Uma animada loucura
Se uma assumida diversidade – com o inevitável desequilíbrio
que lhe vem associado - é uma das marcas da colecção da Levoir No
Coração das Trevas DC, em curso com o jornal Público, ela implica que a
par de títulos de super-heróis ‘puro e duros’ - especialmente apreciados pelos
fãs do género em geral e da DC Comics em particular - ela apresente títulos que
serão apetecíveis para os ‘leitores comuns’.
Depois de O
Grande Golpe de Selina, este ‘desiquilibrado’ Amor louco protagonizado pelo apaixonado casal constituído pelo
Joker e Harley Quinn , é outro exemplo.
As três histórias que compõem este livro nasceram do sucesso
que teve a (excelente) série televisiva de animação Batman, The Animated Series, em meados dos anos 1990, e dela herdaram
não só grafismo ‘abonecado’ mas também o ritmo acelerado, a dinâmica, a leveza
temática e, em especial no relato de abertura, o humor… também ele louco.
Humor bem conseguido que é definitivamente uma das marcas
distintivas da história, centrada no desejo de vingança em relação ao Batman
que consome o duo protagonista, como mostra de imediato o intróito que
acompanha o comissário Gordon numa visita de rotina ao dentista. Depois, ao
correr do argumento, há igualmente oportunidade de recordar como o amor (por
um) louco transformou a dr.ª Harleen Quanzel na Harley Quinn.
De forma contrastante – com o grafismo, a (aparente) leveza
temática e o humor – o relato, num segundo nível de leitura, apresenta um tom
surpreendentemente adulto, quer na doentia obsessão da Harley pelo Joker, quer
na deste pelo Batman, quer, também, pelo (extenso) jogo de sedução desenvolvido
pela antiga psiquiatra no segundo terço da história.
Sem humor, o mesmo tom adulto revela-se na violência (não tão)
subliminar da introdução de Demónios,
que coloca Batman frente a frente com Ra’s Al Ghul, agravado por todo o peso
que a temática ‘atentados’ adquiriu desde o 11 de Setembro de 2001 – ainda
inexistente quando esta história foi escrita e desenhada. As diversas leituras
do pesadelo de Batman, que ocupa várias páginas mudas mas intensas, acentuam-no
igualmente, num relato que primordialmente assenta no sobrenatural.
O humor louco – a par da sensualidade inocente (?) da Harley
e da Hera – regressa no conto de Natal (!) que encerra este volume, tão absurdo
no motivo que está na base do plano das duas para controlarem Bruce Wayne,
quanto divertido pela forma como ele se desenvolve.
É esta diversidade que torna tão apetecível este volume,
unido pela escrita de Paul Dini, despojada de todos os pormenores
desnecessários e centrada apenas no que faz avançar a história, e pelo grafismo
‘animado’ de Bruce Timm – de que eu gosto tanto - que confere uma dinâmica
intensa e acelerada à leitura – muito próxima da imposta pela animação – e
permite algumas ‘loucuras’ mais arrojadas em termos de planificação, de
enquadramento de vinhetas e mesmo de algumas soluções narrativas que seriam
incoerentes se o traço adoptado fosse outro.
Não consigo encerrar sem um reparo: se a questão da ausência
de textos de enquadramento – de que eu também sinto falta - já foi bastante debatida,
um outro aspecto chocou-me neste livro: a capa. Não pondo em causa a sua
qualidade, nem sequer uma eventual ligação com a temática da primeira
narrativa, a verdade é que é enganadora em relação ao conteúdo gráfico do livro
– aspecto que está longe de ser de somenos como penso que atrás expliquei…
Joker e Harley Quinn: Amor Louco
Inclui igualmente Demónios e A Harley e a Hera
Paul Dini (argumento)
Bruce Timm (desenho)
Levoir/Público
Portugal, 13 de Abril de 2017
170 x 260 mm, cor, cartonado
9,90 €
(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda
a sua extensão)
Ao menos, o desenhador é o mesmo ao longo do livro?
ResponderEliminarOlhando apenas para a capa e para as páginas aqui espostas, realmente a capa aponta para um desenho "adulto" e as páginas para um desenho mais "caricatural/infantil"....
Esta capa é do Alex Ross e é muito boa só que... é de outro livro. A capa original teria ficado perfeita. Com certeza consideraram que esta venderia mais. Do pontos de vista artístico fica uma óbvia amálgama de patetice mas não é a primeira vez que a Levoir privilegia a moeda à obra, nem será porventura a última.
ResponderEliminarA capa é boa, sim, e até tem algo do espírito da primeira história, mas graficamente não tem nada a ver com a edição...
EliminarBoas leituras!