tex Willer Blog; clicar nas imagens para as apreciar em toda a sua extensão)
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