12/04/2017

Amor louco

Uma animada loucura




Se uma assumida diversidade – com o inevitável desequilíbrio que lhe vem associado - é uma das marcas da colecção da Levoir No Coração das Trevas DC, em curso com o jornal Público, ela implica que a par de títulos de super-heróis ‘puro e duros’ - especialmente apreciados pelos fãs do género em geral e da DC Comics em particular - ela apresente títulos que serão apetecíveis para os ‘leitores comuns’.
Depois de O Grande Golpe de Selina, este ‘desiquilibrado’ Amor louco protagonizado pelo apaixonado casal constituído pelo Joker e Harley Quinn , é outro exemplo.
As três histórias que compõem este livro nasceram do sucesso que teve a (excelente) série televisiva de animação Batman, The Animated Series, em meados dos anos 1990, e dela herdaram não só grafismo ‘abonecado’ mas também o ritmo acelerado, a dinâmica, a leveza temática e, em especial no relato de abertura, o humor… também ele louco.
Humor bem conseguido que é definitivamente uma das marcas distintivas da história, centrada no desejo de vingança em relação ao Batman que consome o duo protagonista, como mostra de imediato o intróito que acompanha o comissário Gordon numa visita de rotina ao dentista. Depois, ao correr do argumento, há igualmente oportunidade de recordar como o amor (por um) louco transformou a dr.ª Harleen Quanzel na Harley Quinn.

De forma contrastante – com o grafismo, a (aparente) leveza temática e o humor – o relato, num segundo nível de leitura, apresenta um tom surpreendentemente adulto, quer na doentia obsessão da Harley pelo Joker, quer na deste pelo Batman, quer, também, pelo (extenso) jogo de sedução desenvolvido pela antiga psiquiatra no segundo terço da história.
Sem humor, o mesmo tom adulto revela-se na violência (não tão) subliminar da introdução de Demónios, que coloca Batman frente a frente com Ra’s Al Ghul, agravado por todo o peso que a temática ‘atentados’ adquiriu desde o 11 de Setembro de 2001 – ainda inexistente quando esta história foi escrita e desenhada. As diversas leituras do pesadelo de Batman, que ocupa várias páginas mudas mas intensas, acentuam-no igualmente, num relato que primordialmente assenta no sobrenatural.

O humor louco – a par da sensualidade inocente (?) da Harley e da Hera – regressa no conto de Natal (!) que encerra este volume, tão absurdo no motivo que está na base do plano das duas para controlarem Bruce Wayne, quanto divertido pela forma como ele se desenvolve.

É esta diversidade que torna tão apetecível este volume, unido pela escrita de Paul Dini, despojada de todos os pormenores desnecessários e centrada apenas no que faz avançar a história, e pelo grafismo ‘animado’ de Bruce Timm – de que eu gosto tanto - que confere uma dinâmica intensa e acelerada à leitura – muito próxima da imposta pela animação – e permite algumas ‘loucuras’ mais arrojadas em termos de planificação, de enquadramento de vinhetas e mesmo de algumas soluções narrativas que seriam incoerentes se o traço adoptado fosse outro.

Não consigo encerrar sem um reparo: se a questão da ausência de textos de enquadramento – de que eu também sinto falta - já foi bastante debatida, um outro aspecto chocou-me neste livro: a capa. Não pondo em causa a sua qualidade, nem sequer uma eventual ligação com a temática da primeira narrativa, a verdade é que é enganadora em relação ao conteúdo gráfico do livro – aspecto que está longe de ser de somenos como penso que atrás expliquei…

Joker e Harley Quinn: Amor Louco
Inclui igualmente Demónios e A Harley e a Hera
Paul Dini (argumento)
Bruce Timm (desenho)
Levoir/Público
Portugal, 13 de Abril de 2017
170 x 260 mm, cor, cartonado
9,90 €


(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

3 comentários:

  1. Ao menos, o desenhador é o mesmo ao longo do livro?
    Olhando apenas para a capa e para as páginas aqui espostas, realmente a capa aponta para um desenho "adulto" e as páginas para um desenho mais "caricatural/infantil"....

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  2. Filipe Melo12/4/17 22:55

    Esta capa é do Alex Ross e é muito boa só que... é de outro livro. A capa original teria ficado perfeita. Com certeza consideraram que esta venderia mais. Do pontos de vista artístico fica uma óbvia amálgama de patetice mas não é a primeira vez que a Levoir privilegia a moeda à obra, nem será porventura a última.

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    1. A capa é boa, sim, e até tem algo do espírito da primeira história, mas graficamente não tem nada a ver com a edição...
      Boas leituras!

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